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O estado atual da indústria de relógios

Iniciado por admin, 15 Março 2016 às 14:51:00

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flávio

O moderador da Zenith no The Purists postou uma análise longa do que ele acha do mercado atual, com a qual concordo quase que integralmente. O texto é denso e precisa ser lido com cuidado. Recomendo aos que não falam inglês a tradução através do Google Translator que, é claro, coloca tudo no "Mr Yoda" style, mas dá para o gasto...

O povo costuma ressaltar - e eu o fazia até alguns anos atrás - que a grande causa da quebradeira suíça nos anos 70 fora a invenção do relógio a quartzo. A mudança de paradigma, porém, responde apenas pela metade do que aconteceu. Na verdade, a grande causa da quebradeira naquela época foi a repentina desvinculação da paridade dólar/yen/ouro, o que ocasionou uma desvalorização de moedas em face ao Franco suíço. Os produtos suíços, portanto, de uma hora para outra passaram a ser pouco competitivos. E vejam, a quebradeira foi repentina...

Atualmente, o Franco mais uma vez encontra-se valorizado em relação ao dólar e, para dizer a verdade, ao que realmente interessa, o euro. Não precisa ir longe... Eu comprei na Suíça há alguns anos um Rolex Milgauss que, com os descontos, saiu por cerca de 6000 francos, o que representava, na época, cerca de uns 20% a menos do que o valor em dólar, equivalendo-se ao euro. Hoje esses 6000 corresponderiam a mais valor em euro e, pior, a Rolex SUBIU seus preços.

A saúde da Rolex não costuma servir muito de parâmetro, pois eles estão sozinhos, independentes, e vendem muito. E não costumam divulgar balanços...

Mas em média toda a indústria sofreu revezes este ano na casa dos 10%. Algumas fábricas, como já discutimos aqui, BAIXARAM seus preços, com a Zenith.

Outras, passaram a oferecer relógios em aço, antes somente vendidos em ouro, ou modelos mais acessíveis de entrada, conquanto apresentando qualidade superior, a exemplo da Montblanc.

Segundo o articulista, a salvação do mercado poderia advir em:

1) Criar inovações mecânicas de fato relevantes, que tornassem o relógio de corda interessante novamente. Concordo, mas ao contrário de turbilhões que dão saltos mortais, acredito que isso deve vir em um caminho: DURABILIDADE DO APARATO, afastando o máximo possível o consumidor de revisões chatas. As empresas tem desenvolvido materiais para isso, tanto é que várias aumentaram suas garantias, confiando que o relógio não vá dar pau antes do tempo.

2) Apresentar relógios de custo benefício imbatível. Concordo também. Eu sinceramente não sei de onde tiram esses preços para os relógios. A impressão que tenho é que jogam na sorte e o número que cai determinam para o relógio. Há preços surreais aí e, conquanto seja difícil determinar com muita certeza, num mercado "emocional", o que vale e o que não vale, acho que todos concordam, por exemplo, que um GP Laureato de aço com um movimento "pedestrian" não vale 13 mil dólares...

3) Juntar-se à moda do smart watch. Eh... Eu sei lá se isso pode dar certo. Ainda acredito que tais produtos são descartáveis e não possuem nada a ver com o que a indústria suíça faz, mesmo as abertas a esse tipo de inovação, com a Tissot.

4) Melhorar a experiência de compra para o consumidor. Concordo e venho falando isso há séculos. As empresar devem colocar na sua cabeça DE UMA VEZ POR TODAS que o pré venda, venda e pós venda de um produto de luxo tem que ter algo diferenciado para justificar ao consumidor ele ter gasto uma fábula de dinheiro na aquisição do produto. Eu já comprei relógios e outros troços de luxo que, convenhamos, os caras pareciam estar vendendo bananas na feira.

5) Considerar outras formas de retorno financeiro, sobretudo EM REVISÕES, no pós venda. Mas vejam: isso não quer dizer que tenham que AUMENTAR os preços dos serviços, pelo contrário. A abordagem deve ser em AUMENTAR o volume de serviços realizado e ganhar em volume, não em uma revisão. Esse, como já ressaltei aqui umas mil vezes, é o calcanhar de aquiles da indústria. Os filhos de quenga gastam zilhões em propaganda e venda, mas esquecem-se que se o consumidor ficar PUTO DEPOIS, nunca mais irá comprar produtos da marca. Eu acho que o serviço de pós venda e assistência técnica das empresas tende a ser caro, demorado e nem sempre bom. Pode parecer utopia, mas o serviço deveria ter preços razoáveis, ser rápido e ser SEMPRE bom.

Enfim, deixo aqui tais considerações para reflexão.

