Como já contei aqui em detalhes, herdei da minha avó, e restaurei, um carrilhão de pedestal da marca alemã Urgos, assunto discutido neste tópico:
http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php/topic,15748.msg321069.html#msg321069Entrando em detalhes para quem nunca viu, ou se já viu nunca "conviveu" com um carrilhão de pedestal. O modelo que tenho é caso é considerado "pleno", porque possuía todas as funções possíveis para ajuste de batidas de um carrilhão. No caso do relógio dos meus avós, o relógio é um carrilhão com alerta de quartos progressivo na melodia. Ou seja, a cada quarto de horas, automaticamente, ele dispara a melodia. E a melodia é progressiva, ou seja, no primeiro quarto o relógio toca a primeira estrofe da melodia; no segundo quarto, a primeira estrofe e segunda; no terceiro quarto, 3 estrofes; na hora cheia, a melodia é tocada em 4 estrofes e, então, a badalada indicando as horas é tocada. Dentro do período de uma hora, portanto, é possível saber, "de ouvido" quantos minutos se passaram. A complicação era extremamente útil num período no qual a iluminação pública e das residências era praticamente inexistente e as pessoas precisavam saber as horas "de ouvido". E, aliás, há relógios públicos extremamente famosos que ainda possibilitam isso, por exemplo, o Relógio da Torre do Parlamento de Londres (Big Ben).
No caso do relógio que tenho em casa, é possível optar, através de uma alavanca seletora de fácil acesso, por três melodias: Westminster (do Big Ben); Whittington (da capela St Mary Le Bow em Londres), St Michael (Estados Unidos). Aliás, as duas últimas são muito mais complexas e com mais notas do que as tradicionais do "Big Ben", para quem já ouviu... E, finalmente, há a opção do silêncio, que é o padrão aqui em casa, uma vez que se o relógio estiver "armado", ele tocará inacreditáveis 35040 vezes ao ano!
A título de exemplo, vejam este vídeo do Yotube com a melodia Whittington e prestem atenção na complexidade apenas do mecanismo de batidas e qualidade do som acústico. Sim, o som acústico de um carrilhão de pedestal, até mesmo pelo tamanho da caixa, é algo que um relógio menor NUNCA consegue alcançar.
https://www.youtube.com/watch?v=X_qsxI3PF8oÉ evidente que isso consome MUITA energia do relógio. No caso do carrilhão instalado em casa, há 3 cordas distintas, por peso, que controlam todo relógio: uma corda é apenas para o funcionamento do mecanismo para marcação de horas, outra para o toque das músicas e, finalmente, uma para as batidas de horas. Todas funcionam por 8 dias seguidos ininterruptos (normalmente a corda é dada aos domingos, havendo um dia de "lambuja"). Ou seja, o hábito neste tipo de relógio é a corda a cada semana.
Agora imaginem transportar todo esse tipo de complicação para um diminuto relógio de pulso. É o que fazem os relógios de repetição de minutos (ainda que sem a melodia de músicas) que, como no caso do Patek, batem as horas automaticamente a cada quarto, até os minutos (por isso repetição de minutos). Há um martelo específico para o toque de horas, com um timbre, há o toque de minutos, em quartos (três martelos funcionando ao mesmo tempo) e o toque de minutos. 35040 vezes ao ano! Mas, como nos relógios de pedestal, há a opção de desligar o sistema (ou, então, permitir seu acionamento apenas a cada hora, para tocar a hora cheia apenas, sem os quartos). Vejam este vídeo, imagens dizem mais do que palavras:
https://www.youtube.com/watch?v=BWObZR4zM4E&feature=emb_logoEnquanto um relógio tradicional possui cerca de 150 a 200 componentes, este chega a 700. E tem um preço: mais de um milhão de dólares...
É um relógio grandalhão, com 45 mm, muito embora relativamente baixo. O acabamento é muito bem feito, com decoração feita totalmente a mão salvo... Salvo a cruz de calatrava que ampliei ao máximo da foto do SJX, para mostrar algo que devem ter em mente. Vejam os chanfrados da ponte na qual está instalada. Perceberam que são ligeiramente arredondados, com vincos na transição e, até mesmo, com uma certa falta de perfeição que os tornam "orgânicos"? Agora prestem atenção no desenho da cruz. Perceberam que os chanfrados são "chapados" em seu desenho? Um é artesanal, outro feito em máquina.
Texto aqui:
https://watchesbysjx.com/2021/01/patek-philippe-grande-sonnerie-6301p-review.htmlFoto do detalhe: