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movimentos high end outros aspectos

Iniciado por GuilhermeAzeredo, 04 Março 2015 às 09:53:23

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GuilhermeAzeredo

Bom dia galera. Hoje trago um questionamento que me surgiu recentemente, após ter adquirido um Omega AT calibre 8500 (aproveito para agradecer ao Mac mais uma vez!), e diz respeito à fiabilidade e tecnologia de calibres indiscutivelmente assim caracterizados, tais como o 3135 da Rolex e o seu rival, por assim dizer, o 8500 da Omega.

  Acho que, após o excelente tópico sobre acabamento de movimentos, trazido de forma primorosa pelo Flávio, todos nós pudemos perceber o enorme hiato existente entre as manufaturas ditas "high end" em face das manufaturas de produção em massa, tais como a Rolex e a Omega, no que diz respeito aos detalhes de acabamento. Isso não se discute!!

  Mas meu questionamento é o seguinte: E quanto a fiabilidade dos movimentos? E quanto à tecnologia utilizada? E a precisão? Haveria uma discrepância tão grande quanto a pertinente aos detalhes de acabamento manual (high ends)contra o industrial (produção em massa)?
 
Como seria a comparação (se é que é possível) entre um Calibre 324 da Patek contra um 3135 da Rolex ou 8500 da Omega ou mesmo entre o 3120 da Audemars Piguet e os últimos dois, no que diz respeito, por exemplo, à tecnologia empregada em seu escapamento, bem como fiabilidade e tecnologia empregada neles.

Pois a Rolex usa espirais Breguet, e balanço free sprung, ajuste Microstella, assim como a Omega utiliza o famoso escapamento co-axial e sua espiral de silício, o que, no meu leigo entender, parecem ser coisa de primeira linha :D

Bem galera, agradeço de antemão aos que participarem do tópico!!

Grande abraço a todos!

Guilherme



 

Adriano

Humm... Eu não conheço o suficiente do PP 324 para falar sobre ele... Eu tenho em minha mente que a Patek sempre está alguns "clicks" acima do que a cerca... Mesmo esquecendo-se de coisas como rotor em ouro... mesmo deixando isso de lado... e acho que isso deve ser deixado de lado nessa discussão... pois não é um aprimoramento técnico... ainda assim eu creio que um Patek 324 deva estar alguns "clicks" sobre um Rolex 3135 e Omega 8500...

Tenhamos em mente que é uma comparação justa, pois ainda assim o PP 324 é um mecanismo de entrada da Patek, é o mais "massificado" deles... Ele mesmo nem se compara à um Patek mais sofisticado... ele é um "low-end" dentro da Patek, digamos assim...

Já sobre o AP 3120, que conheço bem mais, já não tenho tanta certeza... de estar acima dos 3135 e 8500... Não estou seguro que esteja. Talvez em "craftmanship", esteja um mero "click" acima... mas em desempenho, certamente não.

Uma das questões aí é que tenho minhas dúvidas se o Omega é uma comparação "leal". Todos esses mecanismos têm desempenhos exemplares, mas a espiral de silício tem um peso tão grande na consistência dos desempenhos dos 8500... Quero dizer, com tudo, balanço de inércia variável, como todos têm, e espiral de Breguet... ainda assim, se você testar 10 iguais, vai encontrar ali um, dois, três ou até quatro que não estão assim exemplares... E a com a bendita espiral de silício isso parece que não acontece. Você testa 10 e parecem 10 clones... Às vezes parece que a diferença de resultado de 10 calibres 8500 testados em sequência vai ser tão pequena... não maior do que se pegar o mesmo 8500 e testar 10 vezes seguidas (nunca um teste dá idêntico ao outro)...

Em fiabilidade... Também não conheço o PP 324 nesse sentido, só os outros... Fico com o Rolex...

Abraços!

Adriano

GuilhermeAzeredo

  Pois é Adriano, parece-me, em um primeiro momento, que a grande diferença entre tais calibres reside mais na arte de seus acabamentos, com processos manuais, e no material empregado em determinados componentes (rotores em ouro 24k, por exemplo), do que na tecnologia empregada no movimento, o que, de fato, acaba por resultar em melhor precisão e resistência dos calibres!