O texto do cara:

http://www.watchprosite.com/?page=wf.forumpost&fi=17&ti=1005858&pi=7082793


Flávio

wrocha

Excelente tópico, Flávio.

Além do que você (muito) bem pontuou, tem outro elemento a ser levado em conta.

As gerações que agora começam a ganhar seu dinheiro e logo vão poder comprar relógios não tem as mesmas referências que a nossa, assim como não tivemos as mesmas referências que as anteriores. Se no meu ajuntamento eu não vejo problemas em ter relógios a quartzo, meus filhos talvez não vejam inconvenientes em ter telefones (ou o que quer que venha a existir mais ou menos nessa função) para ver as horas, o que deixa esse mercado perigosamente próximo da ostentação pela ostentação, isto é, em pouco tempo o espaço para estes fabricantes irá se restringir ainda mais, com reflexos mais ou menos impactantes nos relógios de custo mais baixo.

Essa característica não existe apenas no mercado de relógios, nem é especificamente ruim por si, mas em poucas décadas haverá menos compradores (apesar dos onipresentes ostentadores que queiram para marcar algum tipo de posição social) e por conseguinte, menos dinheiro disponível para investimento das fábricas em geral. Não creio que esteja muito distante o dia em que relógio será "coisa de velho".

Esse descréscimo no interesse em relógios não é tão gritante agora, mas parece ser um tendência irreversível. Caso tal se concretize, é bom que os fabricantes tenham novos meios (como os citados acima) para contornar essa queda.

mmmcosta

Citação de: wrocha online 15 Março 2016 às 15:43:01
Excelente tópico, Flávio.

Além do que você (muito) bem pontuou, tem outro elemento a ser levado em conta.

As gerações que agora começam a ganhar seu dinheiro e logo vão poder comprar relógios não tem as mesmas referências que a nossa, assim como não tivemos as mesmas referências que as anteriores. Se no meu ajuntamento eu não vejo problemas em ter relógios a quartzo, meus filhos talvez não vejam inconvenientes em ter telefones (ou o que quer que venha a existir mais ou menos nessa função) para ver as horas, o que deixa esse mercado perigosamente próximo da ostentação pela ostentação, isto é, em pouco tempo o espaço para estes fabricantes irá se restringir ainda mais, com reflexos mais ou menos impactantes nos relógios de custo mais baixo.

Essa característica não existe apenas no mercado de relógios, nem é especificamente ruim por si, mas em poucas décadas haverá menos compradores (apesar dos onipresentes ostentadores que queiram para marcar algum tipo de posição social) e por conseguinte, menos dinheiro disponível para investimento das fábricas em geral. Não creio que esteja muito distante o dia em que relógio será "coisa de velho".

Esse descréscimo no interesse em relógios não é tão gritante agora, mas parece ser um tendência irreversível. Caso tal se concretize, é bom que os fabricantes tenham novos meios (como os citados acima) para contornar essa queda.

Eu argumentei exatamente sobre isso no mesmo PuristS, wrocha, no comecinho do ano. Role para baixo e veja onde começa a discussão que eu iniciei em "A HUGE concern!":

http://www.watchprosite.com/page-wf.forumpost/fi-17/pi-7337513/ti-1030188/s-0/t--the-apple-watch-a-threat-a-trend-yes-a-marketing-opportunity-certainly-but-a-threat/

Os que responderam não pensam como eu e você. Acham que ainda não chegou o tempo das gerações Y e Millennials se interessarem por relógios, mas que vão se interessar, e o mercado tende, inclusive a crescer.

Eu penso exatamente o contrário e, como profissional que atua com estratégia, gostaria muito de saber qual é a da indústria suíça para daqui 30, 40 anos, 50 anos. Quando nós, que ainda amamos essas coisas caras e pouco "úteis" formos deixando de comprá-las.
Marcelo

jvitor_amaral

Só pra complementar, a empresa que eu trabalho (Deloitte) faz um estudo anual sobre a indústria de relógios suíça. Esse link aqui é o de 2015:

http://www2.deloitte.com/ch/en/pages/consumer-business/articles/swiss-watch-industry-study.html

Existem versões anteriores, até 2011 ou 2012 acho. Esse ano é interessante pra ver que existe sim uma movimentação em torno do smartwatch, que se hoje não tem quase nada a ver com um relógio, pode evoluir num futuro próximo, principalmente a medida em que forem vencendo as limitações tecnológicas, como duração da bateria por exemplo.

