Acho bobagem a preocupação com causa desgaste em deixar o crono acionado. Nenhuma peça, especialmente eixos das rodas que compõe o sistema do crono, são subdimensionadas, de maneira que deixá-lo funcionando prejudique em algo ou diminua a vida útil, ou cause algum esforço maior, ou aumente o desgaste em alguma parte. Em centenas e centenas de cronos desmontados, nunca vi um crono sequer que demonstrasse claramente possuir algum desgaste ocasionado pelo uso constante do crono.
O pivô de uma roda central de crono não é menor que o de uma quarta roda normal, nem recebe esforço maior. Pelo contrário, é usado ocasionalmente. Além disso, não é o dimensionamento que promove ou retarda o desgaste. Existe uma relação entre pressão, velocidade de giro e viscosidade da lubrificação (regime hidrodinâmico, curva de Stribeck, etc.) que resulta em uma fórmula de atrito e desgaste. Vide minha matéria técnica na Pulso sobre isso há um ano, mais ou menos.
Não é só isso: o crono normalmente é regido pelo ponteiro e logo sua roda central de segundos, que recebe uma carga de força bem pequena, se comparado com o que acontece nas rodas que a antecedem. O desgaste é mínimo e é raríssimo precisar substituir uma quarta roda de um relógio por desgaste, mesmo com um século de uso.
Logo, penso que quem quiser usar o crono ligado, que use. Quem quiser deixar parado, que pare. Eu vario entre um e outro sem critério. Às vezes deixo ligado. às vezes paro...
Há apenas que se lembrar que o crono acionado pode causar uma variação de marcha nos sistemas de acoplamento do tipo pinhão ou roda basculante (Valjoux 7750, Omega 861, e cronos mais antigos, estilo Valjoux 72 e etc.), devido à queda de amplitude que ocorre quando estão acionados. O efeito é nulo ou quase indetectável nos cronos com acoplamento de embreagem vertical (Frederic Piguet 118x, Seiko 6139, Omega 33xx, Patek 5960, por exemplo). Em alguns casos, inclusive, a amplitude pode subir um pouco com o acionamento do crono, uma vez que a tensão do ombro da roda central é aliviada contra seu rubi, e deixa de existir o deslizamento entre as partes da roda central da embreagem. Logo, na verdade, há mais atrito ocorrendo com crono parado do que rodando.
E para terminar, apenas como curiosidade, ouvi da boca de um mestre relojoeiro de uma famosa e nobre manufatura suíça que a Frederic Piguet enfrentou problemas no desenvolvimento do calibre 118x pois ele funcionava melhor com o crono acionado do que parado...
Abraços!
Adriano