Essa resposta deveria ser curta e postada num tópico no qual essa discussão surgiu, abordando o SIHH. Lá pelas tantas escrevi demais no embalo e resolvi abrir outro tópico...
Inicialmente, lanço mais uma vez aquele texto que traduzi no longínquo ano de 2000 sobre o assunto. Minha posição prevalece.
http://www.relogiosmecanicos.com.br/ebauche.html1) Essa história de feito em casa como símbolo de exclusividade e autenticidade mecânica é uma falácia criada no pós quebradeira de quartzo para dar legitimidade às fábricas, como se umas fossem melhores do que as outras. E digo isso porque a produção totalmente integrada pela indústria suíça nunca existiu de forma total, desde os primórdios. Aliás, o segredo do sucesso dos suíços é justamente a divisão de trabalho entre pequenos workshops, que podiam (e podem) se adaptar muito mais rapidamente às mudanças do mercado. Essa história de fábricas integradas surgiu, de uma forma simplista, com a Zenith e Longines no início do século XX, visando copiar o sistema americano de produção de peças completamente compatíveis entre si. Mas o sistema de divisão de trabalho deles nunca foi totalmente jogado por terra, mesmo na época mais verticalizada da indústria, até mesmo pela formação dos cartéis. Na indústria suíça, e até hoje, existe um "cada macaco no seu galho" fodido, e empresas que fazem mostradores, ponteiros, etc, acabam não se misturando àqueles que fabricam movimento e esses, até isso, aos de escapamentos.
Sobre a indústria, meu texto:
http://www.relogiosmecanicos.com.br/la%20chaux%20de%20fonds.html2) O fato de um mecanismo ser feito em casa não garante que este movimento seja melhor do que outro feito por um "especialista". E não precisa ir longe... O ETA 2824 está aí há décadas, com algumas modificações DEU UM PAU em todos na última competição de cronômetros do observatório de Besançon e está para nascer alguém que consiga projetar algo igual, com a mesma confiabilidade, sem dar com os burros n´água. A única coisa que um movimento feito em casa traz, e isso é bacana, é "cor" ao hobby. Afinal, é uma experiência nova, e isso é bacana.
3) Há ETAs e ETAs. A ETA fabrica seus mesmos ebauches em 4 categorias. O ebauche, ou seja, platinas e rodagem pode até ser a mesma coisa, mas o escapamento e molas, etc, quanta diferença. E entre o mais simples e o mais caro a diferença pode chegar ao triplo do preço! Uma 7750 normalzona custa uns 350 dólares, enquanto a certificada como cronômetro, o Adriano pode confirmar isso, bate no dobro!
E a Breitling, citada acima, usa só cronômetros na sua configuração. Mas... Há fábricas, fazendo comparações estritamente técnicas, que oferecem a mesma coisa por menos. Exemplo? Tenho um Sinn 556 com uma ETA 2824 top (uma abaixo da cronômetro, mas o movimento é o mesmo, apenas não certificado), que custa 1000 euros na gringa. Um Breitling com a mesma categoria de movimento (e, para dizer a verdade, prefiro até mesmo a decoração da Sinn a da Breitling que, diga-se, NÃO É EXCLUSIVA, mas a padrão de cronômetro da ETA, apenas com um escrito Breitling estampado no rotor) não sai por menos de 3 mil. E aí? E aí que não é só isso que define preço, mas confesso que pondero essas coisas ao comprar um relógio.
Vejam, não estou dizendo que o MOVIMENTO que o relógio usa seja fundamental na minha decisão, mas ao comparar relógios similares NA TÉCNICA, se alguém estiver com um ponto MUITO FORA DA CURVA (vejam, isso é importante, EU DISSE MUITO!), é capaz de eu abortar a "missão".
4) Falando especificamente da Omega vs Breitling, eu confesso que sempre preferi, mesmo na época dos 1120, os movimento daquela. É que o 2892 da Omega não é um 2892 apenas modificado esteticamente. Ok, há alguns, entres os quais me incluo, que preferem o 2824 ao 2892. O problema é que os 2892 da Omega, na sua conformação 1120, tinham acabamento decorativo exclusivo, dois rubis a mais no tambor e um sistema de cliqués e rolamentos do rotor COMPLETAMENTE DIFERENTE DOS originais, eliminando ou pelo menos quase eliminando O MALDITO pau por engrossamento de lubrificante clássico dos 2892 padrão. Aliás, é um mistério porque a ETA não adotou esse sistema aprimorado da Omega.
Depois, e já vai um tempo, adotaram neste movimento o escapamento Coaxial que, pelo menos na teoria, é melhor do que o de âncora, conquanto MUITO mais complexo. Porém, volto a tal "cor" que disse acima. Os 2892 da Omega, sem entrar no mérito se melhores ou piores que um 2824 da Breitling, ofereciam coisas singulares no mercado.
Mas no final das contas, concluindo, eu só não quero ser enganado. A marca usa um 7750 não modificado no seu interior? Que diga isso. O problema é falar que usa um 8934 Tabajarator Mega Zord, cobrar caro por isso e, quando se analisa o troço... Um 7750 padrão.
Flávio