E sobre o resto, não sei o quanto posso opinar. Em relação ao tratamento dado ao consumidor no pós venda, ele é ruim lá fora também? Porque nunca viajei pra fora do país, mas em todas as compras pela internet que já fiz no exterior, o atendimento que você recebe é água e vinho em relação ao feito aqui no Brasil. A mesma coisa vale para o uso de relógios nas gerações que estão chegando aí, vejo sim bastante gente usando, mas muita réplica, Invicta dourado, essas coisas. Sei que muitas vezes é só ostentação, mas prefiro enxergar como uma porta de entrada pra que o gosto da pessoa vá se refinando com o tempo. Eu mesmo sempre gostei de relógios, mas não conhecia nada. No passado comprava réplicas - e ainda tenho algumas desses tempos - mas hoje eu sei que com o dinheiro de uma réplica dessas melhorezinhas dá pra comprar um relógio de verdade (Seiko ou Orient por exemplo).
@watches.in.sampa

flávio

Sim, o atendimento - sobretudo demora - é reclamação mundial. Ninguém quer comprar um Patek, por exemplo, de 100 mil dólares e ter que esperar meses pela sua revisão. Aliás, um exemplo de um amigo. Ele tem um Hublot Senna Fondroyante que apresentou problema e, quando ele estava morando na Inglaterra, deixou para revisão na autorizada. Foram 8, EU DISSE 8 meses para arrumar o relógio.


Flávio

Dicbetts

Acho o seguinte:

1) O consumidor de relógios tem que reconhecer, primeiramente, que o que traz no pulso é supérfluo e ultrapassado. Mas, ao não admitir tais limitações, alimenta polêmicas para as quais haverá inúmeras conclusões. Ainda assim, prossigo.

2) O consumidor de relógios deve reconhecer, também, que é um objeto esgotado, tal como conhecemos hoje. A fronteira desconhecida hoje está nos smart watches. A extensão desta união é que ainda não se consegue mensurar. A revolução do quartzo, que quase sepultou os relógios mecânicos, serve de parâmetro? Não. Até então, as experiências eletrônicas envolvendo relógios não passavam do básico da miniaturização. Hoje, com a informática sendo um mundo à parte e de possibilidades inesgotáveis (a robótica, por exemplo, está ainda no útero), é impossível antever seus efeitos para a indústria, de um modo geral, nos próximos dez anos.

3) O consumidor de relógios precisa entender que, por ser supérfluo, consome quem quer e pode. Quem acha que ao comprar um relógio de alta gama terá um custo de manutenção de relógio barato, está no lugar errado. Qualquer hobby ou paixão embute custos. Até culinária.

4) O consumidor de relógios deve se conformar que quanto maior é a paixão, mais vontade de subir degraus. O cara começa combinando sopa de entulho com Brahma e termina "harmonizando" (até a definição muda) consommé com Barolo. Com relógios é o mesmo, pelo menos se o bolso permite.

5) O consumidor de relógios sabe o que é uma complicação útil? Eu não me atrevo a definir. Dias atrás, espinafrei aquela apresentada pelo novo Globemaster, que corrige automaticamente os meses. Tudo será inútil fora do trinômio hora-minuto-segundo. Para quê mais do que isso, a não ser em situações incomuns? E qual a proporção, entre os aficcionados, daqueles que as vivem realmente?

6) Como consumidor de relógios, considero a média de cinco anos para manutenção absolutamente razoável. É um objeto que, em tese, trabalha ininterruptamente. Não existem máquinas submetidas a esse nível de estresse - todas pedem manutenção bem antes. As fábricas poderão chegar aos dez, vinte anos sem obrigar o usuário a fazer manutenção? Já chegam. Meu pai esbagaçou um Piaget por quase 40, que só parou quando não dava mais. Atrasava barbaramente? Não, como pude testemunhar. É a exceção que confirma a regra? Quem garante?

7) O consumidor de relógios tem que trabalhar com a seguinte equação para os suíços: preços estratosféricos = custo da estrutura + lucro + status + impostos x custo da mão de obra. Se algumas fábricas reduzem preços, é porque também reduzem números na equação (ou o custo da estrutura, ou o lucro ou a mão de obra). Na rubrica "custo da estrutura" incluem-se desde as instalações ao pós-venda, passando por publicidade/marketing e quantidade de funcionários.

8) O consumidor de relógios deveria saber que só há duas formas de reduzir custos: baixando qualidade ao utilizar materiais de categoria inferior ou erguendo plantas em países cuja mão de obra é barata. Nem sempre redução da estrutura da matriz significa custo menor.

9) O consumidor de relógios tem a noção de que fábricas sérias investem pesadamente no pós-venda, na fidelização. Pesquisam que tipo de público consome o produto que fabrica, qual a faixa de idade, qual a faixa salarial, escolaridade, etc. Trabalham até pela proteção à privacidade do cliente. Estão cada vez mais preparadas para atender ao mais cricri dos consumidores. À medida que o "índice de chatice" sobe um degrau, estudam-no, vira "case". E se torna paradigma.

