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Omega Turbilhão para competições de observatório vai a leilão

Iniciado por admin, 06 Outubro 2017 às 14:46:58

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flávio

O relógio está sendo anunciado sem muita fanfarra, o preço aguardado está entre 100 e 200 mil dólares e... Como já disseram alhures, "o mercado é soberano", ou seja, o que determina preço de bens é a oferta e procura. Porém, se estamos lidando com algo antigo e colecionável, raridade e importância histórica não fazem mal a ninguém... Esqueçam por um momento, portanto, os Rolexes Daytona que foram feitos (na verdade montados, eis que a Rolex sequer fazia seus movimentos, mostradores e ponteiros...) aos milhares e, por uma ironia do mercado, agora alcançam valores na casa das centenas de milhares de dólares. Pior: com o intuito de criar uma "raridade" que julgo absolutamente artificial, os vendedores (ou seriam "especuladores"?) criam um monte de variações dentro da linha, fonte de mostrador isso, fonte de mostrador aquilo, só para inflacionar o mercado. Fiquemos com o "real deal", um relógio efetivamente histórico e raro.

A história, que já contei aqui algumas vezes, é a seguinte. A história da cronometria é a história da relojoaria. A evolução da relojoaria ocorreu em uma busca pela precisão. Lembram-se da busca pela Longitude? Pois é...

E lá pelas tantas, quando os relógio de fato se popularizaram como OBJETOS ÚTEIS, muito antes de serem objetos de vestuário, a melhor propaganda do negócio era ressaltar a confiabilidade e precisão do bem vendido. Sabe aquela prosa que existe até hoje de fabricar o carro mais rápido, que ainda desperta desejo nos aficionados? Pois é... A partir do fim do século 19, as fábricas passaram a competir entre si pela fabricação do relógio mais preciso do mundo e isso ocorria sob a estrita fiscalização dos observatórios suíços e ingleses, "donos" da marcação do tempo precisa no planeta, através da observação dos astros (aliás, eles são responsáveis por isso até hoje, mas a determinação do padrão tempo não ocorre mais através da observação de astros, mas por um relógio atômico).

Desde o começo, cinco marcas se mostraram ferrenhas competidoras nos observatórios, propalando aos sete ventos suas vitórias como estratégias de marketing, como podemos observar em vários anúncios no tópico sobre propagandas antigas no site. Eram elas a Patek, Zenith, Omega, Rolex e Longines.

Desde os anos 30, porém, sob a tutela do regulador, uma profissão que não existe mais, os "preparadores" de relógios de precisão para competições, Alfred Jaccard, a Omega tomou a liderança em prêmios. Obteve, aliás, os recordes absolutos de precisão de 1933 e 1936. A partir dos anos 40, a dominação da Omega em números de prêmios passou a ser total, com acirradas disputas pelos primeiros lugares com Patek, Zenith e a "corredora por fora" Movado.

Fato é que a partir dos anos 60 os japoneses, através de seus estúdios, passaram a competir, com o intuito de propagandear a evolução que estavam tendo. Não se deram muito bem... Mas o japonês é um povo sagaz: aprende com seus erros, tenta e faz melhor. Em 1966, obtiveram algumas boas classificações entre os top 5... Mas em 1967 algo aconteceu: um mecanismo a quartzo criado pelos próprios suíços competiu na categoria de cronômetros grandes e conseguiu uma performance muito superior ao melhor resultado obtido em todos os tempos por um relógio mecânico (nota 1.73, sendo que 0 seriam a precisão absoluta, recorde obtido pela Omega e ainda em vigor).

Os suíços ficaram com medo... Estava aberta a porta para que num futuro próximo não só os relógios mecânicos pequenos fossem implodidos pela tecnologia do quartzo, como por "forasteiros", eis que os japoneses também pesquisavam sobre o novo modelo.

O governo suíço, preocupado com a propaganda negativa que isso poderia gerar para a indústria, simplesmente decretou o fim das competições de observatório...

Que enrolação Flávio, o que temos aí?

