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Decifrando um teste de estanqueidade

Iniciado por paulobalsan, 24 Novembro 2020 às 16:57:32

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paulobalsan

Recentemente mandei um relógio pra ser testado quanto á sua estanqueidade e eis o resultado abaixo.

A princípio não entendi nada, depois de pesquisar um pouco entendi quase nada. Os amigos conseguem me ajudar?

O pouco que descobri é que a máquina usa ar pra simular a pressão exercida pela água e o que é medido é a deformação que essa pressão causa nos materiais do relógio  (principalmente caixa e cristal)
O primeiro teste é no vácuo, ou seja, exercendo uma pressão "negativa" e o segundo é com a pressão "positiva".
O resultado percentual, segundo li em algum lugar, significa o percentual de ar que consegue "entrar" na caixa por minuto. É isso mesmo? Se for, como o teste poderia ter passado?
O relógio é resistente a 300m, pq o teste foi feito com 9 bar e não com 30? É feita uma extrapolação em cima do resultado com 9 bar?

Test pressure: -0,5 bar
Maximum deformation: -2,54 um (o "u" é o símbolo de mícron)
Tightness value: +0,4%/min
Test1 ok

Test pressure: +9,0 bar
Maximum deformation: +53,62 um
Tightness value: +2,6%/min
Test2 ok


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igorschutz

Esse teste aí que você fez é um teste preliminar. Se passar nele, aí faz-se o teste de verdade, em um equipamento que vai água, e testa para os 30 bar.

Se o teste foi feito na Assistência Autorizada, penso que eles têm de testar até os 30 bar de fato.
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

paulobalsan

Valeu pela resposta Igor.
Sim, foi feito na Watch time, mas somente foi feito esse teste preliminar como vc disse. Talvez seja parte do procedimento pois o relógio ainda se encontra na garantia.


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Adriano

#3
O teste a seco não passa de 9 bar. É uma limitação do equipamento. O teste a seco é o único que dá para ser feito na hora, com relativa segurança. Para testar na pressão máxima do relógio, somente fazendo o teste na água. Nesse caso, o relógio precisa não apenas passar no teste a seco, mas ser bem avaliado para ver se ele está apto para passar pelo teste na água. Normalmente só se faz o teste na água se o relógio for novo ou se tiver todas as vedações trocadas e checadas, ou pelo menos bem inspecionadas. Caso contrário é um risco, pois se ele não passar, é um teste potencialmente destrutivo. E ele demora algumas horas para ser realizado por completo, e é feito com 25% de margem de segurança, ou seja, no caso de um relógio de 300m, o teste é feito a 37,5 bar.

Sobre a interpretação do teste a seco, ele é uma analogia à norma ISO. Parte da norma reza que o relógio para ser considerado estanque, não pode permitir a entrada de mais de 50 ug/min de ar quando submetido à pressão. Essa quantidade de ar representa 1% do volume interno do relógio. Porém, a pergunta é: de qual relógio? Essa medida é relativamente empírica e se baseia em um relógio padrão, médio, lá da época em que a norma foi elaborada. Relógios de diferentes tamanhos têm volumes diferentes e aí o limite passa a não ser mais 50 ug/min. Qual é então? O equipamento é que estima isso baseado na configuração que você informa a ele, como o tamanho do relógio, material/dureza da caixa, etc. Aí ele converte esse 1% de volume de acordo com essas informações e testa a deformação do relógio para calcular se o vazamento foi menor ou igual a 1%. Ainda em outras palavras, o equipamento mede a deformação e com isso estima se o relógio encolheu ou expandiu, e assim estima também o quanto dessa deformação equivale ao volume dele.

Na prática, o relógio contrai com a pressão (ou expande com o vácuo, que é um teste a mais, e não previsto pela norma) e quando a contração se estabiliza, o aparelho começa a contar um minuto. Se ele começar a relaxar, significa que está vazando, e esse relaxamento não pode ultrapassar 1% do volume. O relaxamento é entendido como uma % negativa. Se o relógio continuar contraindo, a % é positiva e significa que não apenas NÃO tem ar entrando nele, como significa que ele continua contraindo após aplicada a pressão (ou expandindo quando é aplicado o vácuo).

Ou seja, eu seus dois testes o relógio não relaxou, ou seja, ele nenhum ar entrou nele. Mas mesmo se entrasse, ainda seria aceitável. Na verdade todos os fabricantes nem consideram 1% de volume, mas 0,5%. Ou seja, o teste só seria reprovado se o resultado fosse abaixo de -0,5%.

Abs.,

Adriano

paulobalsan

Muito obrigado pela aula Adriano, agora estou mais tranquilo. Vou poder entrar com ele na piscina sem medo. [emoji23]


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flávio

E para exemplificar o teste mecânico, confesso que, burro que sou, só compreendi há poucos meses, ao ver um vídeo, como funcionava.

O que ocorre é o seguinte. Você coloca o relógio numa câmara selada com água ao fundo, e preso por um gancho (sem contato com a água). Então, você pressuriza a câmara, forçando, se houver algum tipo de vazamento, o AR PARA DENTRO DO RELÓGIO. Você, então, aguarda alguns minutos para a pressão estabilizar na câmara (e dentro do relógio, se este possuir algum vazamento). Então, através de um pistão, VOCÊ ABAIXA O RELÓGIO DENTRO DA ÁGUA. Então, você despressuriza a câmara. Se houve algum vazamento, por óbvio, o ar SAIRÁ de dentro do relógio, formando bolhas e possibilitando descobrir onde está o vazamento. Eu não sei porque cargas d´água achava que o teste era feito através de pressurização e observação de água, DENTRO, do relógio...

