Há diversos tópicos esparsos sobre o assunto, mas um livro chamado A Time to Change (
http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php?topic=5580.0 ), que inclusive eu e Adriano lemos, o aborda à exaustão (e tome exaustão! O tijolo de 500 páginas lá pelas tantas se torna repetitivo e meio cansativo, mas gostei do livro, não posso negar).
Basicamente, a obra separa mercados claramente emergentes, novos mercados e mercados consolidados. E separa as "costas" dos EUA como um caso a parte, dadas as peculiaridades do mercado de consumo de lá.
Mas posso dizer que na Europa, como o Adriano ressaltou e o livro também o faz, o consumidor de relógios de luxo (na sua maioria) não tem absolutamente NADA a ver com o de mercados emergentes. Nos mercados emergentes, o que comanda o consumo (ainda) é o bling, é o mostrar aos outros quanto tem na carteira. E particularmente sobre Hong Kong e Singapura, os maiores mercados consumidores do mundo proporcionalmente falando, há outra questão: não há espaço nos locais. Então, você não "bota banca" com casas suntuosas, como, por exemplo, amigos que tenho que residem em Jurerê, Florianópolis. Você tem que "carregar" o sucesso em algum lugar para mostrar aos outros.
Isso explica a mudança de designs de 10 anos para cá, para "relojões". Como a indústria passava por uma crise federal nos mercados estabilizados, lançou suas cartas para o Oriente. E oriental quer botar banca, e um Patek de 36 mm discreto até os ossos nunca faria isso. Mas um Hublot de 47 cheio de bling sim!
E como ganharam e ganham dinheiro lá... O problema é que às vezes acho que o Suíço é meio burro... Já li diversos livros sobre os aspectos econômicos da indústria e várias vezes eles repetem os mesmos erros e, pasmem, ainda saem por cima!
O que quero dizer é que a tendência de um mercado emergente é se tornar consolidado e com consumidores de luxo que apostam no produto não mais pelo bling, mas pelo seu valor intrínseco, tradicional, etc.
Pois bem. Sabendo isso, por que a maioria da indústria quer que todos engulam esses produtos claramente feitos para mercados emergentes e, pior, orientais?
Não posso negar que a Audemars Piguet, por exemplo, nunca deve ter vendido tantos relógios na sua vida e tem tantos endorsers conhecidos no seu plantel. Mas vocês acreditam sinceramente que Royal Oaks Offshores vermelhos, roxos, azuis, com 50 mm, etc, irão durar (estilisticamente falando) para sempre? É claro que não!
Falando das conhecidas marcas de patrão da Suíça (AP, VC e Patek), percebemos claramente que a última nunca se meteu nesses troços e nem por isso deixou de ganhar dinheiro; a VC se meteu mas pulou fora faz tempo; a AP não só se meteu como, na minha opinião, parece um tanto quanto perdida no mercado atual. Que diabo a AP representa hoje? Eu não sei... Há tantos relógios estranhos na linha que sempre foi ultra tradicional, e que de uns tempos para cá se voltou para o Oriente, que nem sei.
Resumindo. No mercado emergente, como Brasil, banca põe mesa e vende; no mercado consolidado, entenda-se, Europa, não. Porém, a tendência do mercado emergente é se tornar consolidado e aí outros valores irão se impor. A pergunta que não quer calar é sobre o futuro da indústria suíça: relojões e, principalmente MARCAS criadas nos últimos anos sem qualquer histórico de tradição, irão sobreviver no futuro?
Deixo a pergunta no ar, para a qual não tenho resposta, apenas opiniões, como acima ressaltei...
Flávio