Pois é Tuzão... Eu li há algum tempo um livro sobre o mundo rico dos vinhos, chamado Cork Dork, na qual a autora ressaltava que o maior crítico de vinhos do país pré Robert Parker, o cara da seção de vinhos do NYT (eu esqueci completamente o nome da figura), simplesmente não podia mais escrever sobre centenas de vinhos "cru" franceses porque não só tinham se tornado um assalto de caros como impossíveis de serem achados: havia surgido uma nova classe de "consumidores" (a maioria que não entendia e não entende BOSTA nenhuma sobre vinhos) que haviam comprados todos os bons vinhos do planeta e, por tabela, inflacionado totalmente o mercado. Pô bicho, eu sou macaco velho no mundo da relojoaria, eu lance o blog no ar no ano 2000! O FRM está initerruptamente no ar desde o ano 2001! Eu passei pelo finalzinho da relojoaria mecânica como algo de nerds que só se interessavam por mecânica de movimentos, passei pelos preços baixo, fui ao novo interesse pelo design das peças, naveguei pelo dólar pareado um a um, pelo dólar a 2, 3, 4, 5 e... Pô bicho, o último relógio que comprei na vida foi um Seamaster Aquaterra que na época, há 7 anos, eu julguei um ASSALTO A MÃO ARMADA quanto custou (12 mil reais divididos de 10 vezes na boutique). Meu salário não subiu NADA nos últimos seis anos, nada, nadinha, para dizer a verdade diminuiu, pois eu pagava já absurdos 11% de previdência sobre meu salário, hoje pago 19%, graças ao Paulo Guedes (fora os 27.5% de imposto de renda e mais 1% de contribuição associativa). O maldito Aquaterra custa hoje, se não me engano, 40 mil reais na boutique!
Pô, tenha dó! Os tempos são outros sim, mas como vivi os tempos recentemente passados, não tem como eu simplesmente desligar-me da realidade e falar: ora, os tempos são outros, e simples assim. Quem está chegando agora no hobby já entrou nele com um consolo metido no centro do rabo, ele já sabe a situação. Eu não, eu não tive o consolo metido no meu rabo durante esses 20 anos, não será agora que irei metê-lo lá dentro.
Eu sou ranzinza... Para te dizer a verdade, e venho falando isso há séculos aqui, o aumento DESCOMUNAL de preços sequer foi o "deal breaker" para mim, mas toda postura do mercado atual. É o chatéeeeeeeeeeeeeeerrrrimo Instagram, que abriu sim as portas para uma comunicação rápida com várias pessoas (pô, o Moebius Rassmann, para citar um exemplo, o cara que faz os relógios Atelier de Chronometrie Barcelona, segue meu feed e me manda muitas mensagens privadas! Olha que legal), mas por outro lado abriu as portas do Inferno para um monte de BABACAS e vendedores que só quererem competir com o outro pelo tamanho da pica que possuem. Isso pode ser legal para os outros, não para mim... Tanto é que fugi completamente disso no Instagram, tornando me um peixe fora d´ água na plataforma. Mas vou além: o monopólio do mercado de reparos tirou grande parte dos independentes do mercado e, consequentemente, aquele contato direto que você tinha com o SEU MECÂNICO de confiança. Preços de manutenção? Prefiro nem comentar... O fim dos fóruns de discussão em prol de blogs com o Hodinkee, ABTW e seu formato pasteurizado impediram o desenvolvimento de um bate papo sério entre vários influencers... Hoje o mercado é o que 10 pessoas dizem que é, e isso SUX!
Ao fim e ao cabo, no entanto, ao meu desinteresse pelo TER RELÓGIOS, ressurgiu o meu interesse em LER sobre relógios, algo que eu não fazia sistematicamente há um bom tempo. Bicho, estou lendo coisa pra caralho sobre o assunto, comprando livros, algo que não fazia há séculos e... Gastando menos, pois por mais caro que seja um livro, nunca será o preço de um relógio. Detalhe: livros que em regra, os mais modernos, foram escritos há pelo menos 20 anos pois... As empresas estão sim vendendo mais, há mais consumidores no meio mas... O povo parece que "ficou mais burro", porque nenhuma publicação referência sobre assunto x ou y surgiu nesses novos anos de "ouro" da relojoaria, o que é um paradoxo. Minto, não é um paradoxo, é o sinal dos tempos: quando comecei no hobby, todo hobbista era um nerd em relojoaria. Hoje os nerds são as exceções. E eu preferia a era dos nerds...
Flávio