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Uma boa análise sobre os preços do mercado.

Iniciado por eduardorio, 25 Janeiro 2017 às 10:20:33

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flávio

A análise é bem coerente, mas limita-se aos EUA. Ora, eu sinceramente não sei se nosso poder de compra cresceu tanto assim. O que quero dizer é que um Omega Constellation como o que me avô me passou (1973) e que iniciou toda minha obsessão por relojoaria custa na sua versão atual uns 25 mil reais. Não posso assegurar o que vou dizer, mas não acredito que um Constellation em 1973 custasse o salário de um mês de um trabalhador altamente qualificado, que hoje ganha os tais 25 mil reais. Mas há um ponto geral no texto com o qual concordo: as pessoas pagam x ou y num bem porque ACREDITAM que este vale x ou y e, atualmente, parece que a crise pela qual a indústria vem passando nem se deve aos preços absurdos, mas à percepção do consumidor.

Eu, por exemplo, como já disse aqui, ainda sou FASCINADO pela relojoaria e, enquanto existirem livros em minha biblioteca sobre o assunto que não li, estarei interessado. Não sou, porém, fascinado por relógios, o bem em si, há muito, mas muito tempo. O que quero dizer é que para mim, hoje, tanto faz como tanto fez sequer usar um relógio bom (ou mesmo ruim). Aliás, os maiores conhecedores de carros esportivos que já conheci... Paradoxalmente sequer tinham carros esportivos e nunca teriam, sobretudo pelo valor. Mas estudavam muito o assunto e sabiam mais do que qualquer comprador de BMW de "boutique", se me fiz entender.

E por que não tenho mais tesão algum com RELÓGIOS? Ora, é evidente que o valor do bem é um motivo, mas convenhamos, tem muita coisa aparecendo no mercado a preços "alcançáveis". O problema não é esse, mas a "conversa fiada" das empresas no sentido de que seus bens, sendo simplista, são fabricados com uma tradição que remonta a milênios e por duendes encantados na Suíça. Outro dia eu vi CEOs das empresas suíças dizendo que o caminho das empresas era "ensinar" os consumidores, dar-lhes cultura sobre o "heritage" dos produtos. Pois é... Eu acho que isso teria um efeito contrário... Não existem bobos hoje. Para um cara me querer vender um produto com uma suposta "heritage", eu teria que ver com meus próprios olhos tais características, e isso eles não querem mostrar. Mas não só: eu diria que hoje os defeitos e CUSTO de manutenção dos relógios corresponde, na minha jornada pelo mundo da relojoaria, a 80% da minha falta de tesão: eu não quero um produto que me faça passar raiva no futuro.

Os livros me satisfazem... O produto não mais. Ei CEOs, podem me estudar, talvez eu seja um caso clássico de COMO VOCÊS PERDERAM CONSUMIDORES, pois comprava um relógio relativamente caro ao ano, na faixa de preço da Rolex, e já faz quase três anos que não compro nenhum. E não comprarei. Sejamos honestos: não é porque criei e ainda giro com vontade um blog sobre relojoaria que vou deixar de ser crítico.


Flávio

eduardorio

Sem dúvida nosso poder de compra não acompanhou o crescimento ocorrido nos EUA nesse período, Flavio. Mais - seguramente nossa realidade é muito mais diferente da realidade de lá, hoje, do que era em 1973, quando seu avô te deu o Constellation. A desigualdade social se agigantou em nosso país nesses 43 anos, curiosamente a minha idade. Acho até que, para ter um salário de 25 mil reais, é necessário ser muito mais que um trabalhador altamente qualificado - pelo menos no meu meio, o jornalismo, só cargos de gerência e profissionais de vídeo muito bem reconhecidos chegam nesse valor.

E concordo plenamente contigo - a percepção do consumidor é que alimenta a engrenagem que só roda para cima no que diz respeito aos preços. Não tenho bagagem pra falar sobre alta relojoaria. Minha paixão por relógios, que é antiga, só voltou com força há poucos anos, quando conheci o FRM e voltei a comprar/colecionar relógios, agora automáticos. Mas posso fazer uma comparação com outra paixão minha, oriunda do passado (beeem passado) como atleta e da minha área profissional, o jornalismo esportivo - tênis de basquete. Faço parte de um grupo de colecionadores no WhatsUp e vejo caras pagando 1k, 2k de trumps num par de tênis "exclusivo". Ora, NADA justifica, para mim, esse nível de investimento num bem que, se usado, vai durar tão pouco (um relógio, pelo menos, te dá a ilusão de que vai te acompanhar pela vida toda; um sneaker, por melhor que seja, não passa de alguns poucos anos). Então como justificar esse valor? Apenas pela exclusividade? Hmmm... Pelo marketing absurdo que empresas como Nike e Adidas fazem? Qual a fagulha que acende nas pessoas o prazer de ter algo assim?

Não tenho essas respostas. Mas tenho a mesma resposta que você tem para os relógios - NENHUM tênis vale tal soma, ainda mais hoje, em que um Air Jordan retrô costuma durar metade do tempo que durava um original, dos anos 80 ou 90. E, como na relojoaria, ainda há aqueles casos incríveis, como um Air Jordan relançado semana passada pela Nike, aqui e nos EUA. Algum louco comprou, achou estranho o nível de amortecimento e resolveu abrir. Resultado - não havia a bolsa de ar (o Air) acompanhando todo o calcanhar, como a Nike anunciava no site (como era no tênis original, de 16 anos atrás). Dois dias depois, a Nike retirou a informação improcedente (na verdade, a tremenda mentira) dos sites daqui e de lá...

Enfim, acho que essa questão qualidade x preço vale para quase tudo hoje - relógios, tênis, carros, barcos...
Grande abraço.

automatic

Sim a questão da percepção e valorização das marcas...

Os grupos de nicho estão ficando bem mais espertos, vejo isso aqui e em outro forum que acompanho que de audio que é o HT forum.



eduardon

Só mergulhei bem recentemente no mundo dos ponteiros e ainda estou à procura do meu primeiro automático, então peço desculpas por já querer meter o bedelho nesse debate de cachorro grande, mas também sou jornalista e a conversa toca em temas com os quais estou familiarizado, como o fetiche da mercadoria, a indústria cultural e a evolução da economia.

Concordo com o flavio que a 'heritage' como valor pode estar sendo superestimada em relação ao que a indústria realmente é. Achei sensacional a parte que diz que eles nos fazem crer que os relógios são caros porque se trata de uma indústria milenar com duendes fazendo-os a mão nos Alpes etc - quando sabemos que a maior parte das marcas mais famosas são mega corporações e conglomerados e muito provavelmente o que mais encarece o relógio é que alguém (que acaba sendo o comprador) precisa pagar a conta dos filmes de James Bond e dos torneios de golfe e o cachê dos tenistas etc.

Enfim, não fetichizo marcas em outras áreas da minha vida e também não pretendo gastar um dinheiro que não tenho nos meus futuros relógios. Busco qualidade e tradição, mas com os pés no chão e conhecendo bem a profundidade do meu bolso.

Abraços e perdão se disse algum absurdo por desconhecimento da área