Olha, ainda estou em dúvida se o valor de 15 mil refere-se ao relógio completo, para venda, ou ao reparo. Se for o preço de venda do relógio - e espero que não tenha pago isso - é bizarro, surreal, absurdo, inacreditável. Aliás, é impressionante a quantidade de pessoas que me procuraram nesses 25 anos que mexo com relojoaria dizendo ter o velocino de ouro, e cobrando mundos e fundos por ele, para descobrirem que não tinham nada e que eu não pagaria nem uma pipoca queimada nle.
Se for o valor cobrado por um suposto reparo, me passe o endereço do "relojoeiro" para eu interná-lo.
Vou só te dar uma base de valores para compreender o que estou dizendo. Se acompanhou o tópico a respeito da restauração do relógio dos meus avós, um Urgos Carrilhão Pleno (ou seja, um relógio CARÍSSIMO NA ÉPOCA DA COMPRA, o equivalente a cerca de 30 salários mínimo de 1981, ano que foi comprado. Era o modelo top de linha da Urgos, só ricos tinham isso em casa), deve ter percebido que, sim, o relógio estava em perfeito estado de funcionamento, precisando "apenas" de revisão. Na revisão, um relojoeiro de bastante confiança que conheço desmontou todo relógio, lavou 3 vezes o mecanismo (pois o relojoeiro anterior havia usado óleo comum no mecanismo, que não saía nem a pau, mesmo com sucessivas lavagens), apertou todos os elos das três correntes, ajustou as batidas (algo que demandou um bom trabalho, pois foi feito in loco, na minha casa, necessitando umas três visitas), utilizou somente lubrificantes MOEBIUS e... Cobrou-me 1200 reais.
O gabinete, que não tinha qualquer dano, mas precisava ser totalmente desmontado para lixamento do verniz antigo e colocação de novo, foi restaurado por um conhecido artesão de móveis antigos, demorou 60 dias, e custou 1600 reais.
O relógio, como devem ter visto pelas fotos, está zero. Vejam, quando digo zero, é zero mesmo, como se houvesse saído da loja ontem. E... Toda restauração, mecanismo, gabinete, etc, custou me no total 2800 reais, o que reputei bastante justo.
Um relógio do tipo que tenho em casa, REPITO, provavelmente a coisa mais complexa e mais cara já vendida em Pindorama relacionado a pedestal, provavelmente vale hoje, se fosse para eu chutar um preço, comparando com modelos atuais do mesmo nível (acreditem, a Hermle tem representação no Brasil, fica em Gramado, a loja é FANTÁSTICA!), usados que já vi sendo vendidos (todos em estado ruim), e um pouco de subjetividade, custaria uns 20 a 30 mil reais.
Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas... Como já disse o colega forista Estrela, "o mercado é soberano". O que quero dizer é que antes de dizer que um sapato custa x, você tem que conseguir um pé y para calçá-lo. E hoje, no atual mercado, mesmo que eu quisesse vender o relógio Urgos dos meus avós em estado zero pela minha menor estimativa, 20 mil, eu teria EXTREMA dificuldade, pois esse tipo de objeto não tem muitos aficionados. Resumindo para ficar claro: a liquidez de um relógio de parede e pedestal hoje é próxima de zero.
Claro, eu não venderia o relógio por um milhão de reais, pois se tornou o objeto, junto com o Omega Constellation também deixado pelo meu avô, mais precioso da minha coleção: se alguém me desse hoje uma bacia com 200 Rolexes dentro eu não trocava no Urgos pedestal que tenho em casa...
E aí chego, depois de tanta divagação, onde eu queria. Existe uma diferença como daqui até a Lua entre o valor sentimental que uma pessoa dá à coisa, e depois busca "transformar" em valor econômico, e o valor que de fato O MERCADO dá à coisa. Na maioria das vezes, o colecionar confunde os dois aspectos e acha que pode cobrar, ou deve cobrar, muito mais do que uma coisa vale no bem que tem em mãos. E ai de você, ai de você se depreciar o bem!
Flávio