Minha opinião diverge da do Igor. Meu problema não é a possibilidade, nos mecânicos, de se reproduzir qualquer peça. Isso é possível mas...Veja bem, nos dias atuais eu já não consigo peças que quero!
Meu ponto de vista resume-se a o que mantém a pessoa focada no lance "alta relojoaria". O lance é cultural. Todos aqui compram tais produtos porque as fábricas possuem tradição e, o relógio em si é uma pequena cápsula do tempo imutável há 600 anos! Sim, houve zilhões de evoluções técnicas, mas no final das contas, tudo não passa de metal contra metal e vamos embora.
A grande sacada atual das fábricas é manter o público atento aos seus produtos, lançando novidades, mas que é um paradoxo em si, pois como lançar novidades em algo que é tradicional por natureza e, vou além, é apreciado pelos compradores justamente por ser tradicional? O chamado efeito Tostines...(aliás, estou lendo o Time to Change e isso é muito discutido no livro).
As técnicas de produção evoluem. Evoluíram no passado e, como sempre ressalto aqui, essa conversa de relojoeiro independente, artista, já não existe há trocentos anos, ressurgiu agora. Eu não vejo, portanto, lá grandes diferenças em uma série de tornos produzindo em massa uma peça, ligados em série, e uma máquina CNC fazendo a mesma coisa.
No final das contas, o produto final será aquela mesma geringonça de metal e engrenagens de sempre. Quando for revisá-lo, a mão humana estará lá do mesmo modo. E, claro, mesmo para programar uma máquina CNC, existe muito do "componente" artístico na coisa. Um projeto não surge no nada.
O estranho - mas que também é um ponto de vista absolutamente paradoxal da minha parte - é encontrar relógios mecânicos com peças girando lá dentro que não são, eu diria, "naturais", mas sintéticas, não sei se me fiz entender. Ah Flávio, mas os rubis já são sintéticos há zilhões de anos! Ora, mas antes não eram!
Silício é coisa de circuito integrado. Aliás, o processo de fabricação é o mesmo. Aí...Sei lá, acho que já me fiz entender, compraria também algo com esses escapamentos frescurol de silício, isso, aquilo, etc. Mas atualmente, mostra-me efetivo savoir faire da fábrica não inovar criando algo que não existe, mas conseguir fazer funcionar direito o que já existia, por um método, diríamos, tradicional.
É por isso que vi com bons olhos o relógio da Urban com escapamento de cronômetro. Fato: é o sistema de escapamento para relógios portáteis mais estável e preciso que existe. Eu, por exemplo, considero o escapamento de cronômetro como divisor de águas: depois dele nada surgiu melhor, nem coaxial, etc. Aliás, a proposta do coaxial foi justamente colocar no relógio de pulso algo que tivesse a robustez de um escapamento de âncora, mas com as vantagens do de cronômetro.
Claro que a Urban usou CNC para fazer peças tão diminutas. Mudou o projeto? Gostaria de ver, porque diz o senso comum que é (era) IMPOSSÍVEL fazer aquela mola de retenção resistente o bastante para não permitir o avanço não querido na rodagem. Sem contar que ela poderia quebrar. Teriam eles feito a mola de uma nova liga? Titânio? Sei lá...Eu acho essas coisas antigas, mas reformuladas para os dias de hoje, e com "metal" (entre aspas, pegaram o espírito?) mais bacanas, mas não desmereço as fábricas que usam silício, como UN, Omega...Ora, até a Patek entrou na onda! Mas que me parece estranho parece. Como disse, é como se eu possuísse um Ford T com um motor elétrico atual instalado lá dentro (e pasmem! O motor elétrico é uma "involução", pois foi usado primeiro do que os de combustão que, diga-se de passagem, já deu né? Não existe algo melhor do que o motor a combustão?).
Flávio