O lance do último terço é gosto pessoal. E também não é regra, pois muda de charuto para charuto e muda conforme a maneira que você fuma. Eu não costumo gostar do último terço, ou para ser mais específico, do último quarto. Costumo apreciar mais o segundo e terceiro quartos, ou seja, o "começo" do último terço ainda costuma ser bom para mim.
Mas como falei, depende de charuto para charuto e de outros fatores. Charutos cubanos e bem maturados costumam ser ótimos do primeiro ao último segundo. Primeiro porque o fumo cubano, normalmente, é mais pobre em alcatrão. E quanto mais maturado, mais ele perde essa substância indesejada. Pois o alcatrão, falando na prática, se forma no charuto na forma de uma gosma marrom extremamente amarga. Mesmo que não chegue à boca, fica muito amargo. E só piora com o andar da degustação. Teve charuto que nos primeiros cinco minutos juntou uma quantidade absurda de alcatrão. Não adianta fazer nada, pois não melhora com o tempo. E é melhor não insistir, e sim descartar o charuto pois se insistir, sua boca amargará tanto que estragará até o próximo charuto. Em uma tabacaria série, e que você seja cliente, costumam te dar outro charuto nesses casos, assim como nos casos do charuto "travado".
Então voltando, isso é mais raro acontecer (embora aconteça) com charutos cubanos, especialmente se bem maturados. Logo, a degustação costuma ser excelente do começo ao fim. O charuto nacional também é raro isso acontecer, independente se for um puro mata fina ou se for um blend com mata norte. Essa é uma qualidade invejável de nosso tabaco, goste-se ou não. Já com dominicanos e hondurenhos a coisa muda um pouco. Já vi charutos dominicanos da mais alta estirpe, mesmo bem maturados, juntarem muito alcatrão logo no começo. De cabeça me lembro disso ter acontecido terrivelmente num CAO Brazilia e em um, pasmen, Avo XO Maestoso!!! Que não apenas é um dos tops da Avo, como é um charuto muito longo (é um churchill). Ou seja, para o alcatrão passar por todo o charuto e juntar lá na boca em menos de 10 minutos, isso é muito mal. E é um charuto caro. Felizmente, isso ocorreu enquanto eu degustava na tabacaria, e naturalmente, o charuto foi trocado.
Então, vejam que o charuto faz diferença. Mas outros fatores também: se você é um apreciador do tipo babão, literalmente, ou seja, aquele que baba no charuto, corre mais risco de que substâncias indesejadas se juntem próximas ao corte e prejudique a degustação. E outra, muito importante: a velocidade que você fuma. E claro, nem sempre é culpa sua. Há quem fume rápido, há quem fume devagar, mas em todos os casos, a velocidade nem sempre depende de você, especialmente quando o bate-papo está bom. Se você fumar continuamente, terá menos problemas. Se fumar mais pausadamente, terá mais problemas e se o charuto apagar mais que umas duas ou três vezes, é quase certo que o fim do charuto estará horrível.
Abraços!
Adriano