Gostar de relógios e ter relógios x Gostar de Relógios e não possuir relógios

Conheci um cidadão que é um grande teórico em vinhos. Ele é capaz de passar horas falando de vinícolas europeias, vinhos do velho continente, mas não é degustador. Não bebe vinhos. A despeito disso ele possui uma adega em casa, para servir aos amigos. Existem pessoas que possuem relógios e nada sabem deles, a não ser os valores e prestígios que eles trazem. Por outro lado existem pessoas que são verdadeiras enciclopédias sobre o tema e também procuram ter, ao menos, relógios que lhe são especiais. O grupo que mais me chama a atenção é aquele composto por pessoas que são expert no tema, mas não possuem relógios, ou quando os têm, são poucos. Flávio disse em diversas ocasiões que a história da relojoaria lhe é mais especial que os relógios em si (posse). 

Eu me pergunto: como é possível gostar e entender de relógios e, ao mesmo tempo, não fazer questão de os ter?

Eu sou assim com os relógios: "Te ver e não te querer, é improvável, é impossível".

Eu não tenho condições de ter todos os relógios que gosto, porém não deixo de estudar, de esmiuçar e querer saber de tudo sobre determinado relógio que não possuo.

Mas cada cabeça é uma sentença não?

A minha experiência nesse processo é que o próprio contato com muitos relógios diferentes me ensinaram a diferença entre querer "ver e ter contato com tal relógio" e "possuir". Percebi que tive alguns relógios que nunca tinha visto antes até o momento da compra e que acabei comprando mais pela curiosidade de conhecer do que te fato ter. E em pouco tempo a vontade de ter aquele modelo acabou passando.

Então por esse lado, a profissão me permitiu ao longo dos anos ter mais contato com diferentes coisas e separar os dois sentimentos. Passei a "consumir" menos e quando fiz, fiz de maneira mais consciente e menos emocional.

Soma-se a isso o fato de que também percebi que minha admiração era muito mais pela micromecânica, e o objeto como um todo era apenas o "veículo". E ao mesmo passo, a admiração pela indústria relojoeira em geral despencou. Admiro a máquina, os homens, a engenhosidade e genialidade dos indivíduos, mas a indústria tem muita "bullshit". E olha que eu vivo disso. É o que me sustenta, e que exerço no mais alto patamar ético e moral, valores que a indústria deixou de ter tempo (ou eu apenas não percebia) ao ponto de ser até conflitante. Isso me distanciou um pouco dos relógios como objetos completos e roubou aquela aura que eles tinham para mim de objetos quase mágicos.

Quase nenhum relógio me fascina. Há os que admiro muito, por sua qualidade de execução. Mas enxergo quase todos como um produto industrializado qualquer. Uns mais bem feitos, outros menos.

Até me causa certo espanto a quantidade de gente fascinada que embarcou nesse colecionismo. Ficam quase cegos e viraram presa fácil para as bobagens da indústria.

E para finalizar, meus conceitos do quanto vale um relógio foram formados em outra época. Com outra mentalidade da própria indústria. Os produtos quase não mudaram, mas os preços... O resumo é que acho que quase nada vale o que se pede.

Abs.,

Adriano

Eu me pergunto: como é possível gostar e entender de relógios e, ao mesmo tempo, não fazer questão de os ter?

Fácil: seja pobre.

(...), mas a indústria tem muita "bullshit".

Só a Indústria? E a Comunidade? Quem alimenta quem?

Os fóruns morreram, dando lugar a blogs e perfis no Instagram e canais de YouTube, justamente porque a massa não está interessada em discutir relojoaria; querem apenas consumir.

Pô, vamos falar de uma história bacana aí, sei lá, sobre o K2, como o Flávio fez recentemente em seu IG... 2000 views, 8 comentários.
Olha só, a PP lançou um Nautilus azul calcinha... 100000 views, 500 comentários.

Camarada entende tudo de Harrison, Berthoud, Arnold, Breguet, escapamentos e enamel, guilloché... Uau, que dedicado, culto, nerd, estudioso, entende pacas!
Camarada vende relógios caros no Instagram... Deus, fodido, sabe tudo, convidado para eventos, embaixador, amigo da marca, celebridade, ganha relógios, faz parceria com a Anitta...

