Há alguns dias o Adriano levantou a bola num tópico a respeito dos preços exagerados dos relógios e, claro, de tudo que está ao redor disso, como o valor das revisões e preços de peças. Segundo sua análise, os chineses e russos haviam inflacionado o mercado durante o período de crise. Poucas pessoas no mundo estavam comprando boa parte da produção de luxo, se lixando para os preços e, de tabela, aumentando os preços para os "normais" na cadeia de comércio. Discutimos, inclusive, como a Rolex, por exemplo, conseguia (e tinha a coragem) de aumentar seus preços ano após ano.
Pois bem... Parece que a imprensa internacional pensa a mesma coisa, e algumas fábricas também.
Segundo o editorial da Europastar, que é bastante influente, o mercado questiona até onde as empresas continuarão a subir (e se é que continuarão...) seus preços, focando apenas numa pequena parcela de consumidores que pode adquirir seus produtos.
O editorial cita que algumas fábricas - como Montblanc e Heuer - parecem já ter se preparado para o futuro e para um mercado maior, mas com preços "médios", ao invés da balbúrdia que reinou nos últimos dez anos. Falando especificamente da Montblanc, ressaltaram o lançamento de diversos modelos MUITO BACANAS, com complicações úteis e visual clássico, a preços "acessíveis".
Concordo com o editorial e espero que algo no mercado de fato mude. Essa profusão de complicações inúteis tem-me deixado um pouco confuso nos últimos anos. Aliás, todos sabem que meu primeiro texto escrito e publicado na rede e mídia impressa foi sobre o turbilhão. Como o tempo voa, já faz quase 20 anos que escrevi aquele curto texto!
E naquela época enxergava os relógios com turbilhões a epítome da arte relojeira... Hoje tendo a dar cada vez menos valor a relógios com complicações inúteis, tanto é que já faz algum tempo que costumo prestar mais atenção na "aparente" simplicidade de relógios que fazem apenas aquilo para o qual foram projetados, marcar o tempo. Talvez por isso aprecie tanto o trabalho de Roger Smith, na minha opinião a representação máxima do que procuro na relojoaria artesanal.
É claro que relógios protótipos são muito bacanas, e a Le Coultre está aí para confirmar que, no desenvolvimento destes, como se fossem carros de fórmula 1, muita coisa acaba sendo aplicada na "linha normal". Mas convenhamos: essa história de relógios com zilhões de complicações, turbilhões que giram em ângulos diversos, tocam música para ninar bebês, cuidam da casa e varrem o chão já encheu o saco!
Se antes era um nicho reservado a poucas marcas, hoje praticamente todas possuem um turbilhão sem nada de novo na sua linha, graças às maravilhas do CAD e fresas CNC. Repito, não vejo problema nenhum em criar complicações como algo eventual que poderá implicar numa melhoria dos relógios ditos "normais", mas seguir apenas esse caminho já torrou o saco.
Enfim, espero que as empresas de fato retornem seus pensamentos ao consumidor "médio", que vê o relógio como um exemplo extremo da arte aplicada, que é bonito, interessante, mas também funcional. Fazer relógios para deleite "de reis e princesas" não deveria ser a tônica da indústria.
Que esta retome seus passos e diminua este enfoque no exagero, inclusive de preços.
O editorial, para quem quiser ler:
http://www.europastar.com/magazine/editorials/1004087773-confusion-reigns.htmlFlávio