Arrependimento mata? ...ou ressuscita?
Ele sempre o admirou. Muito!
Mas aquele Rolex de ouro,... Encabulado, ele admitia,...
Admirava também! Com uma pontinha de (boa) "inveja".
Num dia, a inexorável fatalidade.
Sem pedir opinião a ninguém, o amigo de fé e irmão camarada "partiu".
Coisas da vida,... Ou não!...
No velório, abraçado à viúva, sua cunhada, ele notou.
No pulso, estava o Rolex!
Ficou constrangido e embaraçado. Sabia que era a "vontade dele".
Mas,...
Ninguém é de ferro,...
E o Rolex também não lhe saia da cabeça...
Meses passados, ele tomou coragem e, secretamente, procurou o coveiro.
- Como vai...
- Bem. E o xinhor?
(O pobre coveiro era absolutamente "banguela", melhor dizendo, fazia jus ao apelido de...
...
boca murcha).
Digamos,... Não havia "teclado" algum, era tudo um imenso "vazio".
Rodeou daqui, rodeou de lá, e tomou coragem... Respirou fundo e foi direto ao ponto.
- O meu irmão morreu. A minha cunhada o enterrou com o relógio, era a vontade dele...
Mas,... Será que você poderia tentar me "reaver" o relógio? É de família, importante para mim...
- Huuuummmm! Pode xer doutor... Eu não faxo exas coixas, não,... Max, nexe caxo,...
- Ok, meu amigo, eu não sei como lhe agradecer. Eternamente... Para o resto da minha vida...
De coração. Mas, é segredo de morte, viu?
- Pode deixar, doutor, eu xei como xão exas coixas...
Após isso, ele se "remoeu", todo santo dia, pela proposta indecorosa feita ao coveiro.
Não era justo. Seu irmão não "merecia" aquilo.
Ainda bem que o coveiro nunca mais apareceu,... Graças!
Anos depois, o coveiro o procurou.
- Doutor, como vai? Tudo em paz com o senhor?
O seu relógio está aqui!
Mas havia algo diferente nele...
A boca não estava "murcha", havia nela um sorriso "certinho",...
- Puxa vida, rapaz!
Mas olha!... Eu me arrependi
muito após aquela nossa conversa...
Eu sei da sua total discrição e bons propósitos...
Mas, eu lhe pago o que for,... Basta voccê dizer!
Mas, pelo amor de Deus, ponha o relógio de volta lá, ok?
- Tudo bem, doutor. Eu compreendo.
Mas,...
...a dentadura eu não devolvo, não! Tá?