Eu tenho uma preferência bem maior pelos charutos, na questão aromática mesmo. Parece difícil para quem está ao redor imaginar que um charuto fedorendo pode ser, para alguém, mais gostoso de fumar que um tabaco aromático de cachimbo. O charuto, ainda, é infinitamente mais prático. Sua conservação pode até ser mais complexa, mas o ato de fumar é bem simples, não há o que errar.
No cachimbo não, a coisa é bem mais complexa. Levei tempo para pegar a mãnha de conseguir uma fumada de pelo menos uns 20 minutos sem apagar. E achei que nunca ia conseguir, mas é tudo questão de prática. De algum modo, você se habitua com o ritmo das baforadas, o modo de encher o cachimbo, o modo de acender e tudo vai dando certo.
O ato de encher o cachimbo é parte fundamental. Se encher correto, terá um bom proveito, não apagará toda hora, juntará menos umidade, e tudo mais. É importante lembrar que a combustão depende de três fatores: o calor, o combustível e o oxigênio! Este último não pode faltar! Por isso, o tabaco precisa ser abastecido com ar e para isso é importante que haja uma espécie de bolsão de ar entre camadas de fumo dentro do fornilho. O ideal é que ele seja enchido em três etapas, criando dois bolsões de ar dentre essas camadas. Isso significa também, que mesmo que você vá fumar pouco, o ideal é sempre encher o cachimbo, mesmo que isso signifique jogar fora parte do fumo não queimado. É melhor do que colocar menos fumo.
Depois que entendi isso e aprendi uma dica simples, nunca mais errei e sempre tive fumadas bem consistentes, com poucos reacendimentos: encha o cachimbo com três punhados de tabaco, lembrando de uma anedota: o primeiro punhado empurre como uma criança, o segundo punhado empurre como uma mulher, e o terceiro punhado empurre como um homem. Lembrando disso, dificilmente errará e criará perfeitamente os bolsões de ar e terá o fumo corretamente comprimido dentro do fornilho. Essa foi a única técnica que realmente funcionou, depois de ler zilhões de técnicas diferentes e tentar todas, sem sucesso satisfatório.
Estudar o assunto é realmente muito gostoso, especialmente fazê-lo enquanto fuma!
Sobre armonizações: o amigo Octávio falou da armonização com cachimbos. Realmente, o ideal são licores. Eu tenho um pouco de dificuldade em armonizar cachimbo com alguma bebida e é mais comum que eu os fume sem tomar nada. Às vezes, um vinhozinho do porto, mas acho um pouco difícil, nem sempre dá muito certo. Um porto é legal, um 43, um Drambuie, um Cointreau, podem ser boas pedidas.
Já com charutos a armonização é mais fácil com diversas coisas. Embora bebidas alcoólicas sejam a primeira coisa que se vem à cabeça, uma das coisas que mas gosto de harmonizar com charuto é café! É até, claro, uma hamonização óbvia, pois estamos falando de coisas "torradas". E, dependendo do charuto, o café ajuda a contrabalancear aquela possível "baqueada" que o charuto pode dar. Melhor ainda para quem toma café puro, como eu, sem açucar nem nada.
Outra coisa boa de se tomar é chá, gelado. Chá simples, tipo chá preto. Mata a sede, limpa o paladar e não compete com o charuto. Agora, se for para os alcoólicos, aí a gama é bem mais ampla e eu diria que vai mais de gosto pessoal. Por exemplo, há quem diga que até vinho vai bem. Já participei de harmonizações com vinho, entre tintos suaves até tintos com muitos taninos, também com brancos e espumantes. Eu diria que não gostei muito de nenhuma. Não pelo charuto, mas porque o vinho saiu perdendo. Vinho não deve servir para limpar a boca, mas para ser degustado com o paladar mais limpo possível. O charuto mata qualquer vinho. Não gosto.
Agora, destilados como uísques e rum, são perfeitos. Eu costumo beber gin. Eu não diria que ele harmoniza com o charuto, mas também não compete: o charuto fica de um lado e o gin de outro. Um não muda o outro. Funciona bem. Para dias mais quentes, mojitos e daikiris são perfeitos. Para quem quiser uma boa harmonização com uísque, sugiro uísques single malt da região de Islay. São aqueles defumados, salgados. São ame ou odeie. Eu amo, então para mim harmonizar charuto com um Laphroaig, é perfeito. Mas para qualquer pessoa, sugiro experimentar uma dose de Laphroaig antes de comprar uma garrafa. Pois o mais provável é que se odeie ele. Imaginem um uísque comum, mas jogue dentro do copo um pedaço de bacon defumado, uma colher de sal marinho e umas gotas de iodo. É o Laphroaig.
E por fim, cervejas. Gosto de harmonizar com charuto, mas dificilmente o faço com pilsens. Opto por cervejas de trigo, ou ales robustas ou ales escuras e amargas. Ou, por uma boa porter, como uma Guinness. Mas cuidado, pois a Guinness pode acabar amargando demais tudo, especialmente se estiver fumando charuto dominicano.
Abraços e boas baforadas a todos!
Adriano
Abraços!
Adriano