Sempre tive dúvidas sobre a percepção da Omega no Brasil. Tirando a turma que curte, a marca só fala ao pessoal da velhíssima guarda - como meu pai.
Assim mesmo, para ele Omega, Tissot, Mido, Cyma e alguns outros estavam no mesmo patamar.
Então, talvez por conta de de um hiato geracional e também por estar associada à working class, a Omega não foi muito longe por aqui.
Div
Dic, como já ressaltei aqui e os próprios anúncios colacionados no tópico correspondente indicam, até os anos 70, Omega e Rolex tinham preços muito semelhantes. Aliás, para dizer a verdade, os top de linha Omega da época, como os Constellation de Luxe, custavam mais caros do que seus concorrentes na Rolex, como os Datejust em ouro. Como já ressaltei aqui também, a Rolex sempre gozou de excelente reputação por fabricar produtos bastante confiáveis e com boa performance cronométrica, algo comprovado nas competições de observatório que duraram até 1967. E para por aí... O que quero dizer é que um Rolex, Omega, ou coisa que o valha, era algo caro até os anos 60, mas nunca - pelo menos nas linhas normais, sem ser de metal precioso - um produto considerado como joia e de luxo, como já o eram, naquela época, Pateks, Vacherons e Audemars. Aliás, essas marcas eram caras na época e mosca branca mesmo na época. Meu avô, por exemplo, vendia Pateks na sua juventude como caixeiro viajante (algo impensável hoje...) e dizia que um Gôndolo custava o preço de uma fazenda. Exageros talvez à parte, fato é que quando deixou um emprego na Mesbla em 1973 para fundar uma empresa de ônibus, o relógio que ganhou por serviços prestados foi um Omega Constellation, que de modo algum era "working class". Era algo confiável, robusto e não tão barato assim... Era, talvez, uma LV, mas nunca, por óbvio, uma Hermes. Mas vejam que curioso, e daqui a pouco esses depoimentos estarão perdidos: nossos avós - e ainda que não fosse ricos, mas conheciam ricos e viveram numa sociedade de comparações, capitalista - raramente mencionam com alguma ênfase a Rolex, daquela época, como algo "de rico". Eu não consigo explicar o fenômeno, até mesmo porque a literatura sobre mercado sul americano de produtos de luxo de meio século atrás é inexistente no Brasil. Mas... A Omega chegou até mesmo a fabricar caixas no Brasil, para se beneficiar dos benefícios fiscais, algo que outras marcas não fizeram. Será que isso não ocorreu porque a imagem construída e, sobretudo, representação no Brasil desta eram muito melhores do que a da Rolex? Enfim, são coisas que devem ser "sugadas" dos mais velhos como história, mas a impressão que tenho é que a Rolex, nos moldes de várias outras marcas, não tinha a penetração no mercado sul americano que tinha a Omega, e isso não tem nada a ver com qualidade do produto ou percepção de ser este ou não "de luxo". A Patek, por exemplo, tinha penetração no Brasil, a marca, aliás, fizera produtos especiais para joalheria famosa do Rio, enaltecidos até hoje pela própria Patek. E a Audemars? Alguém já viu relógios de bolso Audemars sendo vendidos no Brasil? Vacherons? A minha teoria, em resumo, não é que a Omega até os anos 70 fosse considerada, em comparação à Rolex, como working class, algo que definitivamente não era, mas possuía uma melhor representação no Brasil, de modo que vendia mais do que aquela. E depois dos anos 70 cumpadi, só sobrou mesmo a Rolex, que construiu, então, sua imagem como algo de luxo. Minha geração, por exemplo, sempre viu um Rolex como algo de luxo, ainda que até os anos 70, não só "patrões" o usassem, mas até mesmo militares...
Flávio