Mais lenha na fogueira sobre o uso ou não de Rolex no topo do Everest

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Offline flávio

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Um assunto que sempre vem a tona é a utilização, ou não, de Rolexes no topo do Everest. Sabe-se que numa tentativa anterior à de 1953, a Rolex, que já há algum tempo tentava vincular a imagem dos seus produtos a pessoas e feitos, forneceu 7 modelos aos alpinistas (expedição suiça de 1952). Diz-se que o Rolex do Tenzig foi usado na expedição anterior (um oyster em ouro) e usado novamente na expedição de 1953... E neste mesmo ano a Rolex forneceu mais 7 exemplares (que, vale a pena repetir, NÃO ERAM EXPLORERS, eis que o modelo sequer existia, mas Oysters normais).

Mas... Afinal de contas, um Rolex chegou ou não chegou no topo? Em artigo publicado há algum tempo, sobre a mesma controvérsia, chegaram à conclusão que definitivamente Hilary usou um Smiths; mas Tenzig teria usado um Rolex, certamente recebido como presente de um dos alpinistas suíços da expedição de 1952, da qual também fez parte. Mas... Por que ele teria usado um relógio em aço (em todas as fotos é isso que aparece) durante toda expedição e justamente um modelo em ouro no topo, dado por um alpinista suíço?

A "lenha" colocada na fogueira, agora, vem de uma congratulação do representante oficial ingles da Rolex à própria Smiths, publicada em meios de comunicação na época. Foram suas palavras:

“We supplied Rolex Oyster Perpetuals for all members of the British Mount Everest 1953 Expedition, but if by a fortuitous chance Sir Edmund Hillary’s watch did not reach him or if he was not wearing it in his ascent of the last few hundred feet, then we regret that our first advertisements in connection with Everest suggested the contrary, although we had every reason to suppose that he received his watch.

“It would appear from Mr. Barrett’s letter that Sir Edmund Hillary was, in fact, only wearing one watch at the summit and that a Smiths watch. We congratulate Smiths on the fact that their Smiths Deluxe ordinary wind wristwatch reached the summit with Sir Edmund Hillary.”


Resumindo... Ele se desculpa pela incorreta suposição que foi feita, a partir dos primeiros anúncios publicados pela Rolex sobre a escalada, a respeito do uso da marca NO TOPO. Diz que, apesar de Rolexes terem sido fornecidos pela marca, de fato apenas um foi usado pelo Hillary no topo, e era um Smiths. E, finalmente, congratula a marca por isso.

Tá... E Tenzig? Pois é... A conclusão lançada pelo articulista do artigo abaixo, que faz todo sentido, é a seguinte: se Tenzig houvesse atingido o topo com um Rolex, por que a própria Rolex, no comunicado oficial acima, não teria feito alarde sobre isso? Mas não só... Nunca o fez, em nenhum anúncio publicado nas décadas seguintes, limitando-se a, GENERICAMENTE, vincular a imagem do novo modelo lançado, o Explorer, ao Everest, mas sem dizer que este foi usado no topo.

Em resumo: há bastante informação nos dias atuais no sentido de que não um, mas VÁRIOS Rolexes foram usados na expedição, até mesmo porque fornecidos pela marca. Há, também, muitos elementos conclusivos no sentido de que Hillary NÃO usou um Rolex até o topo (apesar de EU ter visto o Rolex que ele supostamente usou e está no museu Beyer em Zurich...). E Tenzig? Baseado numa conclusão lógica, parece também não ter usado, caso contrário, a própria Rolex teria propagandeado isso, e não o fez.

É possível colocar a mão no fogo a respeito de tais conclusões? Não, pois as duas pessoas que poderiam solucionar a querela, Tenzig e Hillary, já estão sepultados há muito...

Vejam o artigo, que inclusive aborda outros "mitos".


https://quillandpad.com/2021/01/23/mythbusting-3-persistent-patek-philippe-and-rolex-myths-debunked/

Re:Mais lenha na fogueira sobre o uso ou não de Rolex no topo do Everest
« Resposta #1 Online: 30 Janeiro 2021 às 16:11:02 »
Que coisa em... E eu achava que o Hillary tinha chegado ao topo não só com um Rolex, mas, com o Explorer. Valeu pela polemica.

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Offline ogum777

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Re:Mais lenha na fogueira sobre o uso ou não de Rolex no topo do Everest
« Resposta #2 Online: 17 Fevereiro 2021 às 11:11:50 »
Marketing, marketing, marketing...

As empresas tentam "agregar valor" a seus produtos das formas mais variadas. Rolex foi das mais eficientes nisso, tanto que sobreviveu à era do quartz que devastou a indústria dos relógios mecânicos, caindo pra cima.

Lembro, quando criança, de ler páginas de propaganda da Rolex nas Seleções do Reader's Digest. Rolex sempre aparecendo como relógio usado por pessoas extraordinárias. Inclusive lembro dessas publicidades do Explorer sendo usado no Everest.