Na década de 40, a Omega buscava um novo modelo de movimento que pudesse ser vitorioso em todas as competições que entrasse e, desenterrando o conceito de Breguet, resolveu apostar num turbilhão. Para isso, contrataram Marcel Vuilleumier, diretor da escola de relojoaria de Le Sentier, que projetou um turbilhão com rotação de sete minutos e meio, balanço com compensação guillhaume (bimetálico) e 18 mil batimentos por hora. O movimento seria o primeiro feito "em série" por uma manufatura suíça e foi concluído em 1947, dois anos antes de modelos da Patek. O em "série" entre aspas foi proposital porque na verdade apenas 12 movimentos foram fabricados de forma totalmente artesanal, numa época na qual CAD eram algo inimaginável. Desses 12, sete foram levados às competições de observatório e foram regulados por Jaccard e usados entre 1947 a 1952 (os mesmos movimentos eram usados ano após ano, por aí imaginem a raridade e preocupação da Omega com os movimentos), obtendo posições no mínimo irregulares.

Em 1950, por exemplo, um dos movimentos obteve a primeira colocação em Genebra. Porém, a partir de então, em várias outras competições, suas posições foram se deteriorando (14 lugar, 37 e, finalmente, 42), que a Omega resolveu abandonar o projeto.

Em 1987, sete desses movimentos foram encontrados pela Omega, restaurados, colocados em caixas e vendidos (o que talvez soe absurdo hoje, não o era nos anos 80!). Vez ou outra aparecem em leilões e alcançam bons preços, na faixa dos 200 mil dólares. Vejam


https://www.hodinkee.com/articles/just-because-the-worlds-first-tourbillon-wristwatch-caliber

O que a Phillips está vendendo e diz ter em mãos, porém, não é isso, mas um "protótipo", ou mesmo um dos restantes movimentos citados acima, JÁ COLOCADO EM CAIXA em 1947 e em condição mint. Lembrem-se, nas competições de observatório, os MOVIMENTOS, não relógios completos, eram levados, assim como o COSC faz hoje.

Ou seja, a Phillips diz ter um relógio completo feito pela Omega ainda em 1947 contendo o tal movimento.

Eu, se fosse a Omega e confirmada a história, teria feito uma certa fanfarra sobre isso, pois tratar-se-ia de algo raríssimo e histórico, que certamente deveria alcançar muito mais valor do que os 200 mil que estão pedindo. E lembrem-se: O ALTO VALOR, EM LEILÕES, CRIA PERCEPÇÃO DE EXCLUSIVIDADE NA MARCA E AUMENTA VALORES FUTUROS. É uma bola de neve: os Pateks de hoje estão ultra caros porque os de ontem eram super caros...

O anúncio da Phillips está aqui

http://www.phillipswatches.com/highlights-from-the-geneva-watch-auction-six/

O relógio em si

http://www.phillipswatches.com/wp-content/uploads/2017/09/111474_SOLDIER_NEW_UC151759-e1506675081594.jpg

E, finalmente, um texto sobre a Omega nas competições e os tais turbilhões

http://www.watchprosite.com/page-wf.forumpost/fi-677/ti-358702/pi-2205377/



Flávio

Seedorf


Leandro

Flávio,

Faltou dizer uma coisa: o relógio é lindo.

Um abraço,
Leandro

Pouron

Relógio espetacular!!!!

Este eu compraria e nao usaria, teria status de troféu - mas óbvio que estou longe de poder comprar, isto é apenas um devaneio rsrs

Comparado aos absurdos estipulado para as outras peças realmente ele está "barato".

flávio

A título de curiosidade, eis os top 3 das competições em Genebra e Neuchâtel, entre 46 a 60.


E o número total de prêmios conferidos em Genebra até 67.



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FALCO

Pela tabela abaixo dá para entender que das trocentas marcas da época, apenas 3 tinham interesse nesta competição.



FRM: contra argumentos, não há fatos !!!

flávio

Ué... Tem a Rolex em quarto ali! Na verdade, as competições eram como a fórmula um: você não colocava carro para perder e tinha que ter cancha para competir. Afinal, a Volkswagen nunca colocou motor para competir em fórmula um... 3500 relógios competiram em competições de observatórios em quase cem anos... Muitos tentaram... Poucos conseguiram... Se sua marca preferida não chegou lá, paciência! Nem todas as marcas chegaram a fórmula um!

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FALCO

​Estatística, tabelas e suas falácias, ou
A diferença entre levantar dados e interpretar dados
Para saber se as 3 não competiam sozinhas é necessário saber o número de movimentos submetidos por cada marca e sem esta informação nada faz sentido.

O exemplo dos motores de F1 é excelente, a lista é:
Ferrari          16 campeonatos
Renault         12
Ford             10
...

