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Alguns vídeos bem bacanas de escapamentos comuns

Iniciado por flávio, 21 Fevereiro 2019 às 17:16:00

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flávio

Escapamento isso, escapamento aquilo, encontrei uns vídeos na rede com demonstrações de como ocorrem bloqueio e liberação do conjunto de engrenagens e, consequentemente, a "marcação" de horas. Lembrem-se que no conjunto do escapamento encontra-se o efetivo órgão regulador do tempo, que pode ser um pêndulo ou o balanço, no caso dos relógios de pulso. E que se o escapamento não fornecesse, em intervalos de tempo regulares, energia ao órgão regulador, ele pararia. Pensem em um barbante no qual vocês prendem um peso na ponta e o colocam em movimento: se não imprimirem impulso regularmente com as mãos, a tendência dele será se estacionar no ponto de equilíbrio (a mesma coisa ocorre num balanço). A evolução do escapamento foi uma busca por métodos que permitissem o melhor fluxo de energia (mais constante) e, menores perdas.

Eis alguns que facilmente encontramos por aí, e suas vantagens e desvantagens.


1) Escapamento por pinos.

Tenho certeza que algum relógio de parede ou pedestal com o qual se depararam tinha esse escapamento. A vantagem é que o reparo é fácil, porque se um pino quebra, é possível trocá-lo, ao invés da roda inteira. Outra coisa é o curtíssimo "ângulo de levantamento" (a parte do arco de giro, no caso do balanço, ou do movimento pendular, no caso do pêndulo, no qual de fato ocorre o impulso e bloqueio. É a distância no círculo entre o "tic" e o "tac). Com o ângulo curto, há maior estabilidade teórica do movimento do órgão regulador. Problemas desse escapamento, que pode ser visto num exercício mental no vídeo: lubrificação. É difícil manter o lubrificante nos pinos, eles tendem a ser arrastados para fora das áreas de contato pelas palhetas.

https://www.youtube.com/watch?v=u4owO5W56HA


2) Escapamento de repouso por lâmina metálica

Figurinha carimbada em 99% dos relógios de parede das casas da vovó ou tios chatos. Esse escapamento, numa versão mais elaborada, foi inventado por George Graham e tinha (tem) grandes vantagens em relação aos demais. Já fizeram aquela coisa estúpida de o ventilador estar girando para um lado e, subitamente, você inverter o sentido de giro para o outro? Pois é... Até que as forças de fato atuem no troço, ele continua seu giro e, quando vai inverter, dá uma "volta" para trás, uma derrapadinha. Visualizem isso... Nos escapamentos de âncora normais, o ponteiro, a cada tic, volta um pouquinho para trás, porque todo conjunto de engrenagens é parado subitamente e, então, este retrocede um pouquinho. Isso é perceptível em relógios de pêndulo com escapamento de âncora e, claro, não é bom, é energia sendo perdida para fazer outra coisa. Graham usou o mesmo sistema do escapamento de âncora, mas mudou duas coisas: formato da roda de escape, que tem uns dentes pontudos, e posição das levees (palhetas), que estão na cicloide. Ou seja, quando uma palheta entra no meio dos dentes, a cada final de ciclo, ela "repousa" sem trancos até iniciar o movimento. O movimento é fluido e sem perda de energia. Esse escapamento é fodão, pouco desgaste, altíssima precisão e, nessa versão do vídeo, feito de maneira tabajara de tudo, com uma mera tira metálica dobrada.

https://www.youtube.com/watch?v=8x-KEeIeZ4c


3) O escapamento de repouso equidistante

Versão de luxo do acima referido, usado em reguladores de pêndulo de precisão.

https://www.youtube.com/watch?v=siVLGxlPT5k


4) O escapamento de âncora com recuo


O modelo acima ao qual me referi, que parece um "de repouso" no desenho, mas vejam no vídeo que, a cada inversão de direção do pêndulo, a roda de escape (e todas as engrenagens), volta um pouquinho até o troço "pegar embalo" para superar o sentido de giro. Titular em vários relógios da casa das vovós

https://www.youtube.com/watch?v=N240IYgClKI

5) O escapamento de âncora com roda "club tooth"