Fanzaço da marca XPTO há 20 anos, comprou livros, estudou tudo, sabe todas as referências de cor, tem dois relógios vintage medianos da marca, adquiridos com muito esforço... "Humm, marcou viagem à Suíça e quer visitar nosso Museu? Tem de marcar dia e hora e a gente vê se rola te atender".
Ganhou uma Ferrari do pai aos 18 anos e participa do grupo de adolescentes que fazem encontro de carrões em estacionamento de shopping... "Venha visitar nosso Museu na Suíça, com tudo pago! Mas tem de nos marcar no Instagram!"

Aí é foda, bicho...

Quero ler o Flávio aqui! Já o vi dizendo que é um colecionador de conhecimento, e não de relógios...mas tem os seus. Acho que é por ai, talvez o gosto pelo conhecimento de um tema possa estar dissociado da posse.

Só a Indústria? E a Comunidade? Quem alimenta quem?

Os fóruns morreram, dando lugar a blogs e perfis no Instagram e canais de YouTube, justamente porque a massa não está interessada em discutir relojoaria; querem apenas consumir.

Pô, vamos falar de uma história bacana aí, sei lá, sobre o K2, como o Flávio fez recentemente em seu IG... 2000 views, 8 comentários.
Olha só, a PP lançou um Nautilus azul calcinha... 100000 views, 500 comentários.

Camarada entende tudo de Harrison, Berthoud, Arnold, Breguet, escapamentos e enamel, guilloché... Uau, que dedicado, culto, nerd, estudioso, entende pacas!
Camarada vende relógios caros no Instagram... Deus, fodido, sabe tudo, convidado para eventos, embaixador, amigo da marca, celebridade, ganha relógios, faz parceria com a Anitta...

Fanzaço da marca XPTO há 20 anos, comprou livros, estudou tudo, sabe todas as referências de cor, tem dois relógios vintage medianos da marca, adquiridos com muito esforço... "Humm, marcou viagem à Suíça e quer visitar nosso Museu? Tem de marcar dia e hora e a gente vê se rola te atender".
Ganhou uma Ferrari do pai aos 18 anos e participa do grupo de adolescentes que fazem encontro de carrões em estacionamento de shopping... "Venha visitar nosso Museu na Suíça, com tudo pago! Mas tem de nos marcar no Instagram!"

Aí é foda, bicho...

Só a Indústria? E a Comunidade? Quem alimenta quem?

Os fóruns morreram, dando lugar a blogs e perfis no Instagram e canais de YouTube, justamente porque a massa não está interessada em discutir relojoaria; querem apenas consumir.

Pô, vamos falar de uma história bacana aí, sei lá, sobre o K2, como o Flávio fez recentemente em seu IG... 2000 views, 8 comentários.
Olha só, a PP lançou um Nautilus azul calcinha... 100000 views, 500 comentários.

Camarada entende tudo de Harrison, Berthoud, Arnold, Breguet, escapamentos e enamel, guilloché... Uau, que dedicado, culto, nerd, estudioso, entende pacas!
Camarada vende relógios caros no Instagram... Deus, fodido, sabe tudo, convidado para eventos, embaixador, amigo da marca, celebridade, ganha relógios, faz parceria com a Anitta...

Fanzaço da marca XPTO há 20 anos, comprou livros, estudou tudo, sabe todas as referências de cor, tem dois relógios vintage medianos da marca, adquiridos com muito esforço... "Humm, marcou viagem à Suíça e quer visitar nosso Museu? Tem de marcar dia e hora e a gente vê se rola te atender".
Ganhou uma Ferrari do pai aos 18 anos e participa do grupo de adolescentes que fazem encontro de carrões em estacionamento de shopping... "Venha visitar nosso Museu na Suíça, com tudo pago! Mas tem de nos marcar no Instagram!"

Aí é foda, bicho...

Bem por aí. Fora que todo mundo virou especialista. Postou duas fotos no Instagram, com uma legenda de meia linha, já recebe o título de especialista.

Nenhuma marca hoje merece ter fã. Eu perdi admiração por TODAS as marcas. Gosto e admiro alguns produtos, mas a MARCA não. Pois quem está no topo é o primeiro a não respeita-las mais, e parecer estarem interessados apenas no bônus de participação nos lucros no fim do ano.