Dic

Carbonieri

#6
No chutômetro, também acho que o interesse por bons relógios não vai terminar. Por experiência própria, quando era mais novo já gostava de bons relógios, mas como não tinha renda própria, nem me passava pela cabeça comprar. Depois, sobrando uma graninha, passei a me interessar mais e comprar. Se for pensar pela utilidade, já faz muito tempo que daria para descartar esse tipo objeto.
ps1. também vejo a garotada usando relógios, só precisa afinar mais o gosto com o tempo.
ps2. concordo que da pra melhorar muito no pos venda e também investir para precisar menos de revisoes.
sic transit gloria mundi

CSM

Eu já estou fazendo minha parte, meus dois filhos têm um gshock cada, 6 e 8 anos. No momento oportunuo terão um automático bacana. Só realmente acho que nego perdeu a mão no preço/prazo das revisões,serviços etc...

Abraços

Abraços
Membro do RedBarBrazil

Adriano

Citação de: Dicbetts online 15 Março 2016 às 17:16:27
Acho o seguinte:

1) O consumidor de relógios tem que reconhecer, primeiramente, que o que traz no pulso é supérfluo e ultrapassado. Mas, ao não admitir tais limitações, alimenta polêmicas para as quais haverá inúmeras conclusões. Ainda assim, prossigo.

2) O consumidor de relógios deve reconhecer, também, que é um objeto esgotado, tal como conhecemos hoje. A fronteira desconhecida hoje está nos smart watches. A extensão desta união é que ainda não se consegue mensurar. A revolução do quartzo, que quase sepultou os relógios mecânicos, serve de parâmetro? Não. Até então, as experiências eletrônicas envolvendo relógios não passavam do básico da miniaturização. Hoje, com a informática sendo um mundo à parte e de possibilidades inesgotáveis (a robótica, por exemplo, está ainda no útero), é impossível antever seus efeitos para a indústria, de um modo geral, nos próximos dez anos.

3) O consumidor de relógios precisa entender que, por ser supérfluo, consome quem quer e pode. Quem acha que ao comprar um relógio de alta gama terá um custo de manutenção de relógio barato, está no lugar errado. Qualquer hobby ou paixão embute custos. Até culinária.

4) O consumidor de relógios deve se conformar que quanto maior é a paixão, mais vontade de subir degraus. O cara começa combinando sopa de entulho com Brahma e termina "harmonizando" (até a definição muda) consommé com Barolo. Com relógios é o mesmo, pelo menos se o bolso permite.

5) O consumidor de relógios sabe o que é uma complicação útil? Eu não me atrevo a definir. Dias atrás, espinafrei aquela apresentada pelo novo Globemaster, que corrige automaticamente os meses. Tudo será inútil fora do trinômio hora-minuto-segundo. Para quê mais do que isso, a não ser em situações incomuns? E qual a proporção, entre os aficcionados, daqueles que as vivem realmente?

6) Como consumidor de relógios, considero a média de cinco anos para manutenção absolutamente razoável. É um objeto que, em tese, trabalha ininterruptamente. Não existem máquinas submetidas a esse nível de estresse - todas pedem manutenção bem antes. As fábricas poderão chegar aos dez, vinte anos sem obrigar o usuário a fazer manutenção? Já chegam. Meu pai esbagaçou um Piaget por quase 40, que só parou quando não dava mais. Atrasava barbaramente? Não, como pude testemunhar. É a exceção que confirma a regra? Quem garante?

7) O consumidor de relógios tem que trabalhar com a seguinte equação para os suíços: preços estratosféricos = custo da estrutura + lucro + status + impostos x custo da mão de obra. Se algumas fábricas reduzem preços, é porque também reduzem números na equação (ou o custo da estrutura, ou o lucro ou a mão de obra). Na rubrica "custo da estrutura" incluem-se desde as instalações ao pós-venda, passando por publicidade/marketing e quantidade de funcionários.

8) O consumidor de relógios deveria saber que só há duas formas de reduzir custos: baixando qualidade ao utilizar materiais de categoria inferior ou erguendo plantas em países cuja mão de obra é barata. Nem sempre redução da estrutura da matriz significa custo menor.

9) O consumidor de relógios tem a noção de que fábricas sérias investem pesadamente no pós-venda, na fidelização. Pesquisam que tipo de público consome o produto que fabrica, qual a faixa de idade, qual a faixa salarial, escolaridade, etc. Trabalham até pela proteção à privacidade do cliente. Estão cada vez mais preparadas para atender ao mais cricri dos consumidores. À medida que o "índice de chatice" sobe um degrau, estudam-no, vira "case". E se torna paradigma.

Dic

Caracas... posso comentar apenas dizendo "+1"?

Abraços!

Adriano

Adriano

Eu concordo com tudo. E eu vou tecer algumas palavras nas quais tentarei ser o mais imparcial possível: concordo que o prazo é um problema. E cada país tem problemas com prazos por motivos diferentes.

