Menu principal

Sobre pátina, mostradores refeitos e caixas polidas...

Iniciado por flávio, 19 Julho 2021 às 13:56:06

tópico anterior - próximo tópico

flávio

Acabei de ler uma opinião controversa no Time e Tide com a qual concordo. O título é: "sejamos honestos, pátina é apenas uma palavra chique para estragado..."

Há uma necessidade absurda no colecionismo de relógios de manter tudo "como está", ainda que totalmente destruído pelo tempo. São relógios antigos com caixas todas arranhadas (e horrorosa) que não foram, e nunca serão polidas; mostradores totalmente detonados que também nunca serão substituídos ou refeitos... Eu simplesmente não entendo isso... Se um objeto é passível de restauro, por que não fazê-lo? Ora, em todo tipo de colecionismo, seja de armas, de carros, de quadros, de qualquer coisa, ou o colecionador busca o objeto em perfeito estado, ou então, se ele estiver detonado, o restaura. Por que com os relógios isso é diferente? No colecionismo de relógios, não só o estado deplorável do bem, desde que "original" é enaltecido, como às vezes valorizado, em circunstâncias que eu sinceramente não entendo. Por exemplo: o que dizer dos infames mostradores "teia de aranha" dos Rolex? Ora... Spider web dial para mim é uma expressão chique para mostrador estragado, totalmente detonado, mas que algum espertinho de casa de leilões, em algum tempo, criou para "esquentar" o relógio como algo desejável. Eu compreendo que há coisas que envelhecem bem e, portanto, tem que ser deixadas como estão. Mas sejam sinceros: vocês preferem seus relógios totalmente destruídos e arranhados pelo tempo ou recém saídos de uma revisão em estado perfeito? Pois é... Por que diabos então os colecionadores de relógios insistem nesse no sense de relógio não polido, não restaurado, etc? Repito: se o "não restaurado" significa estar como saiu da fábrica num estado razoavelmente apresentável, eu compro a ideia. Mas a quantidade inacreditável de porcaria que vejo sendo vendida em leilões por preços astronômicos, e com visual lixo, simplesmente não entra na minha cabeça. O que acham disso?


Flávio

Ps. O tal comentário que citei acima, do Time and Tide.


https://timeandtidewatches.com/lets-face-it-patina-is-just-a-fancy-word-for-damage/

helio

#1
Uma das amizades que fiz aqui foi o Lobo, com quem mantenho contato até hoje, e discutiamos muito sobre este tema. Eu era totalmente a favor do restauro (talvez até por ser da area de exatas e ver tudo com uma praticidade mais objetiva) e ele um pouco mais conservador (de Humanas). Chegamos a um consenso, se tiver impecavel a ponto de não necessitar restaro é algo que deve ser sim muito valorizado, se tiver um caco uma intervenção que melhore a peça será bem vinda, afinal a intenção é usar o relógio. Alias ele sempre comentava que no colecionismo de automóveis isso não é tão neurotico quanto no de relógios e que em algum momento o bom senso vai acabar prevalecendo.Tenho um tricompax que tem o verniz envelhecendo (está mais queimado em uma das estremidades e sem nenhum craquelamento), seu unico "defeito", mas acho que neste caso especifico não cabivel de intervenção, afinal acho o envelhecimento algo haronioso com a peça; por outro lado já restaurei dois 72C, um cronomat e um 30T2 (jumbo, não achei um mpostrador original, unico pós Sarica) sem nenhum arrependimento. Já polimentos bem feitos não são faceis, rapidos ou baratos (polir um Omega esportivo doa anos 70 é pura arte), dai ou voce faz algo bem feito ou simplismente não faz.
[]s

hottuning

Creio que existam relógios e relógios. Em determinado relógio, com determinada história, o aspecto envelhecido é sim super importante. Imagine um field watch da segunda guerra que foi usado em campo. Precisa ter cara de relógio que passou pelo inferno e voltou. O mecanismo, a meu ver, precisa sim estar impecável, assim como as vedações e pinos. Questão de lógica e bom senso. Porém, existem centenas de outros modelos que simplesmente tem cara de sambado mesmo. Nesses casos, onde não tem história significativa alguma por trás das marcas deixadas, sou totalmente a favor de um restauro completo. Portanto, creio que a resposta nesse caso, como em quase todos aqueles relacionados a relojoaria, é que depende.
Aquele que melhor goza a riqueza é aquele que menos necessidade dela tem.

Epicuro

fbmj

#3
Relógios antigos básicos à venda na realidade Brasil são resumidamente 4 tipos:

. Original impecável: valor ridículo (10-12x)

. Original em estado razoável: valor caro (5-6x)

. Original em péssimo estado: valor real (x)

. Restaurado: valor caro (2-3x, alguns querem vender a preço de original razoável [emoji1750]), mostrador com qualidade de impressão ridícula (não conheço ninguém que faça um serviço minimamente aceitável no Brasil, sim já vi muitos. Na Ásia já vi alguns bem feitos) e garras absurdamente comidas pelo polimento.

Minhas dicas:

Os originais impecáveis são só para os cegos de paixão por determinado modelo, os em péssimo estado podem ser assumidos com muita cautela por quem entende (primeiro estude se é possível encontrar um mostrador melhor para o modelo, caixa, ponteiros e coroa são bem complicados de achar), os restaurados aconselho fugir (o preço é maior que aquele que está em péssimo estado e você ainda vai querer achar e comprar o mostrador original)  e os originais em estado razoável bem pechinchados são o "sweet spot".

Ps: tem gente que curte relógio com visual envelhecido, eu me incluo neste grupo em algumas situações como meu Tissot Antimagnetic bullseye que por ter caixa que não é a prova d'água e o luminoso radioativo, o meu mesmo detonado ainda mantém as características principais do mostrador. Tanto existe público que algumas marcas vendem relógios novos com aparência de velhos (Longines inclusa kkkk).


hottuning

https://www.youtube.com/watch?v=OKAjevrcIzk

Um exemplo do tipo de restauração que eu julgo sensata para um relógio que deve conservar as marcas do tempo, justamente pelo o que ele é.
Aquele que melhor goza a riqueza é aquele que menos necessidade dela tem.

Epicuro

Limão

Citação de: hottuning online 19 Julho 2021 às 19:11:05
https://www.youtube.com/watch?v=OKAjevrcIzk

Um exemplo do tipo de restauração que eu julgo sensata para um relógio que deve conservar as marcas do tempo, justamente pelo o que ele é.

Excelente vídeo. Obrigado por compartilhar, não conhecia o canal.

Adriano

Se alguém tiver boa memória e paciência para procurar, vai ver que eu falei, praticamente nessas mesmas palavras, que pátina era um nome bonito para estragado. Que "tropical dial/hands/bezel" era outro nome bonito para sucata.

Quase me execraram. Que bom que depois de alguns anos de endinheirados sendo feitos de trouxas, alguém com voz nesse mundo (diferente da minha) falou a mesma coisa. Ainda que com alguns anos de atraso.

Abs.,

Adriano