E nesse ultimo aspecto, esses calibres me parecem ser bem equivalente, com processos semelhantes para problemas semelhantes que garantem, cada qual com seu sistema, bons resultados!

Assim, aparentemente, não existiria tanta diferença técnica entre tais calibres, como existe quanto a questão dos detalhes de acabamento!

Abraços! E obrigado pela participação!

Guilherme

flávio

#3
Guilherme, vou tentar ser objetivo e, quiça, lançar questionamentos para outras discussões. No passado, os reis da cronometria foram os Ingleses. E o acabamento VISUAL de um relógio inglês, mesmo dos mestres como Graham, Arnold, Earnshaw e, depois, os construtores profissionais em massa de cronômetros, como Dent, era espartano se comparado aos suíços. Os suíços é que primavam por frescura visual nos relógios. Veja, não estou dizendo que os ingleses não fizessem isso, mas que a escola era outra. Inglês queria o relógio funcionando da melhor maneira possível. Entre um patinho feio fazendo uma marcha constante de um segundo ao dia e outro, cheio de firulas, fazendo 1.1, os ingleses escolheriam o primeiro.

Mas os suíços, depois que dominaram todo mercado, já nos fins do século XIX, incorporaram às suas belíssimas criações o desenvolvimento voltado à cronometria, sobretudo nas ligas, projetos, etc, usados em partes funcionais.

Se você observar as propagandas das marcas até os anos 60, a ênfase era no relógio mais preciso do mundo. Ninguém falava em acabamento, isso era um plus. O que interessava mesmo era o relógio botar para quebrar nas competições de observatório, até mesmo porque os movimentos, para o consumidor, sequer ficavam expostos com um cristal de safira atrás. Portanto, esse lance de acabamento primoroso à mostra é muito mais algo moderno do que do passado, muito embora as fábricas não buscassem se descurar disso.

O acabamento de um Rolex no movimento não é lá uma Brastemp, mas como já ressaltei aqui, eles possuem UM PUTA ESCAPAMENTO que mantém excelente precisão constante e é muito robusto. Se existe uma marca que fez toda sua história no ACABAMENTO FUNCIONAL, é a Rolex. Aliás, os rolequeiros provavelmente não gostariam de ouvir isso, mas a filosofia da Rolex até algum tempo atrás era bem parecida com a da atual Grand Seiko: olha, nós fazemos coisas clássicas, com acabamento de caixa perfeito, porque é isso que todo mundo vê, e... Fazemos os relógios mecânicos mais precisos do mundo, e foda-se o acabamento do movimento (que no caso da Seiko, só é primoroso mesmo nas partes funcionais, leia-se, escapamento).

Mas voltando ao que perguntou. Eu ouso dizer que numa produção em massa e feita por robôs, se extremamente bem feita como numa Rolex ou Omega, a tendência é o relógio ser melhor tecnicamente falando. Cara, atingimos um nível de precisão, sobretudo com técnicas de impressão de circuitos utilizadas em peças metálicas, como a roda de escape coaxial, sequer imaginado há uns 30 anos. Sequer imaginado! Estou lendo a biografia do Daniels e, acredito, apesar de ele ser o mestre do "tudo feito a mão", que ele deve ter ficado chocado até onde sua tecnologia chegou.

Os movimentos Audemars Piguet foram citados acima como exemplo de bom acabamento e de funcionalidade nem tanto. Olha, o Adriano tem mais embasamento do que eu porque está na prática, eu apenas na teoria, mas ele talvez possa confirmar: o 3120 da AP tem um histórico de defeitos de funcionamento que só posso atribuir a algum erro de projeto. De que adianta um troço bonito que não funciona? Citaram a Patek. Ora, hoje tive e mãos um Omega AT calendário anual e... Tudo se ajusta nele pela coroa, enquanto um Patek precisa de "palitinhos" de dente no seu calendário anual. De que adianta um troço ultra bem feito nada funcional?

