Neste último domingo conversamos no MASP um pouco sobre canetas, curiosamente falamos sobre tintas e formatos de carregamento.
Na minha opinião, este "ritual" de carregamento é o que menos gosto nas canetas, simplesmente não gosto de canetas à pistão e/ou conversores, acho ilógico enfiar a caneta em um vidrinho e tirá-la toda suja, quando o vidro está pela metade já não dá mais para carregar, dedo sujo e etc. Gosto de cartuchos, limpos, práticos, resolve o problema da baixa capacidade das tinteiros e etc. Finalmente canetas à pistão ou com sacos são difíceis de limpar e nunca se retira todo resíduo de tinta.
Sobre as tintas, também não gosto de tintas permanentes, à prova d'àgua, "bulletproof" e etc. E acho que quem gosta de suas canetas não só não gosta destas tintas como não usa. Toda tinta tem como solvente principal água. Mas algo de solvente orgânico é necessário para os componentes que fazem a tinta não secar rápido (para não "coagular" na pena) e também para adicionar as características de permanência. Alguns destes "componetes de permanência" são muito fortes e além de,
per se, já atacarem a caneta, a maior necessidade de solventes orgânicos também são prejudiciais.
O maior exemplo destas tintas são as tipos "iron gall", a maioria das tintas pretas ou "azul-preto" são deste tipo (obviamente não são como as tintas do século XII, mas são tintas atuais com componentes ferrosos).
Um dos azuis mais bonitos que já vi é da Noodler's Baystate Blue, mas seu cheiro cáustico e o fato de quase atravessar o papel quando se escreve dão a dica que se está usando "cândida azul".
Por segurança minhas canetas mais caras são tratadas com Waterman Florida Blue ou com J.Herbin, as tintas mais inofensivas possíveis.
Nas duas fotos seguintes, tanto o "feed" como o carregador estão abolutamente limpos, os resíduos são permanentes, causados pela tinta bastante agressiva.
Nas duas próximas fotos a caneta foi esquecida por algunas meses com tinta, até secar, a tampa até se deformou (onde se encontram os pontos brancos), está certo que as Esterbrook não são um exemplo de qualidade/resistência, mas não é para tanto.
Uma curiosidade sobre tintas "iro gall":
Alguns "Torah" antigos são conhecidos por "Torah vermelhos". Todo Torah deve ser escrito em tinta preta, por questões cerimoniais, e estes assim foram, mas com o contato do oxigênio, ao longo do tempo os componentes ferrosos "enferrujaram" tornando a escrita avermelhada e tornando-os inadequados ao uso.