Você não paga num relógio mais em conta revisão a preço de autorizada, porque isso não vale a pena. Porém, não é o preço que define se o serviço prestado é bom ou não, caso contrário todos levavam seus veículos em autorizadas, sendo que nem de longe possuem os melhores mecânicos por aí.
Dito isso, uma coisa falda acima, RELATIVA A RELÓGIOS CAROS, que nem era o objeto de discussão, é que na autorizada, como loja com suporte financeiro que costuma ser, se algo der errado, você tem a quem recorrer, e digo judicialmente mesmo.
Sobre as questões técnicas, o que existe não são relojoeiros fodões no mercado, mas porcões. E por que digo isso? Citaram acima a Rolex. A Rolex usa em seus movimentos tecnologias consagradas e, ao contrário de muitas fábricas por aí, que exaltam o excessivo número de peças de seus relógios e a "complicação" destes, como se isso fosse uma vantagem mecânica, a filosofia da marca é justamente o contrário: simplicidade. Os movimentos da Rolex são os motores a ar dos Fuscas, qualquer mecânico repara e, se der errado, até cuspe e araldite funciona.
O que me espanta nas revisões mal feitas de Rolexes, pois, não é a dificuldade em fazê-la, mas simplesmente não atingir o nível técnico para fazê-la, pois é "Watchmaking 101".
Portanto, para se reparar um Rolex Sub de 40 mil reais, não há diferença algum na técnica e cuidados a serem tomados do que reparar um Seiko de 100 reais. Ou alguém aqui, na sua profissão, viola as regras da técnica quando o troço aparentemente não tem muito retorno? Eu, por exemplo, toco um processo de furto de padaria igualzinho a um múltiplo latrocínio, não há diferença.
Resumindo: se o relojoeiro é bom, ele é bom para qualquer coisa e, acreditem, reparar um Rolex não é padrão para dizer se o cara é o "mago das pinças". Relojoeiro é bom ou é ruim, simples assim, e se é ruim, será ruim tanto para um Rolex quanto para um Seiko.
Mas existem problemas no mercado mesmo para relojoeiros fodões, e aí a questão é de alteração de paradigma. Citemos, por exemplo, os relógios da Omega, que estão num patamar médio de preço, assim como a Rolex, e no passado seguiam a mesma filosofia da Rolex, de "Kiss" (keep it simple stupid). Os calibres 500 da Omega tornaram-se famosos porque, se por um acaso um pivô se desintegrasse no interior da caixa e espalhasse limalhas em todo movimento, o troço provavelmente continuaria a funcionar, com limalhas e sem pivôs. Não mais... EU DUVIDO, e vai em caixa alta para mostrar intensidade, que QUALQUER relojoeiro independente do Brasil tenha sequer noção de como funciona um escapamento coaxial. Pior: como já discutido aqui, não há como revisar o troço com ferramentas tradicionais!
O Brasil não possui, ao contrário de Estados Unidos, Inglaterra, etc, certificações de relojoeiros, esse o grande problema. Se um cara é formado em relojoaria nos EUA, você já tem uma garantia - mas não certeza - de que ele não é oreia seca. No Brasil não...
A regra, pois, é: se você não se sente estuprado pelos preços cobrados por autorizadas, que são caros mesmo, utilize-as. Se quer usar os serviços de algum independente de confiança, go for it, mas tem que saber muito bem onde está se metendo.
Flávio