Somente parte do clima influencia. Entendo por clima como um conjunto de condições atmosféricas de uma região. Isso envolve pressão, umidade, vento, e temperatura, sendo que só esta última pode afetar a precisão de um relógio, mecânico ou quartzo.
Sendo o relógio mecânico feito de peças metálicas, todas estão sujeitas a dilatação e contração térmicas. Enquanto o cristal de quartzo dos relógios eletrônicos tem sua frequência de oscilação alterada pela temperatura.
Mas dentro da gama de temperaturas a qual um relógio mecânico é normalmente submetido, a única influência relevante da temperatura é sobre o balanço e principalmente a espiral. O efeito sobre todos os outros componentes é desprezível.
Os balanços modernos, monometálicos, e principalmente os de alta qualidade, feitos de Glucydur, são praticamente inafetáveis pela gama de temperaturas normais de uso. O problema ainda reside sobre a espiral, que não apenas dilata ou se contrai, alterando seu comprimento útil, e portanto, alterando justamente a sua frequência de vibração, como também tem o seu módulo de elasticidade alterado.
A grande diferença entre as espirais de melhor qualidade é justamente uma superior resistência às flutuações de temperatura e por vezes uma maior resistência a campos magnéticos. O que quero dizer com isso é que a maior diferença entre espirais de melhor qualidade é mais com relação à temperatura que ao magnetismo.
As espirais de boa qualidade são feitas de ligas, de composição ou pelo menos de "receita" frequentemente secretas, como o caso da Nivarox. Foi justamente o desenvolvimento da liga Nivarox (do alemão Nicht Variable Oxydfest — não variável e inoxidável) que representou a grande evolução nos materiais para espirais. Trata-se de uma liga composta basicamente por níquel e ferro com traços de cromo, titânio, berílio, alumínio, manganês e silício, com excelentes características: é inoxidável, tem baixíssimo coeficiente de dilatação térmica e alta resistência a campos magnéticos. Foi o surgimento da Nivarox que permitiu o uso de balanços monometálicos lisos, como os de Glucydur, menos custosos e mais fáceis de produzir que os antigos balanços de compensação (bimetálicos aparafusados, por exemplo), além de mais estáveis (com relação ao balanceamento) e dispensando ajustes.
As espirais de Nivarox, praticamente padrão em relógios de boa qualidade desde a década de 1950, são chamadas de autocompensadoras graças a um fenômeno chamado magnetostricção. Certos metais que compõem a liga Nivarox possuem uma característica magnética interna que se anula e não se manifesta externamente como magnetismo. No entanto, esse magnetismo interno é influenciado pela variação de temperatura, alterando a resistência do material e, mais especificamente, o módulo de elasticidade da espiral. Esse fenômeno age de maneira contrária à temperatura, de modo que, com um aumento da temperatura, a espiral se torna mais rígida, compensando a eventual dilatação com o aumento da temperatura; com a queda da temperatura, a resistência da espiral diminui, compensando sua conseqüente contração.
As espirais Nivarox são produzidas com algumas categorias de qualidade diferentes, em que o coeficiente térmico é o maior diferencial, variando entre +/- 3,5 segundos por grau Celsius em 24 horas, nas mais simples, até +/- 0,6 segundos por grau Celsius nas de melhor qualidade.
Para que esse fenômeno ocorra perfeitamente, é fundamental que a espiral esteja desmagnetizada. É justamente o magnetismo de fontes externas o grande vilão das espirais atuais. A busca recente foi justamente por espirais de materiais que possuam boas características mecânicas (elasticidade preservada ao longo do tempo), térmicas (baixo coeficiente de dilatação) e químicas (inoxidável), e ainda sejam antimagnéticas, e foi justamente aí que se encaixaram as espirais de silício.
Abraços!
Adriano