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Le Roy e o primeiro relógio automático de pulso

Iniciado por flávio, 09 Abril 2021 às 11:50:51

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Há um certo ufanismo entre os brasileiros ao atribuir a invenção do relógio de pulso e, de próprio avião, a Santos Dumont... O consenso atual o atribui a Breguet, que teria fabricado um relógio de pulso para a irmã de Napoleão o que, inclusive, consta dos registros do fabricante. Eu disse consenso, porque há registro oficial de sua fabricação até os dias atuais, nos livros da marca, que estão guardados em cofre no museu da Place Vendome (eu vi com meus próprios olhos o cofre, não os livros...). Mas a bem da verdade, já havia notícia de mecanismos pequenos o suficiente mesmo antes de Breguet, para serem colocados em anéis, pingentes, e coisas do tipo usadas pela realeza. Aliás, de acordo com artigo de David Boetcher publicado no "Horological Times", que serve de base para esse tópico, a Rainha Elizabeth I, ainda no século 16, usava um relógio de pulso...

Mas o interessante do artigo não é isso, mas algumas considerações sobre o primeiro relógio de pulso automático. O consenso (mais uma vez o tal "consenso"...) atribui sua invenção a Harwood. Mas mesmo aqueles que atribuem a invenção a Harwood, nos anos de 1920, reconhecem que houve modelos anteriores, muito embora não produzidos em massa e "práticos". Ora, Harwood foi o primeiro ou não?

E no artigo acima indicado, Boetcher indica a existência de anúncios em revistas britânicas, ainda no ano de 1890 (sim, 1890!), que mostram relógios de pulso automáticos produzidos pela empresa francesa Le Roy (a Le Roy desta época tinha conexão direta com Le Roy, o famoso construtor de cronômetros marítimos)

O mecanismo era bastante engenhoso e funcionava da seguinte maneira: o fecho do bracelete era conectado a uma alavanca na caixa que, por sua vez, era conectada a uma catraca interna (vide foto da patente, abaixo). Quando a pessoa desengatava o fecho, necessariamente precisava fazer um movimento que impulsionava a alavanca, o que dava meia corda no relógio. Para reengatar o fecho, mais meia corda era dada. O raciocínio era que ao retirar o relógio de noite para dormir, você daria meia corda nele, só pelo ato de tirar o bracelete; e ao colocá-lo pela manhã, mais meia corda seria dada. O relógio, então, funcionaria o dia inteiro com corda completa.

A patente não informa se havia um mecanismo de segurança para prevenir excesso de corda: afinal, se a pessoa retirasse e colocasse o relógio mais do que duas vezes ao dia, poderia forçar o mecanismo.

Talvez, por isso, NENHUM exemplo conhecido tenha sobrevivido ao tempo, pois foram quebrados e descartados no passado. Mas restaram as propagandas, que foram veiculadas initerruptamente por 2 anos e meio em revistas britânicas e americanas.

Em resumo: se é para efetivamente indicar quem produziu em escala comercial o primeiro relógio de pulso automático, devemos retroceder a Le Roy, que o fez pelo menos 30 anos antes de Harwood.

Link para o artigo, em PDF

https://bhi.co.uk/wp-content/uploads/2020/07/July-HJ-2020-AOTM2.pdf



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Ah! E curioso que sou, fui ao site do Banco da Inglaterra para atualizar os valores dos relógios. O mais barato do anúncio, em ouro, cerca de 7 libras, equivaleria hoje, apenas ajustado pela inflação, a cerca de 1000 libras. Há uma curiosidade técnica no anúncio: o mesmo relógio, mas com movimento com compensação de temperatura, "com garantia de variação de apenas um minuto por semana", o dobro. E o relógio, com adição de pedras preciosas, o triplo. Ou seja, não eram produtos baratos... Aliás, relógios de marcas conceituadas nunca foram baratos, muito embora não tão caros como hoje.

https://www.bankofengland.co.uk/monetary-policy/inflation/inflation-calculator