Renault, Ford...
Apesar da recente tentativa de atrair novos fornecedores, a F1 hoje tem 4 marcas de motor, não tem mais porque NINGUÉM MAIS TEM INTERESSE EM ENTRAR, nem a Ford que já provou que consegue

Vai ter gente dizendo que todo ano que a FORD não ganha ela perde, mesmo nos anos que ela não compete...
Ou talvez que a Ford seja campeã todo ano do campeonato de formula Ford.
FRM: contra argumentos, não há fatos !!!

FiLFlames


jfestrelabr

Citação de: FALCO online 08 Outubro 2017 às 22:25:59
​Estatística, tabelas e suas falácias, ou
A diferença entre levantar dados e interpretar dados
Para saber se as 3 não competiam sozinhas é necessário saber o número de movimentos submetidos por cada marca e sem esta informação nada faz sentido.

O exemplo dos motores de F1 é excelente, a lista é:
Ferrari          16 campeonatos
Renault         12
Ford             10
...

Renault, Ford...
Apesar da recente tentativa de atrair novos fornecedores, a F1 hoje tem 4 marcas de motor, não tem mais porque NINGUÉM MAIS TEM INTERESSE EM ENTRAR, nem a Ford que já provou que consegue

Vai ter gente dizendo que todo ano que a FORD não ganha ela perde, mesmo nos anos que ela não compete...
Ou talvez que a Ford seja campeã todo ano do campeonato de formula Ford.

Falou tudo, e concordo com vc só três ali estavam afim dessa disputa, e Maia, para de falar e vai transar cara, voce esta precisando, bela aula no primeiro post, apenas nele.
Rolex ou Rolex.

Fórum Genérico, respostas genéricas.

flávio

#10
Eu estou com um pouco de preguiça de estender o tópico e refutar os sólidos argumentos acima sobre a bobagem que eram as competições na indústria relojoeira... Deixo aqu, então, apenas para complementar, um texto Seiko enaltecendo seus produtos e, claro, não perdendo a oportunidade de espetar: quando viram que iríamos ganhar, suspenderam as competições...

http://museum.seiko.co.jp/en/history/milestone/contest/index.html

A título de curiosidade, os cálculos das colocações dos premiados eram feitos através de fórmulas, que variavam de observatório para observatório. Como ressaltei acima, o recorde mundial de precisão em relógios mecânicos continuou sendo o da Omega, nota 1.73 (0 seria a precisão absoluta). Tá Flávio, mas esse 1.73 equivale a quanto em marcha diária média? Eh... Vão achar que há um erro aí, mas não há. O modelo Omega que enfrentou a última competição e cravou o recorde que permanece até hoje manteve durante toda competição marcha diária média de 0.03 segundos. Sim, não há um zero a mais aí. Num timer digital desses que são usados em assistências técnicas, que só marcam segundos, sequer décimos, a variação do relógio, dia após dia, posição após posição, seria... 0, simples assim.

Manter relojoeiros especializados em ajustes para competição era uma tradição sim de poucas empresas, justamente porque poucas podiam se dar ao luxo de ter tais departamentos, com funcionários pagos e por conta só para fazer isso. Não é por outro motivo, como ressaltei acima, que as competidoras fossem sempre as mesmas: Omega, Longines, Rolex (até 1947 em Neuchatel, esporadicamente em Genebra até o final), Zenith, Patek, Movado, Nardin e outras competissem regularmente. Em Neuchatel o número de empresas menores e independentes era muito maior, sobretudo pela proximidade com o Jura.


Flávio

fbmj

Citação de: jfestrelabr online 11 Outubro 2017 às 10:32:25
Falou tudo, e concordo com vc só três ali estavam afim dessa disputa, e Maia, para de falar e vai transar cara, voce esta precisando, bela aula no primeiro post, apenas nele.
3? Quais seriam?



Enéias

Pergunta bem leiga: para competir era obrigatório o uso de movimento próprio? Pergunto porque a Ulysse Nardin usava máquina FHF. Não era isso?

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flávio

Não era necessário. Aliás, estudantes de escolas de relojoaria competiam costumeiramente, com calibres de terceiros, em nome próprio.

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Enéias

Curioso isso para mim. De uma certa forma eu via isso como competição entre marcas. Cada grife representando a si mesma. Sinceramente? Faria mais sentido se fosse assim. Algo como mostrar que determinado fabricante era o melhor em precisão. Em todo caso, vivendo e aprendendo. Valeu Flávio.