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[Desmonte] - Seiko Automatic Chronograph cal. 7016

Iniciado por Adriano, 19 Junho 2012 às 10:47:55

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Adriano

Caros, fui presenteado por um amigo de fórum com uma sucata de um Seiko 7016-5020 que servirá de fornitura para manutenção do meu exemplar.

Nada posso fazer para retribuir o gesto à altura, por isso, o mínimo que pensei em fazer é retribuir ao fórum com um breve desmonte deste mecanismo. O mecanismo foi limpo e remontado sem lubrificação, pois tem o intuito de servir de doador de peças.

Sem enrolação, vamos lá:

O relógio e detalhes de sua construção de caixa, sistema de fixação da luneta por grampo, orifício para acesso à alavanca de liberação da tige, para remover o mecanismo do bloco inferior...












Visão geral do mecanismo, frente e verso, destaque para o prático sistema de fixação dos pés do mostrador por parafuso excêntrico. Vê-se como sua base é compartilhada com todos os 70xx.









Basta remover a ponte do automático para ter acesso às alavancas do crono. Vê-se claramente a simplicidade do sistema, que basicamente é composto por seis peças: alavanca de comando da roda de colunas, roda de colunas, alavanca de zeramento integrada com ambos os martelos, roda dentral do cronógrafo e garfo da embreagem.







Sequência de desmontagem:















Aqui, processo de desmontagem do Diashock, tirando uma perninha da mola, depois outra:













Aqui, sequência da contra-pedra suja e com óleo seco, depois ela completamente limpa e por fim ela corretamente lubrificada. Essa lubrificação fiz somente para ilustrar, pois como disse, montei o relógio a seco pois só servirá de peças. Aliás, ele não funciona pois tem um rubi quebrado na parte do automático e a bucha da roda central do crono está fuzilada. A bucha é a mesma peça que serve de rosca e eixo do rotor. Em algum momento ela foi retirada e remontada, numa tentativa bem ruim de cravar novamente esse eixo. Ou seja, está mal colocado e enferrujado, num ponto crítico do movimento. Não funciona.

Mas voltando à contra-pedra, estas fotos evidenciam como sua desmontagem, limpeza e lubrificação são essenciais para o funcionamento do relógio. Revisão sem isso não é revisão.









E aqui, como falei em um tópico recente, duas abordagens diferentes de remontagem da contra-pedra no bloco. Eu prefiro a primeira, ou seja, levando a contra-pedra ao bloco, ao invés de levar o bloco à contra-pedra virada de cabeça para baixo.







E a remontagem do bloco. Com uma pinça, apoio o centro do bloco por dentro da mola, enquanto com a outra mão monto a mola com o palito de laranjeira. Desse modo, com a pinça por dentro da mola, se ela "espirrar", não perco ela pois ficará presa pela pinça. Não consegui mostrar o processo todo pois só tenho duas mãos e com uma eu tinha que tirar a foto...  :P







E aqui o estado de algumas peças. O pinhão da roda de centro, bem enferrujado, foi razoavelmente salvo com um pincel de fibra. A ponte de base do crono também antes e depois da lavagem e a alavanca integrada principal do crono bem enferrujada, também recuperei com pincel de fibra.















É isso.


Abraços!

Adriano





kroiden


vinniearques

Show de bola Adriano, já vi e revi uma porrada de vezes!

Dede

Parabéns pelo desmonte Adriano, nele vc já me sanou umas 3 dúvidas kkkkkk

Adriano

A apenas para ilustrar, fotos o meu 7016-5020 e comentários sobre esse calibre que fiz em outro tópico:







"Não compartilho da mesma opinião. Acho um crono tão bom quanto os 6139, com a ressalva de que prefiro a base dos 61xx, acho a base melhor que o 70xx. No entanto acho um mecanismo tão bom quanto o 6139, e ainda possui o detalhe do acumulador duplo no mesmo eixo, e é flyback. Acho um belo crono, que mantém todas as características desejáveis do 6139, como o comando por roda de colunas e a embreagem vertical.

A única ressalva é que é difícil conseguir peças. E há muitos judiados por aí. Assim como para oa 613x, peças, só em sucata. Mas como estes foram produzidos em quantidade bem menor, as peças são bem mais difíceis de se conseguir. Como eu não considero isso um problema do mecanismo em si, mas sim uma fatalidade do tempo, não tenho nada a dizer contra esse mecanismo.

...

...

