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De novo, mais notícias da indústria

Iniciado por GuilhermeLago, 20 Janeiro 2014 às 16:57:28

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GuilhermeLago

A BV4, empresa especializada na avaliação de marcas e patentes, publicou o ranking das 20 + na indústria de relógios suiços.
Deu na Exame:  http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/as-20-marcas-de-relogios-suicos-mais-valiosas-do-mundo
A matéria é superficial ao extremo.

Olha o relatório original. http://www.bv4.ch/files/7613/8441/3080/BV4_Die_wertvollsten_Schweizer_Uhrenmarken_2013.pdf
O quadro é autoexplicativo. Muito mais importante do que o ranking, é a variação 2012-2013 dos valores apurados.
Todas as integrantes da "real, majestosa, imperial e celestial TRADIÇÃO Suíca" perderam valor. E muito!
As grandes marcas do grupo Richemont foram as de pior desempenho.
Depois do mi, mi, mi do quartz - manhê, o japinha roubou meu pirulito! - será que vão sobreviver ao mercado. Ou o choro agora vai ser: "manhê, o estilista roubou meu brinquedo e agora diz que é dele!"?
A Montblanc comprou a Minerva e simplesmente matou.
Será que a Richemont vai sustentar a Vacheron? Por quanto tempo? Ou vai transformá-la em fábrica doméstica e comercializar seus produtos com marcas mais "da moda". Ela tem várias - Cartier, Montblanc, Van Cleef...).
A Ralph Loren lança relógios "movidos a JLC" e nem conta prá ninguém (ou seja, c@9@ e anda prá esa marca) - muito pelo contrário, batiza os movimentos com nome próprio e diz que tem uma "parceria" com o grupo Richemont. Caracas, até um tempo atrás o chique era dizer "ETA inside", ter um JLC deveria ser motivo de orgulho redobrado!
A "heritage" é forte, mas parece que um posicionamento mais agressivo de marketing vai ter que acontecer. O exemplo da TAG-Heuer e da Hublot estão aí.

Carbonieri

se juntarmos todas as marcas da Swatch Group acho que ela se torna a maior!?
sic transit gloria mundi

GuilhermeLago

Sim. Mas o importante é que, olhando as variações, as marcas do SG (exceto Breguet, Longines e Rado - não por acaso as mais high-end do grupo) e do LVMH estão crescendo e as da CFR (exceto Cartier - não por acaso, marca forte em outros ramos) estão caindo...

João de Deus

Pois é... enquanto isto a AP está nas mãos das famílias dos fundadores até hoje.
Ainda existe tradição.
Se não me engano o torno que eles usam para fazer os mostradores dos RO tem mais de cem anos.
João
João

Dicbetts

Acho que parte da explicação para a variação entre 2012 e 2013 se explica pelo recuo na economia mundial.

Comecemos pela China (continente e Hong Kong), hoje o maior mercado consumidor. Está no noticiário de hoje que cresceu 7,7% em 2013, mesma coisa de 2012. E não deve passar dos 8% este ano.

Ao contrário do Brasil, onde o consumo é estimulado pelo governo e faz parte da política fiscal, na China não. Há o estímulo à poupança interna e o consumo segue de acordo com o desempenho da economia. Assim, se há desaquecimento de um lado, há do outro também.

Mas dizer que a razão da queda na indústria relojoeira suíça foi somente a China, seria resumir demais. Já sabemos que o Brasil cresceu pouco em 2013 e, embora não tenha um peso expressivo, deu sua contribuição no fechamento do índice.

Vamos colocar ainda que os EUA também influíram (tanto que a distensão monetária foi recebida com alívio pelo restante das economias), assim como a Rússia - cujos índices de crescimento não faço a menor ideia, isso se não forem manipulados.

Conclusão: venda em queda representa perda de valor. Na indústria relojoeira, automobilística, construção civil etc.

Bom, então por que as marcas do Richemont amargaram quedas maiores que as do Swatch e do LVMH?

Talvez porque estejam supervalorizadas - e na comparação com seus competidores, nas mesmas faixas de preço, estejam oferecendo "menos por mais".

