E vou me estender um pouco sobre o assunto da reserva de marcha.
Além da reserva de marcha ser uma vantagem relativa (para muitos usuários, a diferença é nula), eu passei a entender que a reserva de marcha cada vez maior é uma estratégia técnica para se obter melhor desempenho cronométrico, muito mais do que o que os departamentos de marketing dizem, que é para oferecer uma vantagem para o usuário, de que o relógio funciona por mais tempo fora do pulso...
Ora, será que um dia a mais ou a menos, fora do pulso, faz mesmo diferença? Tem impacto mesmo no usuário médio?
Porém, a diferença do desempenho cronométrico é grande. E mais: fica cada vez mais fácil receber um COSC. Alguém já parou para pensar por que o COSC testa a diferença de marcha em 24 horas? Isso é uma convenção herdada do tempo em que relógios eram de corda, e recebiam corda uma vez por dia, ou, em teoria, a cada 24 horas. Ou seja, a maior flutuação de energia era exatamente a corda cheia e o momento antes de receber corda novamente no dia seguinte.
Posto isso, nada mais lógico do que medir a precisão do relógio nessas duas condições, certo? Supondo um relógio com 48 horas de reserva de marcha, no teste de 24 horas ele terá 50% de corda. Posto que a curva de descarga de força não é proporcional, imagina-se que após 24 horas o relógio tenha ainda 70% da força. Porém, o que isso reflete em um relógio automático que fica flutuando entre corda cheia e quase cheia, o dia todo? Algo como 95% a 70% de corda, ou algo entre 100% e 85% de força?
Agora você pega um relógio como um 2824 que tem 38 horas de reserva. Em 24 horas, a corda dele está para lá da metade, rumo ao fim. Algo como 35% de corda, ou algo como 50% de força. Suas chances de "levar bomba" em um COSC é grande (e mesmo assim não leva), pois a variação de marcha é um dos itens que mais decisivos do COSC. Se a variação for grande demais, leva pau no teste. De repente, você pega um calibre semelhante, mas com 70 ou 80 horas de reserva de marcha. O que acontece depois de 24 horas? Você tem 80% de corda ainda e 95% da energia inicial. O relógio precisa ser muito ruim para ter flutuação de marcha entre 100% e 95% de força. Resultado? Um escapamento pífio passa no COSC, porque tem mais de 3 dias de reserva de marcha. O resultado é melhor que o de um 2824-2 Top, no COSC. Mas esse mesmo calibre de 70 ou 80 horas, depois de 48, começa a capengar.
É uma avaliação correta? Proporcional? Justa? Ou o mais correto é que a variação de marcha não fosse medida após 24 horas, mas sim após 50% da corda desenvolvida, seja lá qual fosse a reserva? Ou seja, um relógio de 8 dias teria que ter a variação medida entre zero hora e 4 dias. E aí?
Ou seja, a convenção de teste entre 0h e 24h pode ser considerada um tanto arcaica e ultrapassada. E relógios com reserva de marcha longa e isocronismo duvidoso acabam se beneficiando e apresentando resultados melhores do que ultra-mega-escapamentos ajustados pelos melhores caras, mas em um calibre com 44 horas de reserva.
Será mesmo que os padrões de teste estão dando uma perspectiva real da qualidade de manufatura daquilo que está recebendo COSC? Ou o resultado está cada vez mais "artificializado" porque os critérios estão irreais e inadequados?
Eu tenho CERTEZA absoluta da última hipótese. Tem relógio recebendo COSC que, não fosse por sua reserva de marcha grande, não passaria nem na porta do instituto. E vejam, acho brilhante que certos calibres tenham conseguido isso. Porém, o fato de ter o certificado, vende uma imagem irreal, de que ali há um escapamento de altíssimo desempenho, e um ajuste finíssimo.
Abraços!
Adriano