De todo modo, acho o 7016 um movimento high-grade da Seiko. Motivos: é uma evolução natural dos 6139, era na época o menor e mais esbelto cronógrafo automático, e seu conjunto de alavancas da embreagem dispensa completamente ajustes de simetria, coisa que era necessário checar e ajustar nos 613x. O garfo da embreagem é composto por uma peça única com as duas alavancas controladas diretamente pela roda de colunas. É incrivelmente engenhoso e facílimo de se manipular no momento da manutenção. Muito mais preciso que o controle meio indireto da roda de colunas sobre uma única alavanca da embreagem. Aliás, parece que os suíços perceberam que a facilidade de revisão era uma questão importante no projeto cerca de 25 anos depois... Outra peça altamente integrada é o martelo de zeramento, com molas integradas, e que também dispensa completamente qualquer tipo de ajuste. A parte do crono não tem mais do que 6 peças no total. Acho isso brilhante."



Abraços!

Adriano

Lourival

Bacana a revisão, Adriano ... mas muito mais legal é o seu "original" !
Só uma pergunta ... este seu está com algum problema para você estar precisando de peças para ele? Me pareceu novinho em folha ...
Grato pelo maravilhoso tópico!
Abraço
Lourival

Filipeandrade

Muito bom amigo Adriano, gostei das explicações!


Doce é a vida do operário que se basta a si próprio;
  Vivendo assim, encontraras um tesouro!

Paulistano

muto bom.
como sempre didático.

faço, apenas, uma ressalva: a contra pedra do diashock não foi lubrificada corretamente, ou seja, a gota colocada no centre dela é pequena. Deve-se colocar um pouco mais de óleo, e um pouco mais centrado. A gota deve equivaler a 2/3 da superfície da pedra.

Outra ressalva que faço é quanto a colocação da contra pedra, após a lulbrificação. A forma utilizada pelo Mestre Adriano não está errada, mas para "aprendizes" a "manobra" feita por ele requer bastante habilidade, e deve ser treinada muito, antes que se pegue um relógio relevante para desmontar/lavar/lubrificar. Só para vocês entenderem, é bem difícil "equilibra" a contra pedra na pnta da pinça. ela pode virar (e você terá que fazer tudo de novo), ou ela pode pular, e se perder.

enfim, mais uma vez parabenizo ao grande mestre Adriano pela postagem e pelo "guia" criado para desmonte deste calibre.

grande abraço.

Adriano

Citação de: Paulistano online 19 Junho 2012 às 12:38:23


faço, apenas, uma ressalva: a contra pedra do diashock não foi lubrificada corretamente, ou seja, a gota colocada no centre dela é pequena. Deve-se colocar um pouco mais de óleo, e um pouco mais centrado. A gota deve equivaler a 2/3 da superfície da pedra.




De acordo com as normativas da Omega:




Abraços!

Adriano



Paulistano

então mestre
a sua está excêntrica e menor que a ideal, comparativamente às indicações da omega.
de qualquer forma está muito bom...e sei que foi somente para exemplificar.
seria legal você fazer uma foto com a lubrificação perfeita, para que todos (principalmente os iniciantes) ver como deve ser, realmente, feito.
grande abraço e obrigado.

Adriano

Vê se esse aqui passa no seu crivo, mestre. Se não passar, então sigam as ilustrações da Omega, pois com Fixodrop (que aumenta a tensão superficial da gota), com pica-óleo convencional (sem oleador automático), isso aí é o melhor que consigo fazer.

Perfeita? Não sei fazer (nem nunca disse que sabia). Aliás, é por essa e outras que não sou relojoeiro.




Abraços!

Adriano

Paulistano

muito legal. obrigado pela consideração e pela nova foto.

realmente é bem difícil centrar a gota de óleo na contra pedra. E mais: deixála redondinha e no tamanho exato. requer muito treino e habilidade.

uma questão técnica me ocorreu: é necessária a utilização do fixodrop na lubrificação de rubis e contra pedras? sempre lubrifiquei a contra pedras sem o fixodrop, o qual considero dispensável, haja vista que ele se destina, exclusivamente, a manter o óleo no local lubrificado, mais especificamente eixos etc, não nos rubis e contra pedaras.

ademais, pelo próprio formato do incabloc (no caso diashock), a gota colocada na contra pedra não tem como sair da posição, pois está limitada à circunferência interna do bloco do diashock...ela não sai do lugar, nem escorre de forma alguma, se for bem colocada.

enfim, reitero quão maravilhoso foi este tópico, que servirá de guia para os iniciantes.

mais uma vez parabéns pelo desmonte e pela paciência em compartilhá-lo conosco.

continue treinando...você tem futuro como relojoeiro. :D

um grande abraço.

