Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria

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Offline flávio

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Eh... Mais um dos tópicos que venho martelando aqui não há meses, ou pensado há semanas, como o articulista ressaltou, mas anos! Sou old school... Aliás, vários aqui são. Para terem uma base, o FRM já teve, que eu lembre, três iterações de sistema e, ainda na faculdade, eu já o girava. Lá se vão uns 20 anos... Internet discada, Rolexes a preços que eu, juntando salário de estagiário, podia comprar... E, claro, um conhecimento pulverizado, eu diria INEXISTENTE no Brasil sobre relojoaria. Na época, só havia um site de relojoaria no mundo que eu levava a sério, o Timezone, com seu sistema de fórum tosco como esse aqui. Mas com um monte de pessoas bem esclarecidas contribuindo, como Walt Odets, Paul Boutros, etc. Quem é velho vai se lembrar. Os anos passaram, o sistema de fórum como o FRM desgastou-se, não só aqui, mas no mundo todo, mas também algo contribuiu para isso: se antes, há 20 anos, os consumidores que passavam a novamente ter contato com relógios mecânicos não sabiam PORRA nenhuma sobre relojoaria, hoje sabem. E creiam, por mais amplo que seja o tema "relojoaria", até mesmo para profissionais é difícil escrever "novidades" todos os dias. E falando por mim, que não sou profissional, piorou: tenho mais o que fazer do que escrever textos "formais" sobre relojoaria, sobretudo quando estes passaram a se transformar em verdadeiros tratados que me tomam um tempão para redigir. O último, escrito há um ano, sobre Hooke e Huygens que o diga...


O modelo mudou, surgiram os "blogs", com pouca ou nenhuma possibilidade de participação de terceiros e carregados de uma visão sobre relojoaria apenas dos seus editores. Sim, o ABTW, por exemplo, é a visão do Ariel Adams sobre relojoaria. Talvez o site mãe aqui fosse a minha, mas como as discussões ainda rolam em sistema de fórum, isso se pulveriza.

Uma coisa que aconteceu com o sistema de blogs foi a redução dos artigos de cunho técnico e históricos longos. Não bastasse ninguém ter muito mais saco para ler textos longos em plena era do celular inteligente, para os blogs é muito melhor focar em produtos que possam dar retorno indireto ou direto para o giro do site.

Isso me lembra as "blogueiras" brasileiras, que tanto recomendam produtos de saúde, pele, etc para as mulheres, que as seguem, como se a visão das moças fosse imparcial. Não é... É um mercado milionário de troca de favores, alguns deles explícitos, outros nem tanto.

O artigo do cara do Quill and Pad aborda isso: a impressão que se tem no mercado atual de relojoaria é que todas as matérias publicadas pelos majors, ainda que redigidas não por jornalistas, mas por quem gosta do paranauê, são compradas. Não explicitamente, mas são, pois raramente criticam abertamente os produtos, estão sempre pisando em ovos, etc

Falta-me maior participação por parte dos consumidores e maior imparcialidade dos jornalistas. Mas aí pensamos: se os filhos de quenga não puxam o saco das empresas, não têm acesso às "internas". E para ter acesso, tem que puxar saco, ou pelo menos assim parece.

A realidade, pois, é que não devemos ser criteriosos ao ler algo: nem tudo que reluz é ouro e muita "reportagem" só está ali para influenciar você, consumidor em potencial, a comprar produtos.


http://quillandpad.com/2018/01/29/watch-journalism-2018-whats-wrong-improve-biggest-problem/

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Offline Dicbetts

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Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #1 Online: 30 Janeiro 2018 às 16:00:00 »

O artigo do cara do Quill and Pad aborda isso: a impressão que se tem no mercado atual de relojoaria é que todas as matérias publicadas pelos majors, ainda que redigidas não por jornalistas, mas por quem gosta do paranauê, são compradas. Não explicitamente, mas são, pois raramente criticam abertamente os produtos, estão sempre pisando em ovos, etc

Falta-me maior participação por parte dos consumidores e maior imparcialidade dos jornalistas. Mas aí pensamos: se os filhos de quenga não puxam o saco das empresas, não têm acesso às "internas". E para ter acesso, tem que puxar saco, ou pelo menos assim parece.

A realidade, pois, é que não devemos ser criteriosos ao ler algo: nem tudo que reluz é ouro e muita "reportagem" só está ali para influenciar você, consumidor em potencial, a comprar produtos.


Antes de mais nada, vamos fazer uma ressalva: páginas como Revolution (para ficar somente nessa) não são jornalísticas, nada têm a ver com jornalismo - que é algo muito diferente. Jornalismo pressupõe apuração, divergência, liberdade de expressão, tudo que esses caras não têm.

O Revolution, o W&W, o SJX são somente mídia. Ponto. Reproduzem releases dos lançamentos das fábricas e, em alguns momentos, a movimentação do mundo da relojoaria - negócios, trocas de CEOs etc. Opinião, crítica, discordância, não é com eles.

