Alguns dados.
O escapamento usado no relógio é singular e foi criado pelo astrônomo real da época, Bidel Airy. Eu achava que o relógio em si era algo toscão, um simples relógio de torre, mas não, foi construído para precisão e usa um escapamento nada, absolutamente nada convencional. Tentem imaginar...(meu Deus, já estou pensando aqui em não escrever demais, prometo que o farei...).
O escapamento Dead Beat, criado por Graham (mentira, hoje sei que Graham apenas o aperfeiçoou, pois o efetivo criador foi seu mestre, Tompion), é assim conhecido por não ter recuo. Que recuo? Todo escapamento de vareta, que era o padrão anterior, tinha recuo, ou seja, até o balanço (no caso de relógios de parede o pêndulo) parar no ápice da sua posição e invertê-la, o trem de rodagens voltava um pouco (imaginem vocês alterando a direção de um ventilador de teto...Ele não para repentinamente, ele dá uma "derrapada" até virar de direção! Boys, don´t try it at home, please!). Acho que deu para sacarem. E acho que deu para sacarem que isto não era bom para precisão.
No escapamento Dead Beat, as palhetas...bem, "morriam" (kkk), em virtude da concepção e ângulos do sistema, dentro da roda de escape, sem recuo, o que aumentava a precisão (e o troço é realmente preciso, pois usado até hoje em reguladores de precisão).
Porém, lembram-se de qual sempre foi a busca dos relojoeiros na história da relojoaria? Sim, se pensaram no ápice, o escapamento de cronômetro, pensaram corretamente: separar, de preferência totalmente, o trem de rodagem do órgão regulador.
No escapamento Dead Beat, o pêndulo ainda era fixo no eixo das palhetas (pêndulo para cá, palheta para cá também). Sacaram? Usem a imaginação! E, vejam essa foto tosca que procurei rapidamente na net (kkk)
http://vcs.abdn.ac.uk/~nph126/selected.php?id=49Graham não se preocupava em separar o órgão regulador (pêndulo) do eixo, nem com atrito (confiava na boa lubrificação), ao contrário, por exemplo, de Harrison, que aceitava um pequeno recuo ( e o escapamento gafanhoto recua, até mesmo porque ele chuta a roda para receber um impulso e recua, mas, em compensação, como chuta, não há atrito), em prol da ausência de lubrificação.
Ok, pare de enrolar. No escapamento de cronômetro, a grande sacada foi a colocação de uma mola para fazer com que a palheta voltasse ao lugar e o órgão regulador (no caso o balanço) girasse livremente a maior parte do tempo. Vale a pena reler o meu texto sobre o assunto.
E se os caras passassem o conceito do escapamento de cronômetro para os relógios de pêndulo? Surgiram, então, os escapamentos "gravitacionais" (essa tradução ainda não está boa, vou arrumar outra melhor. O termo é gravity escapements). Nestes escapamentos, o pêndulo não ficava conectado por eixo à roda de escape, e recebia impulso e ocorria a liberação da roda de escape quando o mesmo batia em molas situadas uma de cada lado do pêndulo (que o impulsionavam, e, de quebra, também travavam tudo). Muito bom, achei uma animação, aí fica fácil, saquem:
http://www.geocities.com/mvhw/gravity.htmlPerfeição! Como num escapamento de cronômetro marítimo, o pêndulo girava livre, não ligado à rodagem, só liberando e travando todo o conjunto ao bater em molas laterais, que faziam todo o trabalho. Simples (bem...Nem tanto!) e eficaz.
Pois bem, o escapamento usado no Big Ben foi uma das primeiras, senão a primeira aplicação de um gravity escapement num relógio de torre e o lance é muito preciso, considerando-se as dimensões do troço. Me perdi...Ah!
Onde chegamos? Chegamos nos relógios Shortt, abordados pelo Igor no seu texto. E se, ao invés de molas, fôssemos mais adiante ainda, separando totalmente o pêndulo da rodagem, e usando um outro relógio - o escravo - este sim para marcar as horas?
Estavam criados os primeiros pêndulos efetivamente livres de interferência, já que o "horário" deste era transmitido ao relógio que o marcaria efetivamente não por contato mecânico, mas elétrico.
Para finalizar, uma estória de "chorar" (mais uma). Na mesma viagem que fiz a Greenwich, havia ocorrido os atentados em Londres apenas há uma semana. A cidade estava uma zona, Polícia para tudo quanto é lado, etc. Lá pelas tantas, eu e minha "ex noiva" (kkkk. Casamento, noivado, etc, é igual cana de barraquinha de festa junina, você sabe que irá te dar dor de cabeça, mas mesmo assim entra no esquema. Eu aprendi: só tomo Jim Beam!) caminhávamos pelo centro de Londres e vimos todo mundo descendo dos prédios, os ônibus parando no meio da rua, os carros, sinal abrindo e fechando e todo mundo parado. Eu pensei: ôpa, vamos parar aqui pois alguma coisa está acontecendo...E ficamos parados. A cidade de 7 milhões de habitantes literamente parou caras, não dá para explicar! Algo impressionante, carros atravessados no meio da rua, milhares de pessoas nestas, parados como estátuas...Lá pelas tantas: tâ tâ tâ tâ, tôin tôin tôin tôin TÃAAAAA, TÃAAAAAAAAA, TÃAAAAAAAAA, TÃAAAAAAAA etc. O BIG BEN, que nesta hora deve ter sido ouvido na escócia, tocou as 12 badaladas do meio dia, a cidade parada, completamente parada. Um minuto depois, como se nada tivesse acontecido, todos voltaram às suas vidas, etc. Fiquei emocionado: depois fiquei sabendo que durante toda a semana estava sendo divulgado na TV (e eu estava em Paris...) que ao meio dia, depois de uma semana dos atentados, a cidade faria um minuto de silêncio. A cidade não fez um minuto de silêncio, ela parou! Impressionante! Coisas de pessoas unidas, que já passaram por guerras...Enfim, até hoje digo que Londres foi o pior e o melhor lugar que já visitei na Europa, melhor por essas coisas.
Dito, não escrevo mais, agora tenho que juntar este tanto de coisas que falo, criar vergonha na cara e sistematizar num artigo. Um dia sai! kkkk
Flávio