O ano é 1969. Naquele ano Jackie Stewart ganhava a vigésima temporada de fórmula um, Led Zeppelin lançava seu primeiro álbum omônimo, Neil Armstrong pousava na lua, o primeiro relógio movido à quartzo era lançado e coisas nem um pouco agradáveis rolavam no Brasil naquele momento...Enquanto tudo isso acontecia, a Omega lançava um crono excepcional, até para os padrões Omega, que normalmente já são excepcionais: O Seamaster 146.011-69.
A ideia da Omega à época era disponibilizar algo totalmente diferente, desenvolvido para pilotos de automobilismo (muito provavelmente rallys, subidas de montanha, etc), onde o uso do crono fosse facilitado, com os acionadores no topo da caixa e a visualização das informações fosse o mais objetiva possível, com um dial grande para os padrões da época e cores contrastantes nos subdials, ponteiro dos segundos e anel externo. O formato da caixa também deixava a máquina, e portanto o dial, ligeiramente inclinados na direção das 6 horas, eliminando a necessidade de virar o punho em demasiado para conferir as informações enquanto se guiava um Porsche 911S durante o Rally de Monte Carlo. Coisa realmente fina!
O pequeno grande notável recebeu, pouquíssimo tempo depois do seu lançamento, o apelido de Bullhead. A atenção que o modelo atraiu levou ao desenvolvimento, por meio de outras marcas, de cronos com a mesma proposta. Em 1970 a Seiko revelou seu modelo 6138-0040, que só estaria disponível no mercado em 1973. A suíça, Sicura, fez o mesmo em 1974. A Breitling, em 1971, com o modelo 7101. Todos modelos com mais de 42mm de caixa, com baixa quantidade de unidades lançadas e preços altos para o padrão da época. A Citizen, porém, conseguiu realizar um feito, talvez tão notável quanto a Omega; Oferecer um crono "bullhead", em 1971, de dimensões menores (já falarei mais sobre esse detalhe adiante), com todas as complicações oferecidas pelos seus concorrentes mais flyback, por um preço inferior.
No anúncio em alemão está escrito: "Cronógrafo automático Citizen - Muita precisão pelo custo". Detalhe para a ilustração de um carro de corrida com um cisne, de número 7 e patrocinado pela Citizen, que simplesmente inexistia em 1974 (data do anúncio). Um ano depois, na Fórmula Indy, teríamos um carro, azul, de número 35, que ostentaria pela primeira vez a marca Citizen em sua carroceria.
É curioso notar como a Citizen apostou em três frentes para se diferenciar dos seus concorrentes: Preço, tamanho e mais complicações. Tal estratégia visava atingir um público maior. Para usar um crono bullhead de 42...44mm, em 1970, no dia a dia, ou você era de fato um automobilista (e convenhamos que esse público não era muito grande), ou alguém que simplesmente tinha um pulso grande e não se importava em quebrar alguns padrões de tamanho da época...Agora, um 38mm? Um 38 poderia ser usado por um número muito maior de pessoas, mantendo o apelo emocional pelo automobilismo. Afinal, quem gostaria de guiar algo mais discreto, como uma Mercedes 280-SL, com um relógio do tamanho de um diver, e ter que usar aquilo pelo resto do dia? Simplesmente não era prático, nem funcional. E quem diz isso não sou eu, mas a quantidade de relógios vendidos. Inegavelmente a quantidade de Time Challengers no mercado até hoje é muito superior a de qualquer um dos seus concorrentes, inversamente proporcional ao seu preço. Outra grande questão a se considerar é que a crise do quartzo já era uma realidade. Superioridade tecnológica era um fator sério de decisão de compra naquele contexto, talvez (certamente) maior do que atualmente, e oferecer tudo aquilo em um calibre que cabia em uma caixa 38, foi de fato um feito e tanto.