Ou seja, o que você está vendo no seu relógio agora, de pulso, muito embora no vídeo esteja num relógio de pêndulo. Ele tem as vantagens do de repouso, ou seja, não retrocede as engrenagens, mas aprimora ângulos, de maneira a possibilitar maior estabilidade no movimento:

https://www.youtube.com/watch?v=Fo6N3tuC0wE

6) Bônus Mosca Branca. Escapamento "Gafanhoto" de Jonh Harrison


Eu já vi em Londres, nos seus relógios, mas acho que só ele usou isso de forma satisfatória. Percebam, inicialmente, que no vídeo claramente há recuo da engrenagem no tic e tac. Pô Flávio, então o escapamento tem recuo? Tem... Mas vejam o pragmatismo do John Harrison. Ao invés de as palhetas deslizarem sobre os dentes da roda de escape, o que acontece em TODOS os escapamentos acima, ao bloquear (e impulsionar), ela se "desgruda" da roda dando um saltinho, como num gafanhoto, o que não gera atrito nenhum e não precisa de lubrificação. Dois comentários... Quando Rupert Gould restaurou os Harrisons, disse que o ajuste de tensão dessas molas do escapamento que propiciam os saltinhos era um porre. Não precisa ser relojoeiro para entender o quão complexo é sua construção, basta compará-los aos demais: excelente na prática, mas péssimos para produção em massa. Aliás, quando Edmon Halley (o do Cometa), recebeu John Harrison no Observatório de Greenwich e começou a explicar-lhe o funcionamento, o astrônomo disse: cara, eu não entendo nada do que você está falando, tome essa carta de recomendação e vá conversar com o George Graham, ele é o relojoeiro real e muito honesto, não vai roubar suas ideias. E lá foi ele. Estranharam-se no começo, Graham o achou um matuto da roça mas, quando ele mostrou os planos do escapamento... Você não quer ficar para jantar? O resto é história... Ps. Depois Harrison contou que viu os relógios de Graham com escapamento de repouso funcionando e os achou "fraquinhos". Porém, como eram bem precisos e fáceis de construir, o escapamento Graham se tornou o padrão em reguladores de precisão até a invenção do quartzo, acreditem se quiser.


https://www.youtube.com/watch?v=7TBWJC0HYRE


Flávio


paulobalsan

Citação de: flávio online 21 Fevereiro 2019 às 17:16:00
Escapamento isso, escapamento aquilo, encontrei uns vídeos na rede com demonstrações de como ocorrem bloqueio e liberação do conjunto de engrenagens e, consequentemente, a "marcação" de horas. Lembrem-se que no conjunto do escapamento encontra-se o efetivo órgão regulador do tempo, que pode ser um pêndulo ou o balanço, no caso dos relógios de pulso. E que se o escapamento não fornecesse, em intervalos de tempo regulares, energia ao órgão regulador, ele pararia. Pensem em um barbante no qual vocês prendem um peso na ponta e o colocam em movimento: se não imprimirem impulso regularmente com as mãos, a tendência dele será se estacionar no ponto de equilíbrio (a mesma coisa ocorre num balanço). A evolução do escapamento foi uma busca por métodos que permitissem o melhor fluxo de energia (mais constante) e, menores perdas.

Eis alguns que facilmente encontramos por aí, e suas vantagens e desvantagens.


1) Escapamento por pinos.

Tenho certeza que algum relógio de parede ou pedestal com o qual se depararam tinha esse escapamento. A vantagem é que o reparo é fácil, porque se um pino quebra, é possível trocá-lo, ao invés da roda inteira. Outra coisa é o curtíssimo "ângulo de levantamento" (a parte do arco de giro, no caso do balanço, ou do movimento pendular, no caso do pêndulo, no qual de fato ocorre o impulso e bloqueio. É a distância no círculo entre o "tic" e o "tac). Com o ângulo curto, há maior estabilidade teórica do movimento do órgão regulador. Problemas desse escapamento, que pode ser visto num exercício mental no vídeo: lubrificação. É difícil manter o lubrificante nos pinos, eles tendem a ser arrastados para fora das áreas de contato pelas palhetas.