Esse exemplo que o Flávio citou, do Hublot, provavelmente tem a ver com escassez de profissionais. A Ásia hoje sofre com um volume de relógios para consertos gigantesco e poucos relojoeiros reparadores no mercado. Algums países na Europa, incluindo a própria Suíça, idem. Soma-se aí a inundação de modelos mais e mais complicados que ou necessitam de profissionais altamente treinados (obviamente os mais raros e caros) ou exigem que o relógio seja enviado à fábrica. Tudo isso atrasa consertos.

A facilidade com a qual se produz mecanismos altamente sofisticados faz com que o mercado se inunde de produtos cuja manutenção é complicada demais para ser feita localmente.

E em outros países, no qual nos incluímos, entra outra complicante na equação: burocracia e impostos. Isso faz com que a manutenção de um estoque local de peças seja caríssimo. É fácil gastar algumas centenas de milhares de reais, repito, centenas de milhares de reais, para montar um estoque, e ainda assim terminar tendo 25% dos consertos dependendo de importação de peças, pois é impossível ter tudo, e leva ANOS para você estabelecer uma previsão daquilo que você mais repara para adequar seu estoque aos consertos mais comuns. Imagine então para marcas que possuem peças para vintages... é totalmente imprevisível.

Soma-se aí os custos de importação, o que faz com que ninguém faça importação de uma juntinha de vedação... Tem que se esperar juntar um volume X para fechar um pedido cujo frete e todas as despesas sejam compensatórias. Daí tem o tempo de processamento disso na Suíça, depois o despacho, a incógnita da alfândega.

Sem contar as políticas de determinadas peças e condições que exigem que a peça velha seja enviada para a Suíça antes de enviarem uma nova, especialmente sob garantia de venda, o que torna a questão do prazo ainda mais delicada...

Como prever, por exemplo, quais relógios novos darão defeito, e quais defeitos, para sequer pensar em montar um estoque de peças para atender esses casos? E quem paga essa conta?

E por aí vai.

É complicado mesmo. Até por uma questão de fluxo de caixa, a assistência técnica é uma parte legitimamente não interessada em prazos longos... que dirá o consumidor.

Abraços!

Adriano

Adriano

Tem duas coisas que eu acho que a indústria precisa pensar urgentemente: estabelecer filosofias mais coerentes de lucratividade com peças de reposição, e projetar relógios ainda mais com a manutenção, ou a facilidade de manutenção, em vista.

Traçando isso em duas analogias: se livrar ao máximo da filosofia de fabricantes de impressora, que reduzem as margens na venda e aumentam na reposição, e se livrar de algumas filosofias tecnicamente exageradas de troca de peças. Essas duas coisas aborrecem muito o consumidor.

Todos sabem que há meia dúzia de fabricantes de certos componentes. Há sentido em uma junta do fabricante A custar X e uma junta de mesma origem, materiale dimensões do fabricante B custar 4X?

É óbvio que ninguém faz caridade. Toda a operação tem que dar lucro. Inclusive a venda de peças. E é perfeitamente compreensível que a precificação siga certos padrões, inclusive alinhados com o valor do produto e da marca. Mas há limite para tudo. E as políticas diferem bastante nesse sentido.

Abraços!

Adriano

pedrobsb

Bom topico, isso se resume muito a algo que aconteceu essa semana, um colega de trabalho voltou a trabalhar e me disse que comprou um relogio apple nas ferias, em viagem a Chicago. Eu nunca vi o mesmo usando relogio, por isso perguntei sobre o novo relogio, quanto foi, quais as funçoes e se ele gosta de relogio. Ele me contou tudo, e disse que a namorada comprou uma pulseira extra de 800 reais (mesmo preço de uma hirsch topo de linha)! ai eu conclui, continua existindo demanda para tudo, mas se a industria suiça não inovar, não espera que ela sobreviva. Como o Marcelo disse, falta planejamento estrategico. Hoje são outros tempos, até o presidente dos EUA esta usando um fit nao-sei-o-que..
Abraço

Pedro

FALCO

Eu acho as manutenções e peças de reposição muito caras.
Acho que mais gente compraria pulseiras extras se estas não fossem tão caras, não existe justificativa para uma pulseira em couro ou uma fivela custar us$200/400 e uma pulseira em aço us$1,000/2,000.
Acho também que o número de pessoas que fazem revisão/manutenção em autorizadas é baixíssimo frente as vendas, acredito que um valor mais baixo traria retorno para a indústria, caso isto seja possível.

