Adriano, a transferência de bens móveis, e não é só no Brasil, mas no mundo inteiro, opera-se com a simples tradição, ou seja, bem para lá, grana para cá, o negócio está feito. E há uma razão lógica para isso: se fosse necessário documento para transferir bens móveis, assim como seu registro público (como ocorre no caso dos imóveis), todo comércio mundial estaria inviabilizado, porque desde que Adão rodava peão a coisa funciona na base do "dinheiro para lá, coisa para cá".
Com os carros deveria ser a mesma coisa, mas como um carro não é um bem móvel que passa "despercebido", por assim dizer, há uma certa burocracia envolvida. Mas vejam só: a burocracia para os carros é meramente administrativa, porque ainda que você não tenha o DUT no seu nome, mas tenha pago pelo carro e este seja "seu", seu é. Tanto é que o povo costuma transferir o carro passando procurações a torto é à direito o que, aliás, falando na minha prática diária como promotor, gera uma confusão danada! Às vezes o carro já foi vendido tantas vezes (e o DUT não assinado corretamente e a transferência registrada no Detran), que perdemos um tempo INACREDITÁVEl, em casos de estelionato, refazendo a cadeia de domínio.
Portanto, se você pagou o preço JUSTO - e isso é importante... - num relógio e a negociação teve toda aparência de normalidade, o bem é seu, ainda que depois - acreditem se quiser - descubra-se que você adquiriu um troço roubado. Ora, você não é obrigado a checar se um bem móvel (e isso impediria também toda negociação de dia a dia) é ou não produto de ilícito. Você não pode, ÓBVIO, agir de má fé. Por exemplo, você não pode comprar um Rolex Sub, que notoriamente tem preço de mercado de uns 15 a 20 contos por uns 2 mil reais e depois alegar que não sabia. Há até crime para isso, chama-se receptação culposa.
O problema é que tudo isso gera aporrinhação. Por exemplo, imagine você comprar um Rolex pelo preço justo, de um cara conhecido e, lá pelas tantas, essa bagaceira ser "retida" pela Rolex? Pior: polícia entrar no meio te enchendo o saco, querendo saber como você o comprou?
Em síntese, como já foi dito aqui, o que vale é se prevenir. Se algo der errado só discutindo no judiciário, e isso é uma aporrinhação.
Flávio