Todos os relojoeiros independentes NÃO SUÍÇOS usam este tipo de acabamento. Por que? Porque era o acabamento de TODOS os relógios na época "de ouro" da relojoaria britânica e alemã. Nas palavras de Daniels, que copiou o senso estético de Breguet, não há nada como o acabamento dourado frosted, com partes metálicas (aço) polidas "espelho" e parafusos azuis. E, claro, proporções geométricas entre as peças. Percebam os relógios feitos pelo Breguet (o próprio): se havia uma roda na direita, haveria uma à esquerda para compensar a estética. Daniels levou isso ao extremo: se há um mecanismo de força constante de um lado, alguma coisa ele colocará do outro, e mais ou menos no mesmo formato, para compensar esteticamente a proporção geométrica do movimento. É por isso que, ao observamos relógios alemães e britânicos antigos, parece-nos que são simples, mas no fundo, é justamente essa a intenção: o troço é tão proporcional que não embaralha sua mente com um punhado de informações. Respondendo à pergunta: sim, os independentes atuais de origem não suíça seguem o padrão, simplesmente porque optaram por seguir os antigos - sobretudo Breguet - , que fazia seus relógios assim.
O acabamento suíço é completamente diferente, possui informação demais e, como já disse aqui, às vezes o movimento é super complicado, etc, mas não há uma preocupação com o equilíbrio harmônico entre as peças. Dufour leva o acabamento suíço ao extremo. Há cotes de geneve, perlage, o escambau, mas ele é extremamente preocupado com dimensões, vejam que aquele "arco" em todas as platinas dele está ali só para equilibrar visualmente o movimento, porque não serve para nada. Por outro lado, há suíços, mesmo entre os independentes, que exageram na dose e, lá pelas tantas, você possui um monte de peças amontoadas, que fazem tudo, uma beleza, mas são esteticamente, geometricamente pobres.
Talvez por isso os movimentos de cronógrafo antigos sejam tão bacanas, os atuais nem tanto, e olha que antigamente não existia esse lance de mostrador de safira atrás. Os movimentos, na melhor palavra que já ouvi para defini-los (é do Igor), eram "tridimensionais"! As alavancas poderiam, como em um Valjoux 7750, serem retas. Mas não...Vejam o que a Patek faz, a Lange, a Glashutte Original, etc: elas fazem curvas, só pela estética global do movimento.
Resumindo: gosto é gosto, mas quando se vê ao VIVO, não em fotos, um movimento com acabamento "jateado" folheado a ouro, como os antigos, e com belo senso de estética, é impressionante.
Por isso, desde que foi lançado, gostei muito desse La Tradition da Breguet, que efetivamente lembra um movimento antigo de Breguet, COM O MESMO TIPO DE ACABAMENTO, não algo suíço. Ok, Breguet era suíço, mas seu acabamento tinha um padrão próprio, mas que muito lembrava os ingleses da época.
Eu gosto, não troco isso aí por nada. Para mim todos os relógios deveriam ter esse tipo de acabamento. Aliás, não precisamos ir longe, não era o "frosted", mas apenas folheado, e produzido aos milhões: quem não tem saudade dos movimentos série 500 da Omega? Não há nada ali, mas você olha e diz: "cara, isso é bonito, não sei porque, mas é". Aí, você olha um JLC atual cheio de frescura, perolizado para lá, listras de genebra acolá e pensa: ok, fantástico acabamento, mas há algo aí que não está legal...
Quando vê, é o excesso de informações que seu cérebro está processando.
Por isso, hoje, dou valor aos caras que fazem tudo aparentemente simples, mas com um senso de estética da pesada. Meus heróis atuais: Marco Lang e Roger Smith. Daniels...Bem, não sei se Daniels consegue fazer alguma coisa, aqueles relógios que serão lançados agora serão basicamente feitos pelo staff da Roger Smith.
E que fique claro, óbvio: 90% dos relógios suíços, esteticamente, agradam-me bastante, mas há muita porcaria por aí, visualmente falando. As fábricas entraram nesse lance de excesso de complicações e, lá pelas tantas, as soluções mecânicas funcionam, mas não agradam aos olhos, se é que fui claro.
Flávio