https://www.youtube.com/watch?v=u4owO5W56HA


2) Escapamento de repouso por lâmina metálica

Figurinha carimbada em 99% dos relógios de parede das casas da vovó ou tios chatos. Esse escapamento, numa versão mais elaborada, foi inventado por George Graham e tinha (tem) grandes vantagens em relação aos demais. Já fizeram aquela coisa estúpida de o ventilador estar girando para um lado e, subitamente, você inverter o sentido de giro para o outro? Pois é... Até que as forças de fato atuem no troço, ele continua seu giro e, quando vai inverter, dá uma "volta" para trás, uma derrapadinha. Visualizem isso... Nos escapamentos de âncora normais, o ponteiro, a cada tic, volta um pouquinho para trás, porque todo conjunto de engrenagens é parado subitamente e, então, este retrocede um pouquinho. Isso é perceptível em relógios de pêndulo com escapamento de âncora e, claro, não é bom, é energia sendo perdida para fazer outra coisa. Graham usou o mesmo sistema do escapamento de âncora, mas mudou duas coisas: formato da roda de escape, que tem uns dentes pontudos, e posição das levees (palhetas), que estão na cicloide. Ou seja, quando uma palheta entra no meio dos dentes, a cada final de ciclo, ela "repousa" sem trancos até iniciar o movimento. O movimento é fluido e sem perda de energia. Esse escapamento é fodão, pouco desgaste, altíssima precisão e, nessa versão do vídeo, feito de maneira tabajara de tudo, com uma mera tira metálica dobrada.

https://www.youtube.com/watch?v=8x-KEeIeZ4c


3) O escapamento de repouso equidistante

Versão de luxo do acima referido, usado em reguladores de pêndulo de precisão.

https://www.youtube.com/watch?v=siVLGxlPT5k


4) O escapamento de âncora com recuo


O modelo acima ao qual me referi, que parece um "de repouso" no desenho, mas vejam no vídeo que, a cada inversão de direção do pêndulo, a roda de escape (e todas as engrenagens), volta um pouquinho até o troço "pegar embalo" para superar o sentido de giro. Titular em vários relógios da casa das vovós

https://www.youtube.com/watch?v=N240IYgClKI

5) O escapamento de âncora com roda "club tooth"

Ou seja, o que você está vendo no seu relógio agora, de pulso, muito embora no vídeo esteja num relógio de pêndulo. Ele tem as vantagens do de repouso, ou seja, não retrocede as engrenagens, mas aprimora ângulos, de maneira a possibilitar maior estabilidade no movimento:

https://www.youtube.com/watch?v=Fo6N3tuC0wE

6) Bônus Mosca Branca. Escapamento "Gafanhoto" de Jonh Harrison


Eu já vi em Londres, nos seus relógios, mas acho que só ele usou isso de forma satisfatória. Percebam, inicialmente, que no vídeo claramente há recuo da engrenagem no tic e tac. Pô Flávio, então o escapamento tem recuo? Tem... Mas vejam o pragmatismo do John Harrison. Ao invés de as palhetas deslizarem sobre os dentes da roda de escape, o que acontece em TODOS os escapamentos acima, ao bloquear (e impulsionar), ela se "desgruda" da roda dando um saltinho, como num gafanhoto, o que não gera atrito nenhum e não precisa de lubrificação. Dois comentários... Quando Rupert Gould restaurou os Harrisons, disse que o ajuste de tensão dessas molas do escapamento que propiciam os saltinhos era um porre. Não precisa ser relojoeiro para entender o quão complexo é sua construção, basta compará-los aos demais: excelente na prática, mas péssimos para produção em massa. Aliás, quando Edmon Halley (o do Cometa), recebeu John Harrison no Observatório de Greenwich e começou a explicar-lhe o funcionamento, o astrônomo disse: cara, eu não entendo nada do que você está falando, tome essa carta de recomendação e vá conversar com o George Graham, ele é o relojoeiro real e muito honesto, não vai roubar suas ideias. E lá foi ele. Estranharam-se no começo, Graham o achou um matuto da roça mas, quando ele mostrou os planos do escapamento... Você não quer ficar para jantar? O resto é história... Ps. Depois Harrison contou que viu os relógios de Graham com escapamento de repouso funcionando e os achou "fraquinhos". Porém, como eram bem precisos e fáceis de construir, o escapamento Graham se tornou o padrão em reguladores de precisão até a invenção do quartzo, acreditem se quiser.


https://www.youtube.com/watch?v=7TBWJC0HYRE


Flávio
Parabéns pelo material Flávio, muito didático e ilustrativo!


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flávio

Aliás, como exemplo, tenho esse Hermle de mesa em casa, com o bom e velho escapamento Graham, prestem atenção. Esse relógio está funcionando continuamente há dez anos e não tem nenhum método de compensação para temperatura no pêndulo. Ainda assim, sem qualquer ajuste, mantém uma marcha de 5 minutos de atraso por semana. A corda é para 16 dias.



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Jefferson

Muito bacana este conjunto de videos e suas explicações sempre muito didáticas e com toques de historia. Flavio, você manda muito bem...