Fabricar movimentos protótipos e vendê-los depois de fazer apenas uns 50, a centenas de milhares de dólares para uma pessoa é fácil. Difícil é fabricar um movimento trator que funcione do modo que esperamos em todo relógio, abstraindo se mecânico ou não: sem dar pau, com manutenção em prazos longos e com boa precisão. Isso é muito difícil.

Talvez por isso a Rolex vá atualizar os 3XXX até o limite, como a Porsche fez com seus obsoletos motores a ar, até não dar mais. Aí mudarão, para algo refrigerado a água, algo que a Omega já fez. Tecnicamente falando, no mercado atual os movimentos da Omega estão num patamar superior, e falo isso com tranquilidade. A única coisa que faltava à Omega era a confirmação de fiabilidade de seus novos projetos e, depois de alguns anos, parecem ter se encontrado. Mas a Rolex, já que citaram o movimento deles, certamente não irá ficar para trás e tirará, como vem tirando a conta gotas nas atualizações TÉCNICAS, não estéticas de seus movimentos, um coelho da cartola. Ninguém quer ficar para trás. Como diz um chapa meu de BH, "ninguém quer ser feio. Você quer?"


Flávio

Alberto Ferreira

Muito boa a sua análise, Flavio.

Como sempre você procura fazer, quando analisa a questão pela ótica (ou vertente) da história, muita coisa pode mesmo ser melhor entendida.
E com ela posições "isentas" podem ser firmadas,... ...ou pelo menos tentadas.  ;)

E, desnecessário dizer, mas eu digo...
Claro que as marcas citadas (cada uma do seu modo) naturalmente têm os seus adeptos, e formam quase que verdadeiras "confrarias" que as defendem...
...com mais ou com menos paixão.

Mas não há como "discordar" do que você disse.
É isso aí!  8)

Abraços!
Alberto

GuilhermeAzeredo

Obrigado pela análise Flávio! Sempre muito pertinente, imparcial e de extrema valia!

  Realmente as manufaturas ditas "high end" se voltam muito mais para a seara da estética e arte na fabricação de seus movimentos, criando calibres de inegável beleza, sem ainda descuidar de aprimoramentos técnicos.

O que me faz pensar aqui com meus botões...

Será que um dia, como bem ponderou o Flávio, as máquinas conseguirão obter o mesmo primoroso acabamento de pontes chanfradas à mão (Como chanfros internos, por exemplo) a um décimo dos custos e tempo que tais acabamentos necessitam? Ou seja, veremos a massificação de acabamentos cada vez mais primorosos, a ponto de não haver mais distinção entre o "feito á mão" e o feito pela máquina?

E se esse dia chegar, (se chegar) será que não passaremos a apreciar, platonicamente eu sei, as imperfeições que, de certa forma, comprovam ter determinado movimento passado pela mão de um "habilidoso" relojoeiro? Pois, a final de contas, algumas marcas tem de se destacar de outras!

Bem, talvez esse dia chegue, e novos padrões serão necessários para distinguir as manufaturas high end das demais...

Abraços!

Guilherme


Alberto Ferreira

Caro Guilherme,
Se você me permite citar, e de certa forma "grifar", o que acaba de nos dizer...  ::)

Citação de: GuilhermeAzeredo online 04 Março 2015 às 18:51:24
...

Será que um dia, ...
... veremos a massificação de acabamentos cada vez mais primorosos, a ponto de não haver mais distinção entre o "feito á mão" e o feito pela máquina?
...


Pois é...
Pergunta intrigante e instigante.

Mas,...


Citar
...
E se esse dia chegar, (se chegar) será que não passaremos a apreciar, platonicamente eu sei, as imperfeições que, de certa forma, comprovam ter determinado movimento passado pela mão de um "habilidoso" relojoeiro?
...


Pois é (II)...  ::)

Justamente por isso.
Eu acredito piamente que esta questão seja uma contraposição à primeira aí acima.  ::)

Um quadro de um artista não possui pinceladas uniformes.
São estas "imperfeições" que, se abolidas por uma máquina pintora, (sempre) farão a diferença.