Anos atrás, na boutique da JLC me informaram que o Duomètre deveria ser revisado a cada 2 anos e o prazo estimado era 8 meses.
Em resumo, pago r$150k em um relógio e 1/4 do tempo ele fica na fábrica, não me parece lógico.
FRM: contra argumentos, não há fatos !!!

Matt5

Acho que as marcas deveriam se conter mais nos preços também.
"Do alto dos meus 24 anos", vejo que o jovem hoje não liga pra relógio, a não ser os que tiveram fortes influências vindas do pai/avô, a maioria que ganha seu dinheiro acha um absurdo pagar qualquer coisa acima de 1000 reais apenas para "ver as horas", ele pode comprar um smartwatch que faz isso e uma cacetada de coisas bem mais úteis pra eles (nós) que um Chrono ou um moonphase, ou até um relógio recheado de supercomplicações igualmente inúteis no mundo real. Sem revisões, sem dar corda, watch winder, etc...
O mundo vem ficando  mais dinâmico, direto e enxuto, menos romancista...
Outra coisa é investir mais em imagem, apesar de ser "puro marketing", estamos falando de SOBREVIVENCIA, hoje vejo relógios associados à personalidades e personagens fracos, uma das poucas que faz isso muito bem é a omega, com 007, jeremy Clarkson, carga explosiva, nasa... Isso desperta desejo, mexe com o imaginario, faz o jovem que vê a peça no pulso do personagem/personalidade desejar ter de qualquer forma, como contou o Flavio sobre o EBEL no miami vice. O jovem, cheio de ideologias e sonhos, que, se sentir proximo do seu idolo, parecido com ele. Não vai ser um movimento in house megaultrablaster complicado e custando mais que seu primeiro carro, tem que abrir um porta pra eles pelo menos olharem para a horologia.
Se as marcas conseguirem ganhar os jovem de hoje, fazendo-os se interessar e querer perder alguns momentos dos seus corridos dias pra ficar admirando uma peça no pulso do seu idolo elas garantem a proxima geração de compradores apaixonados por esse mundo incrivel que é a horologia.

Mas se deixarem os smartwatches e fata de interesse ganhar, me preocupo com o futuro dos relogios mecanicos, pelo menos pra meros mortais como à maioria de nós.

Apenas meus 2c...
Abraços.

eduardorio

É uma boa discussão. Mas creio que, infelizmente, não podemos fazer projeções, apenas dar nossas visões pessoais de um possível futuro. Gigantes como Apple e Google - além das próprias fabricantes suíças de relógios - gastam muito dinheiro tentando identificar caminhos adiante e não conseguem. A velocidade com que as mudanças tecnológicas acontecem hoje em dia não nos permite mais que um exercício de adivinhação.

E eu não sou adivinho. Mas posso observar o que me cerca. Entre meus amigos mais próximos na mesma faixa etária - quarenta e poucos anos -, NENHUM usa relógio mecânico. Estou considerando um universo de cerca de 30 pessoas, quase todas dentro do perfil homem - profissional liberal - classe média/média alta - nível de instrução alto - poderiam comprar. Dentre esses 30 e poucos, alguns até acham do caralho quando mostro um relógio meu ou falo com empolgação sobre essa paixão. Mas, mesmo esses, jamais se empogariam em pagar 5000 dólares num Speed novo ou mesmo 10 mil reais num Carrera usado.

Entre a garotada que conheço na faixa dos 30, o quadro é quase idêntico - NENHUM usa relógio mecânico e quase todos acham um disparate pagar mais de 1000 reais num relógio, embora paguem, às vezes, entre 3 e 4 mil reais num smartphone topo de linha...

Faixa dos 20 e poucos anos? Esses eu observo que sequer usam relógio, já caíram no paradigma "pra que relógio se tem um celular no meu bolso onde posso ver as horas"?

Uma esperança? Minha experiência pessoal. Passei quase dez anos praticamente com um único relógio a quartz, que só usava no trabalho, por uma questão profissional - precisava saber, a todo instante, a hora exata. Foi só aos 40, quando comprei um automático e comecei a pesquisas sobre o assunto, que me apaixonei novamente por relógios - aos 20 eu tinha muitos, colecionava mesmo.

O mundo muda, a gente também.

Cabe a nós passar adiante nossa paixão, mudando que está chegando agora a esse universo.



mmmcosta

#15
Citação de: pedrobsb online 15 Março 2016 às 23:03:28
Bom topico, isso se resume muito a algo que aconteceu essa semana, um colega de trabalho voltou a trabalhar e me disse que comprou um relogio apple nas ferias, em viagem a Chicago. Eu nunca vi o mesmo usando relogio, por isso perguntei sobre o novo relogio, quanto foi, quais as funçoes e se ele gosta de relogio. Ele me contou tudo, e disse que a namorada comprou uma pulseira extra de 800 reais (mesmo preço de uma hirsch topo de linha)! ai eu conclui, continua existindo demanda para tudo, mas se a industria suiça não inovar, não espera que ela sobreviva. Como o Marcelo disse, falta planejamento estrategico. Hoje são outros tempos, até o presidente dos EUA esta usando um fit nao-sei-o-que..

