"Envelhecimento" de ponteiros e mostradores: causas e cuidados para evitá-lo

[Desotti]

Caros, quais seriam os principais fatores determinantes para a deterioração que muitas vezes observamos em ponteiros e/ou mostradores de relógios mais antigos?

Pela lógica, imagino que a proliferação de fungos e exposição prolongada ao sol ao longo de muitos anos sejam os mais comuns, mas haveria outros que independam de nossos cuidados usuais?

Em caso positivo, como prevení-los?

Abraços!

Marcelo.

[LUW]

Manter em ambiente seco e longe do sol/radiação UV?

[Alberto Ferreira]

Salve!

Marcelo,

Esse assunto é interessante e cabem alguns comentários prévios.

1) Fungos são seres vivos que, portanto, precisam de alimento.

2) Mostradores e ponteiros (pelo menos os que costumam apresentar problemas) são peças pintadas ou banhadas.


Posto isso, eu diria.
Em geral, o que nós vemos nos mostradores não é a ação dos fungos, isso é um mito.

Mito este talvez gerado por "vendedores", que baseados no aspecto da "lesão" (pequenas manchas e pontos) procuram passar uma imagem de que é algo simples de resolver...
...com aquela fatídica frase, "uma boa limpeza deve resolver".

Não, não resolve.
Em geral, o que há é uma corrosão (oxidação) ou formação de cristais por baixo da camada de proteção.
Ou seja, numa linguagem "popular" a peça "pururuca" de dentro para fora.

E por que isso ocorre?
Porque a camada de proteção, seja o banho ou a pintura, falhou ou não foi devidamente aplicada, ou seja, ela não isolou adequadamente o metal da base do ar, e o metal continuou "oxidando" mesmo por baixo da cobertura.

Ponteiros, ou mesmo mostradores de metal maciço (ouro, platina, etc.) jamais sofrem o problema.
Os mostradores originalmente bem pintados (com materiais e métodos de boa qualidade), ou melhor ainda, os esmaltados, também não.
Para sermos mais corretos, no caso dos bem pintados, os problemas ou são mínimos ou custam muito a acontecer. Num mero exemplo, em geral, estão os da Seiko.

A luz solar, talvez mais especificamente os raios UV, também é responsável por algumas (ou muitas) alterações.
Geralmente são alterações físico-químicos dos materiais, como a própria pintura (lembrem que sobre ela há um verniz, que pode "amarelar") ou os materiais luminescentes, por exemplo.

Bem,...
Eu creio que é mais ou menos isso.

Abraços!
Alberto

[Adriano]

É isso: resumidamente, umidade e radiação UV. A umidade ataca a chapa, por baixo da pintura. A radiação ataca começando pelo verniz, que começa a ressecar e amarelar. A umidade é fácil de evitar, com cuidado e manutenção. Já a radiação, penso ser frescura demais evitá-la.

Mostradores sem verniz, como os pretos foscos, costumam ser os mais duradouros. Mostradores vermelhos e azuis, costumam ser os que mais desbotam por ação da radiação UV.

Abraços!

Adriano

[LUW]

Radiação UV é um problema sim, pois causa degradação dos pigmentos (verniz amarela, pintura perde a cor), porém isso só ocorre após exposição prolongada, basicamente se a peça fica exposta ao sol por longos períodos. Em relógios de punho isso não deveria ser um grande problema. Guardar o relógio em um local exposto diretamente ao sol ou iluminado por luz fluorescente (luz branca) pode ser um problema se a exposição for longa, como por exemplo em vitrine de exposição. O vidro do relógio filtra muito da radiação UV, porém tudo é uma questão de tempo.

O calor também pode ser prejudicial, pois o aquecer e resfriar do metal pode causar microfissuras na camada de tinta/verniz, e por elas penetra a umidade. Com a umidade vem a oxidação que se espalha lateralmente pela peça, inclusive por baixo da camada de verniz ou tinta.

[lucius]

Existiria uma espécie de caixa selada e com controle de umidade onde pudessemos guardar nossos brinquedos e protegê-los da ação do tempo?

Isto seria viável do ponto de vista prático e financeiro, para se ter em casa?

Lucius

[LUW]

Lucius, eu acharia isso meio exagero. Basta não guardar suas peças expostas ao sol ou em lugar muito úmido.

[Alberto Ferreira]

Os relógios usados (alguns como "ferramentas") no campo, por engenheiros, topógrafos, mergulhadores, etc., naturalmente recebem uma boa dose diária de UV.

As vitrines, são uma lástima.
Se a coisa fosse realmente levada a sério pelas lojas, um relógio "de vitrine" não poderia ser vendido como novo.

Mas,...
Elas vendem.
E nem mesmo fazem uma revisão...  



Sim, Lucius.
Seria um exagero.

[LUW]

Lembro uma vez, há vários anos atrás, quando fui pela primeira vez trocar a pulseira do meu Casio DW5600, que tinha um igual ao meu na vitrine da loja. O relógio era novinho, o tal de "NOS", mas dava para ver a pulseira com algumas rachaduras por ressecamento. Sabe-se lá quantos anos que o bicho não estava naquele mesmo lugar .