Alberto

PS:
A menos que as máquinas sejam programadas para replicar defeitos...  ::)
Mas aí, se a coisa for assim deliberada, nós talvez já estaríamos entrando (um tanto quanto perigosamente) na "categoria" das falsificações.  ;)

Ou não?
:D

flávio

Mais alguns conceitos. Os mecanismos de contagem de tempo de um relógio mecânico normalmente são de forma circular, "o balanço". O tempo é "mantido" através das oscilações do balanço, que devem ser isócronas, ou seja, tanto percorrendo um arco curto quanto longo, devem ocorrer no mesmo tempo. Parece fácil obter isso, mas não é. O balanço deve ter essa marcação de tempo "transferida", falando de uma forma bem tosca, para o movimento, assim com sua oscilação deve ser mantida, porque senão ele para pelo simples atrito, assim como um "ioiô" balançando na mão como um pêndulo de relógio para se não impulsionado de tempos em tempos. Isso é função do escapamento.

A evolução do relógio mecânico é basicamente a evolução do escapamento. Buscou-se sempre evitar a interferência de coisas que podiam atrapalhar a contagem do tempo feita pelo balanço do resto das "peças" do relógio. Ou seja, quanto mais tempo o balanço permanecesse "balançando" sem ser "tocado" por outra parte do relógio, melhor. Nos escapamentos de cilindro, por exemplo, este "destacamento" do balanço era nulo, já que sempre em contato com o resto do relógio. E tornou-se quase completo nos escapamentos de cronômetro, onde o balanço gira sem qualquer interferência pela maior distância possível do seu arco, só recebendo um peteleco de impulso a cada oscilação completa e, por sua vez, liberando a rodagem também num peteleco uma vez a cada oscilação.

Portanto, do ponto de vista técnico, o que os projetistas sempre buscaram foi a mínima interferência do atrito da rodagem, do escapamento, de tudo, no balanço. Isso é questão de projeto. Não vou discutir, portanto, porque o escapamento coaxial, a título de exemplo, é melhor do que o de âncora, mas já devem ter percebido que é tudo uma questão de "menor interferência no balanço".

Mas enfim... Entre dois relógios absolutamente iguais, o polimento em peças fundamentais que geram atrito é uma questão de desempenho, não estética.

Talvez por isso os japoneses, que são tão preocupados com a performance dos seus produtos e tão ligados a robôs para fazer melhor coisas que humanos realizam, façam o acabamento FUNCIONAL dos seus Seiko GS a mão e, paradoxalmente, o ESTÉTICO a máquina.

Num Seiko GS, todos os pivôs são polidos a mão, porque um pivô extremamente "liso" gera menos atrito e, consequentemente, melhor performance. Os japas, então, devem acreditar que um humano realiza polimentos de pivôs melhor do que máquinas. Porém, realizam o acabamento estético de seus relógios com robôs! Vá entender... Fato é que o acabamento estético de movimento (porque o de braceletes e caixas é feito a mão, vá entender...) é meio "frio", conquanto bem bacana.

Enfim, citei este exemplo apenas para indicar que muitas vezes os fabricantes fazem coisas nos seus relógios que sequer são vistas - como polir manualmente pivôs - , que indicam uma busca por precisão TÉCNICA, não estética. Mas em regra, eu ouso dizer que um robô consegue fazer peças "técnicas", por assim dizer, mais precisas do que a mão humana.


Flávio

Lupferreira

Mai uma lição do Flávio. Obrigado Mestre!!!

GuilhermeAzeredo

Muito bem observado  Mestre Alberto!!

  Pois é, Lup. O Flávio sempre nos brinda com seu conhecimento no assunto! Sem contar a forma quase didática que o faz, deixando tudo mais simples de compreender!!


Abraços!

Guilherme

aguiar

                Adriano e Flávio sempre nos brindando com textos de alto nível.

                      Valeu!!! Abs

automatic for the people

Flavio e Adriano, os caras dos textos high end do FRM!
Abs
Alfredo