O cara que promove ou promoveu a marca de graça só por admiração, a marca nem sabe que existe e quando sabe, dá de brinde um íma de geladeira, no máximo. E de vez em quando lembra de convidar - 5 minutos antes de começar - para um coquetel qualquer. E só porque lá no coquetel você vai ajudar, mais uma vez, a promover a marca de graça, em troca de uns canapés. Já o cara que gasta mesmo dinheiro com a marca é o primeiro que a marca caga na cabeça quando o produto dá pau na garantia... Não são poucos que conheço que passaram de grandes colecionadores da marca para ODIADORES da marca depois de receberem esse tipo de tratamento algumas vezes. E vocês devem conhecer também.

Abs.,

Adriano

Adriano e Igor disseram tudo, sem por nem tirar, concordo in totum com eles. Mas vou encerrar com uma frase que sempre digo: você não precisa ter uma Ferrari para ser um ferrarista. Aliás, essa galera maluca ferrarista italiana que frequenta corridas certamente não tem nem nunca terá uma Ferrari. Mas sou capaz de apostar que 99.999 por cento de cada um deles sabe muito mais sobre a história da Ferrari, sobre os carros da Ferrari e possui um interesse maior pela Ferrari. Do que 99.9999 dos donos de Ferrari.

Relógio? A maioria das marcas está interessada em vender joias, o mecanismo do relógio vem de brinde…

Bom, ia me ater a nao comentar, mas nao resisti ! ( Tentei e nao deu, perdoem-me).
O problema é que dai qnd o cara se pronuncia e diz q os china tao fazendo algo bom no valor mais q justo o cara é " fã de relogio chines " ,antes dos chines se criar quando o cara dizia que orient 46941 era bom, resistente e confiavel é que era fã de relógio de " peão de obra"... Aparentemente muitos nao gostam de relógio e sim do status que pode proporcionar !. Sendo assim os fabricantes estão certos, "pague pela marca q eu faço propaganda de que é coisa cara ok !".
Isso acontece com a moda, vc pega um sapato de grife e machuca os pés, carro mesma coisa, o troço deixa o cara empenhado na rua com 3 meses de uso ! A questão é bem simples , maioria quer algo pra exibir pros outros !
Uma vez conversei com um senhor de 80 anos ele tava usando um masson e eu disse bah belo relogio hein , faz tempo que o senhor o tem ? Ele disse bah nem vai acreditar comprei qndo estava no quartel com 19 anos ,em 50 anos mandei fazer uma revisao uma vez só pq tava atrasando ! Uso todo dia até qnd to martelando ! Pensa numa coisa duravel ! Ah mas de nao ta escrito Omega ou Rolex, patek, aos olhos de muitos é porcaria!

Fora a dificuldade pra um trabalhador brasileiro adquirir um relogio desses, que pra quem é suíço ou ingles é tão facil ( 2 meses de salario medio) aqui é mais de 2 anos de salario medio do povo ! E acha que a indústria suíça respeita e da um atendimento diferenciado  para os brasileiros que mesmo com uma economia ferrada pagam muito caro pra ter algo deles? Tao cagando e andando !
Por isso cada vez mais ando cagando pra marcas e pra onde foram feitos! Desde que nao seja com trabalho escravo ( parei de consumir suco de uva integral de uma marca por isso ) e ofereça o que procuro ta otimo ! E não só pra relógios mas pra carros tbm ! Eu era fã da bmw, ja não sou, depois era fã da honda ate numa css me fazerem cagada, ja nao sou, toyota bom liguei pra tentar comprar um carro de 300 mil e parecia q tavam fazendo favor de me atender ! Por isso hj pouco importa se o carro é 1950 ou 2030 tendo nele o que eu procuro, facilidade de manutenção e achar peças e valor justo, probtoy me serve ! Pra q uma sw4 de 350 conto de uma tucson dino de 50 tem tudo de conforto e me custa menos pra manter e fora q nao vo sustentar a familia do mecanico por 6 meses por 1 dia de trabalho ?  E pra relogios to assim tbm ! Tem q ter peças , pq n.na suíça os fabricantes te dão apoio se precisar de pecas, as vezes vai conseguir as peças .oficininhas pq eles querem mesmo é vender relógio novo ou entao q tu largue o relógio la pra gastar meio relógio numa manutenção!

Sim. Tem muita gente que não entende de relógio mas tem um GMT 1970 Baquelite ou um Sub Red. Fica muito na cara perceber que são apenas metidos a expert e querem mostrar uma boa saúde financeira.  E assim como tem gente que entende do assunto e não tem um relógio raríssimo X de tal. Não me apetece ter uma coleção de Rolex. Apenas um Day Date para ocasiões especiais. E um beater da tríplice coroa.