Valeu pela referência Pedro. Na verdade não digo que não haja, mas como uma indústria muito baseada na tradição e "old habits", suponho que não seja muito afeita ao planejamento e, menos ainda, o que é mais importante, a execução da estratégia. Tenho muita curiosidade em saber se a indústria relojoeira suíça tem uma prática de gestão estratégica estabelecida e em operação.
Marcelo

Dicbetts

Citação de: Adriano online 15 Março 2016 às 22:10:01

Esse exemplo que o Flávio citou, do Hublot, provavelmente tem a ver com escassez de profissionais. A Ásia hoje sofre com um volume de relógios para consertos gigantesco e poucos relojoeiros reparadores no mercado. Algums países na Europa, incluindo a própria Suíça, idem. Soma-se aí a inundação de modelos mais e mais complicados que ou necessitam de profissionais altamente treinados (obviamente os mais raros e caros) ou exigem que o relógio seja enviado à fábrica. Tudo isso atrasa consertos.

A facilidade com a qual se produz mecanismos altamente sofisticados faz com que o mercado se inunde de produtos cuja manutenção é complicada demais para ser feita localmente.

E em outros países, no qual nos incluímos, entra outra complicante na equação: burocracia e impostos. Isso faz com que a manutenção de um estoque local de peças seja caríssimo. É fácil gastar algumas centenas de milhares de reais, repito, centenas de milhares de reais, para montar um estoque, e ainda assim terminar tendo 25% dos consertos dependendo de importação de peças, pois é impossível ter tudo, e leva ANOS para você estabelecer uma previsão daquilo que você mais repara para adequar seu estoque aos consertos mais comuns. Imagine então para marcas que possuem peças para vintages... é totalmente imprevisível.

Soma-se aí os custos de importação, o que faz com que ninguém faça importação de uma juntinha de vedação... Tem que se esperar juntar um volume X para fechar um pedido cujo frete e todas as despesas sejam compensatórias. Daí tem o tempo de processamento disso na Suíça, depois o despacho, a incógnita da alfândega.

Sem contar as políticas de determinadas peças e condições que exigem que a peça velha seja enviada para a Suíça antes de enviarem uma nova, especialmente sob garantia de venda, o que torna a questão do prazo ainda mais delicada...

Como prever, por exemplo, quais relógios novos darão defeito, e quais defeitos, para sequer pensar em montar um estoque de peças para atender esses casos? E quem paga essa conta?


Editando um pouco o que o Adriano falou, posso dizer que se a Hublot dá oito meses para arrumar um relógio, seu dono pode se sentir um felizardo. A Breitling dá um ano para fazer o orçamento! E mais um ano para consertar/revisar/reformar! Digo por experiência própria.

Ah, é um absurdo! Não vejo assim. Quantos Breitlings existem no mundo? Milhões, nos mais variados estados de conservação. E quantas pessoas os consertam na fábrica? Talvez umas 50, sendo "extremamentemíssimamente" otimista - e admitindo que é um setor lucrativo, que vale à pena manter tal quantidade de profissionais com essas habilidades (que certamente custam mais caro que os demais colegas da linha de montagem normal).

Mas não basta ter uma equipe apenas para cuidar da manutenção. E o compartilhamento de equipamentos? Ou a Breitling ergueu quase que uma fábrica à parte somente para os relógios que chegam para conserto? Não creio nisso. Seria um luxo. A indústria suíça, de qualquer setor, tem um histórico de administrações enxutas, espartanas.

Pouco importa também se esse setor é, eventualmente, terceirizado, como forma de baratear para a Breitling - ou qualquer outra fábrica. Haverá custos, sobretudo de mão de obra.

E como recompor um calibre Valjoux 7733, ou um Venus 170, que não são mais fabricados? Deve haver compatibilidade de peças, mas não de todas. Estarão estocadas? Não creio, mesmo porque estoque tem custo - grande é prejuízo e pequeno é problema.

Resumo da ópera: o consumidor de relógios deve se acostumar à ideia de que haverá gastos e prazos, nem sempre os que gostaria que fossem. Mas, aí meus queridos, é a vida.

