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Crítica de livro: The Territory of Neuchatel and its Horological Heritage

Iniciado por admin, 28 Outubro 2015 às 10:53:06

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flávio

Há alguns dias pediram-me indicações de bons livros sobre relojoaria em outro tópico. Fato é que críticas e diversas indicações estão espalhadas em diversos tópicos do site, muito embora as obras consideradas "básicas" sempre se repitam, pela sua qualidade editorial, como o "Revolution in Time".

Quando visitei as fábricas e museus suíços há alguns anos, na companhia do Igor, trouxe uma dezena de livros, alguns deles raros, como o "The Art of Breguet". É claro que não li todos... Para dizer a verdade, tenho dezenas de livros em minha estante aguardando a sua vez.

Como já ressaltei aqui, não tenho muito interesse pela história de marcas específicas e modelos. É claro que eu acabo conhecendo de tudo um pouco, uma vez que coloquei na minha cabeça que tenho pelo menos a obrigação de irrigar o fórum com informações frescas da indústria, sobretudo porque nem todos leem em inglês. Costumo dar minha opinião sobre tudo, portanto.

Mas meu maior interesse nos estudos da relojoaria concentra-se na história da cronometria e dos aspectos socioeconômicos por trás da indústria.

Talvez por isso, ao voltar da referida viagem, tenha escrito um texto que, sem falsa modéstia, considero seminal, abordando tudo, menos "marcas e modelos".

http://www.relogiosmecanicos.com.br/la%20chaux%20de%20fonds.html

Quando escrevi este texto, consultei de forma superficial o livro analisado, mas só agora, depois de vários anos, sentei para lê-lo de capa a capa. Apesar de ter lido apenas 50 páginas (são 350, capa dura, livro grande), já posso emitir uma opinião.

Já tentaram imaginar porque na Suíça, e na região fronteiriça com a França, desenvolveu-se uma indústria que poderia ter "ocorrido" em qualquer outro lugar do mundo? Como se vestiam os relojoeiros da época? Qual era seu status social perante os demais componentes da sociedade? Ganhavam bem? Onde moravam? Como funcionava o sistema de divisão de trabalho deles? Por que surgiram fábricas integradas? Qual o futuro da relojoaria? E etc, etc, etc.

Pois este livro busca abordar esses aspectos de forma clara, com muitas fotografias e texto bastante simples e agradável.

Olha, já posso dizer sem medo de errar que é uma das melhores obras que já li e com certeza deve estar presente numa biblioteca séria sobre relojoaria. Estou achando muito, mas muito bom!










Ps


Depois de escrever, procurei algumas resenhas na net e... Sabem quanto está custando esse livro? 250 dólares! Aí não dá! Eu lembro que paguei uns 70 francos no Chateau du Monts, e o franco não estava esse assalto atual. 250 dólares? Nem se a capa fosse em ouro...

http://www.watch-around.com/en/subscribers-zone/magazine/article/unveiling-a-proud-heritage.html

Vargas

Flávio,

Acabo de ler o ensaio que escreveu, que é um "banho" de história. Muito bom!

Obrigado por compartilhar. Esse é o espirito da busca do conhecimento dessa arte fantástica, como dito no texto.

Abs.

Vargas

Spring

Muito bom seu texto Flávio, esse eu não tinha lido.

O inicio, a passagem do incêndio, o desenvolvimento urbano, os prédios, as janelas que facilitavam a iluminação.. muito legal mesmo ! Gosto desse tipo de pesquisa, realmente enriquece ainda mais os interessados pela arte !

Quanto ao livro .. 250 usd é realmente bem salgado, o Revolution in time comprei no amazon, usado porém em perfeito estado, por 25 usd. Esse não achei .. mas uma hora o encontro !

abs
No masterpiece was ever created by a lazy artist.

flávio

Terminei o livro e mantenho minha crítica, muito embora, lá pelas tantas, a leitura tenha se tornado enfadonha. Estava enjoado de ler o mesmo livro há tanto tempo... O livro é extremamente voltado para as modificações sociais e urbanísticas que a relojoaria causou na região, assunto que me interesso muito. De fato não vale nem a porrete 250 dólares. Como disse, acho que paguei uns 70 ou 80 dólares na Suíça na época.


Flávio

Dicbetts

Uma observação que talvez não tenha sido abordada nesse livro: o aspecto tirânico de Calvino.

Quem leu "Castélio contra Calvino", de Stefan Zweig, fica diante de uma figura religiosamente fanática e que impôs um duríssimo controle da vida local. Um fundamentalismo religioso que, talvez para a época, se justificasse.

Portanto, não estaria tão errado assim dizer que Calvino estabeleceu os rigores de uma indústria rigorosa em si mesma.

Dic

PS - o livro do Zweig está há muito tempo fora de catálogo. Mas creio seja encontrado em bons sebos. E para quem quiser se arriscar a lê-lo, aviso: é bem cansativo.

flávio

Como ressaltei no meu texto sobre o surgimento da indústria, o Protestantismo foi fundamental, uma vez que a revogação do Edito de Nantes levou vários artesãos a Genebra. Lá, o relógio era visto pelos protestantes como algo útil e, assim, os joalheiros podiam exercer suas habilidades neste instrumento, muito embora sem exagerar na decoração das caixas.

http://www.relogiosmecanicos.com.br/la%20chaux%20de%20fonds.html

Mas particularmente sobre o desenvolvimento da indústria nas montanhas, deslocando-se do eixo Genebra, a grande motivação foi o controle rígido da Corporação de Ofícios de lá, inexistente em Chaux De Fonds, Neuchatel, Fleurier, etc. Quem não era associado acabava indo para as montanhas e, sem controle, podiam exprimir com maior liberdade a sua criatividade, tolhida pela corporação em Genebra.

Não especificamente sobre Genebra, mas abordando a Inglaterra, já escrevi algo longo sobre o assunto. Aqui:


http://www.relogiosmecanicos.com.br/guilda.html

Flávio

flávio