Olha só... A fabricação de componentes alhures não é uma novidade na indústria suíça, e começou no início dos anos 70, quando a cartelização do mercado (que era definida por lei na Suíça), veio abaixo. A partir de então, criou-se o conceito flexibilizado do Swiss Made, que dizia que 50% do valor agregado ao movimento do relógio deveria ser suíço e montagem e inspeção final feitas na Suíça (hoje são 60%). Neste ponto, então, eu não vejo grandes mudanças... Para dizer a verdade, a maioria das marcas Suíças médias para cima (estou falando de preço acima de 2, 3 mil dólares), acabam fazendo a maioria dos componentes lá mesmo na Suíça, salvo algumas peças menos críticas, eventualmente braceletes, por exemplo. Ah! Mas isso não é uma regra. Por exemplo: a Swatch, que faz relógios com média de preço de 100 a 200 dólares faz tudo na Suíça.
A questão de se colocar a China como player é outra e explico. Há quase 20 anos, eu fui a Paris pela primeira vez e, nas Galerias Lafayette da vida, só se viam japoneses. Faz dois anos voltei a Paris (fui outra vez também há uns 10 anos...) e... Só há chineses nas boutiques de luxo. A grande questão é que a China não tinha mercado consumidor algum no passado e hoje, devido ao tamanho absurdo da população e ao crescimento econômico de lá, qualquer número de milionários que surjam é maior do que qualquer número de milionários que estão surgindo em outros países. Tem aparecido muita gente rica na China e, como nunca tiveram acesso a bens de consumo de luxo, estão se lambuzando e gastando PRA CARALHO! Os fabricantes de produto de luxo estão rindo até na casa do baralho... Ou seja, a questão de se colocar a China no jogo é de oferta e demanda: com milhões de chineses comprando, sobra pouco para redistribuir para o resto do mundo e, como estão pagando sem reclamar, os preços sobem.
E... E aí vamos ao segundo ponto. Se você tem um mercado forte querendo seus produtos, estes devem ser feitos para os seus gostos. Exemplo? No Brasil você tira onda com um super apartamento ou uma super casa... Em Cingapura, Hong Kong, etc, os grandes players do mercado de luxo de relógios, não. Minto, você tira, mas o problema é que há tão pouco espaço disponível, que mesmo você sendo rico PRA CARALHO, não há como você demonstrar essa riqueza ao seu "amigo", pois por mais grana que você tenha, não há imóveis para comprar, por uma questão de disponibilidade de espaço (mesmo problema no Japão). Mas você pode tirar uma ondinha com seu relojão de ouro... Não é por outro motivo que, nos anos 2000, os relógios, que até aquele momento eram super delicados e finos (gosto europeu), passaram a aumentar de tamanho e terem um visual mais "chamativo", justamente porque quem estava comprando, os orientais, queriam assim.
Outro dia me disseram, a título de exemplo, que as modificações HORROROSAS nas grades das BMW surgiram para agradar ao mercado... Chinês!
Concluindo: aguardem em breve uma modificação no estilo dos relógios, para agradar ao público de lá. Já tenho visto algumas edições mais limitadas com referências à cultura de lá, sobretudo com arte referência a animais no mostrador.
Aguardemos.
Flávio