Enfim. O teste tem que ser feito com o relógio desmontado, sem mostrador e movimento dentro da caixa. Como a caixa estra pressurizada e ar está SAINDO de dentro do relógio, é improvável que, numa falha pequena, água penetre no seu interior. Mas numa falha total, o colapso das juntas, o relógio pode perder pressão rapidamente (ou mesmo "explodir" as juntas) e encher de água.

Portanto, o teste automático e sem água, citado acima, é feito rapidamente, na frente do cliente, e sem risco. Mas ele é baseado em algorítimos, não no "real deal". O "real deal" é com a caixa sem movimento, mostrador, etc, pressurizada e dentro da água.

Vejam aqui a falha de um Seiko para compreenderem o que eu disse:

https://www.youtube.com/watch?v=CB4ol8FckGc

Adriano

Correto, mas um detalhe importante, que infelizmente nem relojoeiros sabem: isso não é um teste para certificar a estanqueidade, mas um teste para identificar onde está o vazamento (uma vez que você já detectou que há uma falha, mas só não conseguiu identificar onde). Ele não certifica nada, até porque ele vai até 3 bar apenas.

Muitos técnicos não sabem disso para falar a verdade (tenho sempre cuidado ao falar isso pois muita gente nesse ramo me odeia por dizer isso). Como esse equipamento é mais simples e mais barato que um de alta pressão, muitos técnicos só têm ele e confiam apenas nele, mas infelizmente ele não certifica a estanqueidade de um relógio, apesar de muita gente não gostar que eu diga isso.

O teste na água a que me refiro é o teste de condensação. Nesse teste o relógio é literalmente submetido à pressão máxima dele, dentro de um tanque/câmara com água. Esse teste não é recomendado em relógios que não sejam de mergulho, mas pode sim ser feito. E sendo um relógio de mergulho, submete-se ele à 25% a mais da pressão máxima, ou seja, um de 300m testa-se a 375 (37,5 bar), um de 600m testa-se a 750, e assim vai. O aparelho normalmente é fabricado pela Roxer, chama-se Natator, e tem um que vai até 40 bar e outro até 120 bar, para teste individual (um por um), e tem também um panelão onde testa-se vários por vez e não lembro qual pressão ele suporta.

Mas é isso, existe um procedimento, que varia de marca para marca, o relógio normalmente fica na água sem pressão por alguns minutos, para a água preencher todos os espaços externos, depois a pressão é incrementada aos poucos até o limite, permanece nesse limite por alguns minutos ou horas (às vezes 2~3 horas), aí retira, seca, aquece para se caso humidade tenha entrado, ela evapore, e aí faz-se o controle final, pingando água fria sobre o vidro. Se umidade tiver entrado, ela vai condensar sob o vidro.

Esse teste é potencialmente destrutivo. Aliás a única vez que presenciei isso foi justamente eu testando pessoalmente um relógio do Igor que tinha acabado de passar por revisão. Era um Seiko Diver. Estava com um vidro aftermarket, visualmente idêntico ao original. Passou no teste a seco perfeitamente, estava prontinho, mas no teste na água o vidro quebrou, muito antes dos 200m. Literalmente implodiu e o relógio encheu de água na hora. Não danificou nada, mas precisou que tudo fosse desmontado e seco imediatamente, e feita uma nova revisão e tudo.

Por isso que esse teste só deve ser feito se tiver checado que tudo esteja em ordem, com peças novas, originais, etc. Vejam aí como um simples vidro, ao não ser original, mesmo tendo todas as dimensões, espessura, tudo igual ao original, não tinha a mesma resistência mecânica. Por isso, sem chance fazer esse teste sem ser um relógio em perfeitas condições.

Abs.,

Adriano

flávio

#7
Não sabia dessa máquina. Um adendo: as máquinas Bergeon mais atuais chegam a 11 bar, ao contrário das antigas, que só iam a 3. Ah! E ele só chega a 6 com a bomba manual. Para ir além, tem que usar compressor, por isso a válvula lateral.

https://www.boley.de/en/shop/3447.bergeon-newtech/2275.leak-tester

paulobalsan

Adriano, não seria possível fazer esse teste de condensação sem o movimento e o mostrador assim como é feito o outro teste? Pra evitar possíveis danos?


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Adriano

Possível é, mas ele perde o propósito, de certificar que, naquele momento e situação, o relógio está vedado. Se você tiver que abrir ele de novo, tirar coroa, colocar tudo dentro, recolocar coroa, reposicionar junta de fundo, fechar de novo, você teria que testar novamente. Perde o sentido.

Risco de danos há, mas eu mesmo só presenciei um caso em todos esses anos. Eu diria até que foi uma falha minha. Eu não deveria ter testado um relógio que eu não sabia o histórico. Se você se certifica de tudo, a chance de algo dar errado é baixíssima, tanto que nunca mais vi isso acontecer.

A diferença é justamente que no teste que o Flávio mostrou, você faz ele já sabendo que tem uma falha. Ele é feito para identificar o local do vazamento. A chance de entrada de água é bastante provável. No teste de condensação não, ele serve para certifica-se de que tudo está correto. Se houver qualquer dúvida, não deve ser feito.

Abs.,

Adriano

tudodigitalizado

Ótimo tópico! Este tipo de assunto é que valoriza o grupo e amplia os conhecimentos!! Parabéns!'


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AlexandreMed

Parabéns meus amigos! Verdadeira aula!!


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FSV

Coloca nos tópicos fixos, que esse vale MESMO!! [emoji1306][emoji1306]

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"Os piores demônios são os demônios da cabeça!" (José Mojica Marins)

ejr888

Por isso os cara da Sinn vivem postando foto de relógio com água congelando e provando que não condensou depois de um teste de estanqueidade.


Agora está explicado.

ejr888