Eu dirigi carro mecânico por mais de 10 anos e tenho um automático há cerca de 2 dois anos. Antes, torcia o nariz também. Não criticava, mas mesmo quando eu nunca havia dirigido um, pensava "ah, o legal é trocar marcha, ter a marcha na mão, automático é uma chatisse etc. etc. etc.". E todo mundo que tinha um automático que eu conhecia, dizia a mesma coisa: "depois que você tiver um, nunca mais vai querer trocar de marcha". Quando dirigi um pela primeira vez, mudei de idéia. E quando passei a ter um, uma semana depois, já pensava que não pretendia trocar de marcha nunca mais na vida.
Sim sim, para dirigir esportivamente, para "pilotar", tem que ser câmbio manual. Eu gostava até de brincar de punta-taco com meu antigo carro mecânico.
O problema é que cheguei à uma estatística lamentável quanto ao meu trajeto do dia-a-dia: de acordo com o computador de bordo, minha velocidade média diária é de 17 km/h. Duas vezes por semana pego um trecho de estrada de velocidade média de 100 km/h. Certa vez fiz um teste e deixei o computador de bordo calculando a velocidade média ao longo de 2.500 km rodados. Resultado, entre o trânsito do dia-a-dia e o trecho de estrada semanal: 23 km/h.
Nessa condição de trânsito, não há nada nesse mundo que dê vantagem ao câmbio manual. O conforto do automático é de outro mundo. Em dia de rodízio, uso outro carro, manual, e fico consideravelmente incomodado do troca-troca de marcha entre 1ª, 2ª e ponto morto por mais de uma hora.
Agora à parte técnica: meu carro possui um câmbio ZF 4HP20, de 4 marchas, controlado totalmente eletronicamente por uma centralina independente que funciona em conjunto com a centralina principal do carro. É auto-adaptável, ou seja, "detecta" a maneira como você está dirigindo e troca as marchas de acordo com isso, em cerca de 5 ou 6 regimes diferentes de troca de marcha. A alavanca possui "P", "R", "N", "D", e 3, 2, e 1. Como se imagina, em modo normal, no "D" ele usa as 4 marcha, no 3 só as 3 primeiras, no 2 só as duas primeira e no 1 só a primeira.
Possui dois modos especiais acionados manualmente por botão, o modo esportivo, que estica bastante todas as marchas, e o modo de neve, para pisos muito escorregadios, em que na posição "D" ele arranca em 3ª marcha, aumenta o tempo de acoplamento total do conversor de torque e reduz as marchas rapidamente quando se tira o pé do acelerador, para funcionar como freio-motor. Além disso, o "kick-down" fica desativado nesse modo.
Porém o modo "neve" funciona só no "D". Se acionado e usado com as posições 3, 2 ou 1 ele funciona como um câmbio manual, ou seja, trava nessas marchas e posso trocar elas manualmente até a 4ª. Pouco útil, mesmo quando quero desempenho, pois é melhor usar no modo normal e travar no 3 ou 2.
Como ele é auto-adaptável, se ele sente que você mete o pé até o fundo, ele muda automaticamente para o modo esportivo e só volta ao normal quando percebe que você parou por alguns segundos de pisar fundo. No trânsito pesado, ele também percebe que você está acelerando bem pouco e começa a trocar as marchas bem cedo e arrancar do farol em segunda. É bem confortável e economiza combustível. Ficando no farol parado em segunda, precisa de pouco freio para segurar ele parado e é confortável de deixar ele andar um pouquinho só soltando o freio. Ele chega a colocar a 4ª marcha antes dos 50 km/h, ou seja, nesse modo ultra-econômico a rotação do motor fica lá perto dos 1.000 a 1.400 rpm o tempo todo.
Quando quero mais agilidade, posso travar o câmbio na posição 2, assim ele só usa primeira e segunda, assim consigo andar com o motor cheio por volta dos 50 km/h sem que ele queira ir para a 3ª ou 4ª marcha. As relações de marcha dele permite que ele vá até uns 60 km/h em primeira, 130 km/h em segunda, 170 km/h em terceira e a quarta até a final, que não sei qual é a velocidade, nunca tentei, mas parece que é algo em torno de 230 km/h a quase 5.000 rpm. Na estrada ele mantém confortáveis 2.000 a 2.500 rpm a 110 km/h. Qualquer retomada ou ultrapassagem abaixo de 160 km/h, ele chama a 3ª e a retomada é realmente muito rápida.
Esse câmbio tem outras comodidades. O regime de trocas muda de acordo com a temperatura do motor, para ajudar o motor a esquentar mais rápido. Quando parado em primeira marcha, se ele detecta o pé no freio por mais de uns 4 segundos, ele desacopla totalmente o convsersor, como se fosse para o neutro. Basta tirar o pé do freio que em um segundo ele está engatado denovo. Tem também um sistema que não permite que ele avance marchas em declive e sem o pé no acelerador. Ele percebe se o carro está em declive por meio de um inclinômetro, e caso esteja com o acelerador totalmente "off" e a velocidade aumentando, ele reduz a marcha para efetuar freio-motor.
Como falei antes, ele não é o câmbio mais ágil do mundo. Pois no trânsito pesado, costumamos andar com o pé leve e de repente podemos precisar pisar fundo. Ele demora uns segundos para perceber que você está passando do modo super-econômico para o modo normal ou esportivo. Já dirigi um Omega 2010 e achei o câmbio, de 5 marcha, agilíssimo. Mesmo com o pé leve, ele parece que adivinha que você vai precisar pisar fundo de repente e está sempre na marcha certa.
Não tenho do que reclamar do meu automático, mas é verdade que a tendência é de câmbios automáticos com mais marchas. Isso dá mais agilidade, especialmente na arrancada. A primeira marcha do meu, por exemplo, é quase uma segunda marcha de um câmbio manual e mesmo com 210 cv, ele faz uns 0 a 100 km/h em uns 10 segundos. O 406 coupé, com o mesmo motor mas manual, faz em uns 7s.
Abraços!
Adriano