Adriano

Obrigatório não é, mas é recomendável o uso do Fixodrop nas contra-pedras. Aliás, a segunda principal aplicação do Fixodrop é justamente as contra-pedras, justamente porque na contra-pedra o índice de dispersão é alto, seja pela superfície plana dela, como pela baixa viscosidade do Moebius 9010. Então todo manual moderno e a maioria dos fabricantes que conheço recomendam. Ou seja, ao contrário da sua sabedoria, os fabricantes pensam que seu uso é importante na contra-pedra justamente pois ocorre do óleo escorrer para a beirada do rubi, permear por entre o bloco e deixar óleo insuficiente no local de apoio do pivô.

Fixodrop é usado nas levées, algumas rodas de escape (quando não contém Lubrifar, contras-pedras, cames, rodas inversoras, algums tambores, e onde mais for vital que óleo de baixa viscosidade permaneça no lugar certo.

Abraços!

Adriano

Paulistano

ah Mestre

muito obrigado pelas informações. não sabia que o fixodrop podia ser usado em contra pedras.

contudo, confesso que NUNCA vi o óleo escorrer da contra pedra para o bloco do incabloc, caso a "gota" tenha sido perfeitamente colocada no momento da lubrificação.

de qualquer forma, muito obrigado pela explicação sobre o fixodrop.

abraços.

vinniearques

Eu só sei que tá sendo maravilhoso essa aula conjunta entre o Amigo Paulistano e o Mestre Adriano!

discussão de mestre mesmo, e eu aqui só sugando o conhecimento, é uma honra participar e aprender com vocês!

jothata


Mac1969

Vinnie.....

Coragem man!!!!

Quero ver desmontagem e montagem TOTAL daquele Zenith!!!

[ ] ´s............


Citação de: vinniearques online 19 Junho 2012 às 17:03:19
Eu só sei que tá sendo maravilhoso essa aula conjunta entre o Amigo Paulistano e o Mestre Adriano!

discussão de mestre mesmo, e eu aqui só sugando o conhecimento, é uma honra participar e aprender com vocês!
"O homem saiu do campo e criou a cidade grande para, nela poder trabalhar, ganhar dinheiro e voltar para desfrutar o campo. Parábola estúpida! O que se pode esperar de um cérebro acanhado em um sábado à noite?" Setembro 2.005

vinniearques

hauhaauahu Marcelão como eu já tinha te dito e já desconfiava desde o principio, não vou ter coragem não ein (pelo menos por enquanto)

eu penso em fazer........... ai olho ele limpinho, bonitinho, zeradinho e funcionando perfeitamente junto com muito relógio moderno, eu desisto hauhauha


quem manda você me vender produto perfeito cara, ai você não me ajuda no meu aprendizado, palhaçada, precisa ser tão novos seus relogios   ;D ;D ;D ;D

Adriano

Citação de: Paulistano online 19 Junho 2012 às 16:46:38

contudo, confesso que NUNCA vi o óleo escorrer da contra pedra para o bloco do incabloc, caso a "gota" tenha sido perfeitamente colocada no momento da lubrificação.


Certamente a correta lubrificação, a gota perfeita, faz papel fundamental na preservação da lubrificação no seu local correto. Em outras palavras, não adianta Fixodrop se a gota for mal feita. Mas com pancada, vibração e etc. ele pode se deslocar. Note na minha imagem da contra-pedra suja: a inhaca de óleo velho está no centro e na borda, pois em algum momento o óleo deslocou e permeou entre a borda da contra-pedra e o bloco e outro restante ficou no centro da contra-pedra, pela tensão superficial do contato com a ponta do pivô.

Abraços!

Adriano


Alberto Ferreira

Salve!

Como sempre, muito bom, Adriano!

As fotos e a sua "narrativa", a meu ver, servem bem para desmistificar (mesmo, e principalmente, para os "não relojoeiros"), o aspecto daquela pretensa "peja" que alguns pretensos relojoeiros (de maneira leviana) lançam sobre o 7016.
Que por mero "medo" e principalmente por desconhecimento do movimento, dizem ser "problemático".

Como, aliás, nós já falamos aqui.

Nas suas fotos nós podemos ver a "simplicidade" e "elegância" de algumas soluções adotadas pela Seiko...

Muito grato por compartilhar!
Abraços!
Alberto