Como até para mim os conceitos estavam um pouco enferrujados, resolvi analisar alguns diagramas, para o povo entender.
Nesta primeira foto, extraída da obra A Revolução no Tempo, de Landes, há o padrão, o escapamento de âncora suíço (âncora continental na foto, a de âncora livre de Emery não é mais usado). Coisas importantes a notar:
Na foto n 1 (repito, do de âncora continental), no lado à esquerda há os dois platôs citados pelo Adriano. Acima dos platôs, não DESENHADO, devem imaginar o balanço girando. Na primeira foto, o balanço está girando no sentido anti horário, conforme seta. Na foto, neste exato momento, um rubi (i) está batendo no entalhe da âncora, a movendo no OUTRO SENTIDO (horário) e, então, desbloqueando o sistema. NESSE EXATO MOMENTO, como mostrado na foto, a roda de escape e, que estava travada SOB TENSÃO DE TODA RODAGEM do relógio, e sempre gira no mesmo sentido, por óbvio (horário), está "escorregando" o dente em forma de "botinha" (o termo correto é "club foot", ou taco). Ao gerar torque de "escorrego" na palheta h, a âncora irá se mover para direita e dar um impulso no balanço, para que este não pare.
A âncora, ao se movimentar para a direita (agora a foto é de número 2), irá bloquear a roda de escape com a palheta DA DIREITA, não através da face inclinada da "botinha", mas plana. Na foto 2 o sistema está bloqueado, NÃO RECEBENDO IMPULSO. A mola cabelo irá então retornar o balanço no seu giro, mas agora no sentido contrário, e a mesma coisa explicada acima irá acontecer nesta outra levee.
Como o impulso aí é dado por "escorrego", há atrito e a superfície dos dentes da roda de escape deve ser lubrificada. Quando seu relógio começa a ratear, é porque o óleo daí secou ou foi deslocado, por atrito, para as superfícies que não interessam.
Aqui uma explicação do mesmo livro sobre o que acabei de falar:
O escapamento coaxial é muito mais complexo na execução, no funcionamento, mas não há impulso POR ATRITO, e sim por impacto:
Nesta foto, tirada da obra Watchmaking, de Daniels, vemos o projeto original dele (a Omega já usou tanto essa versão como a slim, como citado pelo Adriano).
No escapamento coaxial, ao invés de uma "âncora" com 2 rubis, há 3..
Na primeira foto, alto à esquerda, todo o sistema (repito, a roda de escape aí está conectada a toda rodagem, enquanto o platô à direita ao balanço, como num escapamento de âncora) está bloqueado pela palheta p e dente d, da roda maior COAXIAL à roda menor abaixo. O balanço, conforme seta está girando no sentido horário. Um rubi no platô, como no escapamento de âncora, está entrando no entalhe da "âncora" e irá movê-la no sentido contrário ao do giro do balanço. Ao fazer isso, p irá se deslocar e liberar o dente t.
Ao mesmo tempo, foto à esquerda acima, a roda de escape que estava travada irá se deslocar no sentido da seta (a roda sempre gira no mesmo sentido) e dar um impulso no balanço através da palheta s, CONECTADA AO PLATÔ (impulso direto e tangencial. Não há o "escorrego" aí).
A roda, então, irá alcançar a outra palheta, p2, e será travada em t3. O balanço, que agora girá no outro sentido, irá novamente alcançar o entalhe da "âncora" e deslocá-la para o outro lado. Ao deslocar, o sistema todo ficará livre mais uma vez, a roda de escape irá girar e...
Última foto, a roda dará mais um peteleco no balanço, através da palheta l, NA RODA MENOR, coaxial.
Ou seja, o funcionamento básico do escapamento coaxial é o mesmo do de âncora, mas Daniels teve que criar essa disposição complexa para que os impulsos fossem tangenciais, SEM PERDER O DUPLO IMPULSO A CADA CICLO (dois impulsos por ciclo completo de vai e vem do balanço). E de fato, como bem ressaltado pelo Adriano, os impulsos ocorrem nas faces PLANAS, a botinha aí não serve para nada.
Nessa foto, a disposição dos componentes:
Adriano, algumas outras dúvidas, depois de ler.
A posição dos platôs, pensando mentalmente, não me parece o problema, mas o "encaixe" do entalhe e dentes de âncora numa posição correta. Esse troço é ensinado na prática para os relojoeiros ou o manual técnico indica, mais ou menos, o giro que se deve dar no balanço junto à ponte para entrar corretamente?
Outra coisa. Essa lubrificação da roda de escape é feita com ela deitada ou em pé? Pergunto isso porque como se olha corretamente a quantidade de óleo se esta estiver deitada? E como sabe se o óleo não vai sair da face de impacto para as laterais? E na prática, como é feito? O relojoeiro coloca a roda em algo para olhar no microscópio? E não dá mesmo para fazer com lupa? Qual microscópio estereoscópico usam?
Problemas no escapamento, tem visto alguns aí, ou se mostram fiáveis?
Flávio