[lucius]

Bom, então penso que não me desvio do bom caminho.

Os meus ficam em local seco, escuro e seguro (?) dentro do closet.

Lucius

[Alberto Ferreira]

...
...O relógio era novinho, o tal de "NOS", mas dava para ver a pulseira com algumas rachaduras por ressecamento. Sabe-se lá quantos anos que o bicho não estava naquele mesmo lugar .

Pois é...

E com aquelas "malditas" (e aquecedoras) dicróicas bem assestadas para ele... 

[LUW]

Não, o dono era bem mais ecológico: quem iluminava o relógio era o sol mesmo .

Nem me fale em dicróica, tenho raiva mortal dessas lâmpadas.

[Desotti]

Obrigado pelas considerações amigos!

Alberto, comentei sobre fungos pois já vi sua proliferação sobre os mais inusitados "substratos", como por exemplo lentes de câmera, CD's e até sobre o volante e painel de um automóvel!

Esse último se deu após um carro que possuíamos ter ficado sob chuva com os vidros abertos e, após estar supostamente seco, ter ficado cerca de 40 dias fechado e sem uso por ocasião de uma longa viagem, pena que não fotografei pois era quase inacreditável o estado que seu interior ficou devido ao "bolor".

Só posso imaginar que exista algum tipo de substrato orgânico em todos estes materiais.

Quanto aos efeitos do Sol, acredito que somente um uso extenso sob o sol ao longo de anos possa realmente acelerar a deterioração do mostrador, mas talvez os materiais mais antigos, possivelmente não à base de trítio, que eram utilizados nos ponteiros, sejam mais afetados a médio prazo por suas propriedades luminescentes, não?

Se observarmos os exemplares abaixo, veremos que o "desgaste" do material luminescente aplicado sobre os ponteiros são a principal diferença entre eles, tendo sido mais afetados pela idade do que outras partes do mostrador, penso que portanto a exposição maior ao sol possa ser mesmo a principal responsável pela diferença neste caso.



Abraços!

Marcelo.

[Alberto Ferreira]

Salve!

Sim, Marcelo.

Os fungos e seus esporos estão por toda parte. Mas os fungos só sobreviven sob certas condições.
Como no caso que você exemplificou, os materiais do interior do carro, temperatura, umidade, etc., fornecem as condições, mas os fungos vivem do que podem extrair de lá.
Precisam de alimento. Contínua e constantemente.

O que eu tentei dizer é que no mostrador de um relógio essas condições são muito mais adversas para o fungo.
Impossível, não é.
Mas faltam lá, em curto prazo, as condições para manter uma colônia.

E como eu disse, em geral, aquelas manchas e pontos pretos, não são fungos.
Na verdade, em geral, são mesmo fruto de uma oxidação dos materiais, etc.

Abraços,
Alberto

[LUW]

Para haver contaminação e proliferação de fungos em um relógio seria necessário que fora o ambiente interno ter umidade suficiente, o relógio basicamente teria de estar aberto por longos períodos. Apesar de possível, acho BEM improvável. O que muita gente chama de "bolor" geralmente é piting ou oxidação.

Lume se deteriora bem mais rápido que tinta ou verniz, e para isso nem precisa de luz solar direta. Mesmo guardado no escuro em alguns anos todos os lumes vão falhar.

[Desotti]

Caros, concordo plenamente quanto às considerações expostas sobre fungos e oxidação.

LUW, de fato o lume dos ponteiros e do mostrador de meu Seiko 6139, idêntico ao modelo usado como exemplo nas fotos anteriores,  já não mais fluoresce, mas seu aspecto continua liso e uniforme como o mostrado na segunda foto, bem diferente do da primeira foto em que o lume está com um aspecto "áspero" e amarelado.

Essa deterioração visual do lume é que, acredito, possa também ser creditada ao excesso de exposição solar ao longo de muitos anos.

Off topic: o fato do lume já estar gasto, mas ainda visualmente bonito, pode ajudar a atestar que um mostrador mais antigo em excelente estado seja possívelmente original e não "saricado"?

Abraços!

Marcelo.

[Alberto Ferreira]

...
Essa deterioração visual do lume é que, acredito, possa também ser creditada ao excesso de exposição solar ao longo de muitos anos.

Abraços!

Marcelo.

Sim.
Talvez sim.

Mas não nos esqueçamos que o material luminescente é um composto químico (ativo!), portanto, como tal de certa forma passível de alterações no decorrer do tempo. Não necessariamente devidas a ações ou condições externas.

- Uma delas seria a pura e simples perda da sua eficiência (deixa de brilhar).

- Outra seria uma alteração do seu próprio aspecto físico (amarelar, "escurecer", mudar de "textura", etc.).

Mas, não coloquemos tudo em um "único saco",...

Pois há materiais e materiais, alguns foram alterados (pelos fabricantes) no decorrer do tempo, justamente visando minorar alguns dos aspectos acima.

Abraços!
Alberto

[LUW]

Isso mesmo. Condições externas podem piorar a degradação, mas o passar do tempo é o suficiente para o material ir perdendo sua eficiência..