No SIHH, o Revolution distribuiu "trofeus" - melhor isso, melhor aquilo etc. Pressuponho que reflitam a votação dos leitores ou de uma comissão. Mas, pelo caráter das entregas, com excesso de informalidade, me pareceu mero puxassaquismo, agradecimento servil.

Todos sabemos que premiações que se pretendem sérias têm um tom solene (ainda que, no fundo, sejam vigarices).

Com alguma preocupação "jornalística", somente o Hodinkee. Mas sem muita convicção, pois pode custar a retirada da lista de convidados para viagens, apresentações e outras liberalidades.

Tudo isso para dizer que jornalismo é algo bem diferente, embora reconheça que mesmo em jornais existam tais trocas de favores (como nas seções sobre turismo ou veículos).

Millôr Fernandes definiu com perfeição: "Jornalismo é oposição, o restante é secos e molhados".

Dic

« Última modificação: 30 Janeiro 2018 às 16:47:19 por Dicbetts »

Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #2 Online: 30 Janeiro 2018 às 16:26:17 »


O artigo do cara do Quill and Pad aborda isso: a impressão que se tem no mercado atual de relojoaria é que todas as matérias publicadas pelos majors, ainda que redigidas não por jornalistas, mas por quem gosta do paranauê, são compradas. Não explicitamente, mas são, pois raramente criticam abertamente os produtos, estão sempre pisando em ovos, etc



Exato, eu só consigo pensar em dois meios que abertamente criticam lançamentos e a indústria como um todo: WatchSnob e Shame on Wrist, não por acaso, os dois são anônimos. Toda vez que alguns dos "grandes" sites vão cobrir algum lançamento, ou são só elogios, ou críticas de lugar comum (podia ser menor, podia não ter a data...).

Mas é como o articulista fala, todos os sites tem acesso gratuito, então se não puderem contar com os anúncios das marcas (que são as únicas interessadas em anunciar em sites sobre relógios), como eles irão se manter no ar? Dessa maneira, evitam bater na indústria.
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Offline Dicbetts

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Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #3 Online: 30 Janeiro 2018 às 17:01:27 »

Mas é como o articulista fala, todos os sites tem acesso gratuito, então se não puderem contar com os anúncios das marcas (que são as únicas interessadas em anunciar em sites sobre relógios), como eles irão se manter no ar? Dessa maneira, evitam bater na indústria.


Acesso gratuito não é justificativa. Hoje se sabe que esses sites ganham mais no tráfego que nas visualizações do material publicado.

O articulista do Q&P, ao final, se contradiz quando escreve: So please join me in thanking Armin Strom, Fabergé, Greubel Forsey, Grayson Tighe, Hermès, Jaquet Droz, Jaeger-LeCoultre, Richard Mille, Romain Gauthier, Tutima, Ulysse Nardin and Urwerk, as it is only thanks to their support that I have the luxury to write my opinion on this for your consideration. These brands are supporting us at Quill & Pad to write about both themselves and other brands, as we wish, because you don’t.

Então, é sinal que é possível falar sobre relojoria sem genuflexão.

Dic


Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #4 Online: 30 Janeiro 2018 às 18:41:30 »
Acesso gratuito não é justificativa. Hoje se sabe que esses sites ganham mais no tráfego que nas visualizações do material publicado.

O articulista do Q&P, ao final, se contradiz quando escreve: So please join me in thanking Armin Strom, Fabergé, Greubel Forsey, Grayson Tighe, Hermès, Jaquet Droz, Jaeger-LeCoultre, Richard Mille, Romain Gauthier, Tutima, Ulysse Nardin and Urwerk, as it is only thanks to their support that I have the luxury to write my opinion on this for your consideration. These brands are supporting us at Quill & Pad to write about both themselves and other brands, as we wish, because you don’t.

Então, é sinal que é possível falar sobre relojoria sem genuflexão.

Dic

Grande Fábio,

Mas isso reforça justamente o meu ponto. Nunca haverá nenhum artigo da Q&P que fale mal de algum lançamento das marcas supra.
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Offline Dicbetts

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Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #5 Online: 30 Janeiro 2018 às 18:50:34 »
Grande Fábio,

Mas isso reforça justamente o meu ponto. Nunca haverá nenhum artigo da Q&P que fale mal de algum lançamento das marcas supra.

Andrezinho,

Entendi o contrário. Ele aceita o patrocínio, mas não garante o confete e a serpentina.

Não acredito nisso, mas, vá lá que esteja sendo sincero.

Dic

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Offline Adriano

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Re:Um artigo no Quill and Pad sobre jornalismo na indústria de relojoaria
« Resposta #6 Online: 31 Janeiro 2018 às 01:08:39 »
Se eu criasse uma página desse tipo, "isenta", mesmo anônimo, acho que seria perseguido até ser descoberto... E assassinado...

Abraços!

Adriano