Bom, eu era criança e fascinado por aventuras. Parecia-me, pelas publicidades, que se eu não tivesse um Rolex nunca poderia participar de alguma aventura.

Agora é tarde. Rolex já fez seu marketing bem feito. Os Submariners e outros relógios "de aventura" da Rolex já estão cheios de blings e habitam "selvagens" escritórios corporativos e outros ambientes nem um pouco outdoor.

Afinal, são poucos, muito poucos, os que vão arrastar o seu Rolex na areia e nas pedras do fundo mar, ou nas rochas de uma caverna. Enquanto isso, meu G-Shock GD-400 HUF tem arranhões nas proteções de metal, e de vez em quando o lavo no tanque, com sabão e uma escovinha. E nem sou tão aventureiro assim. Hehe.

Re:Mais lenha na fogueira sobre o uso ou não de Rolex no topo do Everest
« Resposta #3 Online: 19 Fevereiro 2021 às 22:43:00 »
Aquele Smiths original do Hillary era lindo, diga-se de passagem. Soube recentemente que uma empresa chamada timefactor comprou os direitos de marca e passou a lançar relógios homages da época. E parece que são todos made in England. Máquinas com movimentos miyota.


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Offline flávio

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Re:Mais lenha na fogueira sobre o uso ou não de Rolex no topo do Everest
« Resposta #4 Online: 20 Fevereiro 2021 às 11:07:02 »
Na minha sincera opinião, colocar um movimento oriental dentro de um relógio "pseudo britânico" é o cúmulo da sacanagem. Sim, 99.999999 por cento das atuais fábricas de relógios não tem NENHUMA conexão com as suas origens, em regra valendo-se de alguma história fantasiosa (ou artificialmente criada) para dar legitimidade ao produto. Mas... Tomemos como exemplo a Lange & Sohne. A Lange atual não tem absolutamente NADA a ver com a histórica Lange comandada pelo próprio, cuja origem atual está muito mais vinculada à Glashutte Original, do Swatch Group, do que a própria Lange. Aliás, vale a pena recordar o longo texto que escrevi sobre relojoaria alemã 

http://relogiosmecanicos.com.br/curiosidades/no-coracao-da-relojoaria-alema/

Porém, apesar de a atual Lange não tem nenhuma vinculação com o Adolph Lange, a não ser terem contratado o bisneto dele para servir como embaixador da marca no lançamento, ninguém nega que eles "honram" a origem: o produto é totalmente alemão, num padrão altíssimo de qualidade e TEM O DNA alemão.

Um relógio Smiths com um mecanismo Miyota não é inglês. E vejam, eu não tenho problema quanto a ingleses usarem ebauches suíços e os modificarem ao ponto de se tornarem algo "inglês, não suíço... Eu tenho problema com relógios que se dizem ingleses e tem um DNA suíço, japonês, etc.

Explico...

Falando particularmente da Smiths, na época que ainda estavam no mercado, ofereciam um bom produto a um preço muito mais acessível do que o suíço. Mas com alguns problemas... O inglês era conservador, inclusive nos seus métodos de produção. Na Smiths, por exemplo, a total intercambiabiliade de peças era uma realidade "pero no mucho" (sobre intercambiabiliade, recomendo meu texto sobre indústria americana, publicado há uns dois ou três meses...). Os relógios da Smiths, mesmo os de pulso da última geração, lá pelos anos 50, 60, precisavam ter certos acabamentos funcionais feitos a mão, o que encareciam o produto: eles simplesmente não atualizavam sua linha de produção... E esse foi um dos motivos para saírem do mercado, como a Waltham saiu, conforme indicado no meu texto sobre indústria americana.

Mas não só... O design deles era peculiar, com platinas 3/4 ou divididas em três peças, acabamento com decoração simples frosted dourado, um simples cliquê de lâmina, sistemas anti choque simples... Mas com bom acabamento de escapamento, rodagem, espirarl de Breguet, etc. Eram relógios visualmente muito simples, mas que entregavam boa qualidade. Mas o mercado queria mais do que isso...

Eu não sei se conseguem compreender o que estou tentando dizer, mas quando você vê um carro alemão, hoje nem tanto, pois tudo se parece, você sabe que aquilo é alemão. Quando você vê um carro francês, você vê que aquilo ali é francês. É parte do DNA local... Então, se eu vir um relógio da Smiths, eu gostaria que ele fosse inglês, pelo menos no design externo e interno.

Para terem uma noção do que estou falando, vejam esse exemplo de Smiths top de linha que achei, em ouro. Vejam que, mesmo sendo em ouro e top de linha, essencialmente o acabamento é simples, como se fossem os relógios de bolso que fabricavam até o século XIX: simples no visual, mas funcionais para o que foram projetados.

https://www.smithswatches.com/