Com a economia patinando, o consumidor busca a melhor relação custo-benefício - e seria onde o Richemont sai perdendo.

Para concluir: queria saber o desempenho das marcas japonesas, se possível com a divisão pelos modelos produzidos por cada casa (pesquisa que obviamente é feita, até para determinar o potencial de "existência" e de inovação de cada um).

Dic



GuilhermeLago

Oi, Dic.

Minha impressão vai em outra direção, muito mais ligada a mercado do que a economia. Olhando o quadro publicado, o valor somado das 20 marcas aumentou. Pouco, mas aumentou.
O que me chama a atenção é o tanto que a chamada "alta relojoaria" vem apanhando! A pergunta é: qual vai ser a estratégia de branding dos 3 grupos administradores de marcas?
Para mim é muito claro que o mercado comprador de produtos de luxo está passando a desprezar certas marcas com as quais já não se identificam. 
Alguns itens prá provocar mais:
- A Cartier lançou um relógio Diver nessa SIHH. Um diver Cartier!!!?
- A Ralph Loren lançou um tourbillion de $80mil - o Master Tourbillion da JLC com caixa em aço custa menos de $50mil. A JLC perdeu 4% do seu valor de mercado no ano passado...

No mercado de médios e baratos, não dá prá analisar pq a pesquisa só abordou marcas suíças e nesse mercado, sabemos que a concorrência está mais do "outro lado do mundo". Mas um dado interessante é: o grupo Fossil faturou mais de $800 milhões em 2013 e está fabricando relógios na Suíça...

Dicbetts

Citação de: GuilhermeLago online 21 Janeiro 2014 às 17:56:22
Oi, Dic.

Minha impressão vai em outra direção, muito mais ligada a mercado do que a economia. Olhando o quadro publicado, o valor somado das 20 marcas aumentou. Pouco, mas aumentou.
O que me chama a atenção é o tanto que a chamada "alta relojoaria" vem apanhando! A pergunta é: qual vai ser a estratégia de branding dos 3 grupos administradores de marcas?
Para mim é muito claro que o mercado comprador de produtos de luxo está passando a desprezar certas marcas com as quais já não se identificam. 
Alguns itens prá provocar mais:
- A Cartier lançou um relógio Diver nessa SIHH. Um diver Cartier!!!?
- A Ralph Loren lançou um tourbillion de $80mil - o Master Tourbillion da JLC com caixa em aço custa menos de $50mil. A JLC perdeu 4% do seu valor de mercado no ano passado...

No mercado de médios e baratos, não dá prá analisar pq a pesquisa só abordou marcas suíças e nesse mercado, sabemos que a concorrência está mais do "outro lado do mundo". Mas um dado interessante é: o grupo Fossil faturou mais de $800 milhões em 2013 e está fabricando relógios na Suíça...

Grande Lago,

Pegando teu gancho. Alta relojoaria está diretamente ligada ao poder de compra. No estouro do consumo dos novos ricos (China, Rússia, Brasil...), neguinho foi subindo de degrau. Bateu lá em cima (ou está bem perto) e concluiu: e daí?

Como diz a mulher de um amigo meu (ela não entende nada, registre-se): "Quero Rolex. Com esse, sou reconhecida a quilômetros".

Nada adiantou eu dizer que tem coisa uns dois ou três degraus mais acima. Ninguém conhece, a não ser eu, você, os iniciados e os decanos.

Aí, o cara que tinha um baita Vacheron no pulso percebeu que ninguém sabia o que vestia. Mas todos sabiam que o colega da rodinha ao lado tinha um Submariner.

Assim, não é de estranhar que a Rolex esteja no topo, para variar.

Omega? "Ah, o do James Bond..."

"Não vi. É bom o último filme?"

"'007 contra a chantagem atômica' é ótimo!"

Sacou? Pouco importa.

Sobre o diver da Cartier, defendo a teoria que tem que estar à disposição do bacanão que entra na loja que fica perto do Bristol, em Paris, manda descer as prateleiras e leva o reloginho de contrapeso. Depois, larga no winder.