Dic

flávio

É dic... Nossos pontos de vista são completamento divergentes, até mesmo porque foram os fabricantes, ao implodirem a figura do reparador independente com a negativa de venda de peças, e fim das instruções teórico prático que existiam, que criaram a situação. O articulista apenas disse que agora as empresas deveriam criar verdadeiros departamentos de reparo e ganhar também no volume com o qual são feitos. Afinal, você não gostaria de, por exemplo, comprar uma BMW e descobrir que, numa zica, precisaria enviá la a Alemanha. Como já dizia minha avó, quem não tem competência, não se estabeleça. Se a fábrica já sabe que não poderá reparar a contento aquilo que fabrica, nem deveria abrir suas portas...  Flávio

pedrobsb

Que interesssante seu ponto de vista Flavio, porque nao sei se você tem experiência no ramo de automoveis, mas foi exatamente isso que aconteceu na industria automobilistica e principalmente para os concessionarios! Desde 2007 a area que da dinheiro para as montadoras são as oficinas, tanto na ponta final (revisão e ajustes) quanto na ponta de suprimento (peças). Talvez esse seja o caminho, pois a meu ver as duas industrias (automoveis e relogios) são parecidas e tiveram grandes desafios "superados" (crise do petroleo 79 e os Quartz dec.70).
Abraço

Pedro

edson rangel

Citação de: Dicbetts online 15 Março 2016 às 17:16:27
Acho o seguinte:

1) O consumidor de relógios tem que reconhecer, primeiramente, que o que traz no pulso é supérfluo e ultrapassado. Mas, ao não admitir tais limitações, alimenta polêmicas para as quais haverá inúmeras conclusões. Ainda assim, prossigo.

2) O consumidor de relógios deve reconhecer, também, que é um objeto esgotado, tal como conhecemos hoje. A fronteira desconhecida hoje está nos smart watches. A extensão desta união é que ainda não se consegue mensurar. A revolução do quartzo, que quase sepultou os relógios mecânicos, serve de parâmetro? Não. Até então, as experiências eletrônicas envolvendo relógios não passavam do básico da miniaturização. Hoje, com a informática sendo um mundo à parte e de possibilidades inesgotáveis (a robótica, por exemplo, está ainda no útero), é impossível antever seus efeitos para a indústria, de um modo geral, nos próximos dez anos.

3) O consumidor de relógios precisa entender que, por ser supérfluo, consome quem quer e pode. Quem acha que ao comprar um relógio de alta gama terá um custo de manutenção de relógio barato, está no lugar errado. Qualquer hobby ou paixão embute custos. Até culinária.

4) O consumidor de relógios deve se conformar que quanto maior é a paixão, mais vontade de subir degraus. O cara começa combinando sopa de entulho com Brahma e termina "harmonizando" (até a definição muda) consommé com Barolo. Com relógios é o mesmo, pelo menos se o bolso permite.

5) O consumidor de relógios sabe o que é uma complicação útil? Eu não me atrevo a definir. Dias atrás, espinafrei aquela apresentada pelo novo Globemaster, que corrige automaticamente os meses. Tudo será inútil fora do trinômio hora-minuto-segundo. Para quê mais do que isso, a não ser em situações incomuns? E qual a proporção, entre os aficcionados, daqueles que as vivem realmente?

6) Como consumidor de relógios, considero a média de cinco anos para manutenção absolutamente razoável. É um objeto que, em tese, trabalha ininterruptamente. Não existem máquinas submetidas a esse nível de estresse - todas pedem manutenção bem antes. As fábricas poderão chegar aos dez, vinte anos sem obrigar o usuário a fazer manutenção? Já chegam. Meu pai esbagaçou um Piaget por quase 40, que só parou quando não dava mais. Atrasava barbaramente? Não, como pude testemunhar. É a exceção que confirma a regra? Quem garante?

7) O consumidor de relógios tem que trabalhar com a seguinte equação para os suíços: preços estratosféricos = custo da estrutura + lucro + status + impostos x custo da mão de obra. Se algumas fábricas reduzem preços, é porque também reduzem números na equação (ou o custo da estrutura, ou o lucro ou a mão de obra). Na rubrica "custo da estrutura" incluem-se desde as instalações ao pós-venda, passando por publicidade/marketing e quantidade de funcionários.

8) O consumidor de relógios deveria saber que só há duas formas de reduzir custos: baixando qualidade ao utilizar materiais de categoria inferior ou erguendo plantas em países cuja mão de obra é barata. Nem sempre redução da estrutura da matriz significa custo menor.

9) O consumidor de relógios tem a noção de que fábricas sérias investem pesadamente no pós-venda, na fidelização. Pesquisam que tipo de público consome o produto que fabrica, qual a faixa de idade, qual a faixa salarial, escolaridade, etc. Trabalham até pela proteção à privacidade do cliente. Estão cada vez mais preparadas para atender ao mais cricri dos consumidores. À medida que o "índice de chatice" sobe um degrau, estudam-no, vira "case". E se torna paradigma.

Dic


Perfeito. +1
FIQUEM  TODOS NA PAZ DE DEUS !!!!