Com o Ralph Lauren, o mesmo se dá. E o feliz comprador ainda pode tirar uma foto com o próprio RL no concurso de Peeble Beach, quando for exibir (e mesmo negociar) suas raridades automotivas, em companhia de Jay Leno e outros colecionadores casca-grossa.

Enfim, são minhas teorias.

Abração,

Adriano

Esse estudo diz respeito ao valor das marcas, não às vendas. Não sou economista, mas estaria o valor da marca atrelado somente ao desempenho das vendas?

A indústria relojoeira suíça vem crescendo anos após ano, numa média de 9% ao ano, e em 2013, segundo projeções no fim dele, bateria denovo o recorde de exportações 2012, que foi de +/- 21,5 bilhões de CHF, em 5 a 10%. A projeção para 2014 é que o recorde seja batido também, mas em algo em torno de 6% a 8% mais, mesmo considerando-se o câmbio desfavorável, a crise na Europa e o desaquecimento na Ásia, que foi quem puxou para cima os índices nos últimos 5 anos.

O aumento nos valor de exportações em CHF não é diretamente proporcional ao volume de peças vendidas. O aumento se deu porque os relógios ficaram mais caros e os relógios mais caros passaram a ser mais procurados. Desde 2000, o valor de exportações de mecânicos passou da metade, e em 2012 representou 3/4 das exportações. Não sei em volume de peças, mas é óbvio que o volume de relógios a quartzo é muito maior, e mesmo assim, representam mero 1/4 do valor.

Aliás, sugiro a leitura do meu artigo da revista Pulso nº 90, que é a que está nas bancas. Falei sobre isso.

O que me sugere que, se a indústria bateu recorde denovo em 2013 mas marcas tiveram um encolhimento, significa que essas tiveram desempenho MUITO ruim. Mas não é coincidência que foram justamente, na maioria, as marcas mais caras. A China puxou muito para baixo o índice de 2013, as vendas lá despencaram no primeiro semestre. Muito possivelmente as que tiveram mau desempenho foram justamente porque perderam vendas lá.

Abraços!

Adriano

Dicbetts

Citação de: Adriano online 21 Janeiro 2014 às 18:41:53
Esse estudo diz respeito ao valor das marcas, não às vendas. Não sou economista, mas estaria o valor da marca atrelado somente ao desempenho das vendas?


Em boa parte sim, Adriano. E entenda-se por "venda" um conjunto de fatores, tais como: qualidade do produto, satisfação do cliente, preço de produção, preço de venda, preço de revenda, tecnologia embutida, inovação, reconhecimento social... Não que todos esses conceitos tenham que estar juntos num mesmo produto, mas devem agregar pelo menos alguns deles.

E quanto mais no alto, mais atributos reúne.

Outro dia, li um estudo sobre as marcas mais valorizadas do mundo, em todos os tempos. Não é surpresa, por exemplo, encontrar a Volkswagen ou a Ford (ou a Coca-Cola, ou a Rolex, ou a Philips se bem me lembro) no topo da tabela e ver a BMW ou a Zeiss lá embaixo.

Vá lá que "de seis em seis meses" aparecem estudos assim, mas todos têm uma lógica. E norteiam o mercado - aqui no sentido amplo, inclusive o de ações, fusões e aquisições. Se depois descobrem que tudo não passa de balela, o estrago (ou o lucro) está feito.

Sobre isso, aliás, tinha um trecho relacionado à aquisição da Chrysler pela Fiat, agora 100%. Por que adquirir uma montadora que agoniza? Longe de ter sido caridade, a Fiat observou que a Chrysler é uma marca que tem fãs em todo mundo (sobretudo algumas da suas sub-marcas, como a Dodge) e nos EUA é quase uma religião.

Para uma montadora europeia que é ignorada no país do Obama (lá pensam que a Fiat é da Ferrari, não o contrário), a Chrysler é um pé-de-cabra e tanto. E não demora se verá por lá carro da Fiat com o nome Chrysler para concorrer com os Civic e Accord da vida.

Dei uma "viajada" porque, apesar das especificidades de cada indústria, há traços comuns que as move.

E economia, claro, não é ciência exata. E tenho dúvidas de que seja ciência.

Abraços,