O relógio foi lançado há alguns dias e todos os blogs gringos já noticiaram, vão aqui alguns comentários. O relógio NÃO É UMA EDIÇÃO LIMITADA, entrará na linha "normal", muito embora não saibamos quantos serão feitos ao ano. O prêmio Snoopy, como sabem, era (ou é, e para essa resposta, preciso de ajuda dos universitários...) dado aos envolvidos no projeto espacial como forma de reconhecer alguma contribuição valorosa. Surgiu na época da Apollo 10, pois o módulo lunar se chamava "Snoopy". A Omega o recebeu após a malfadada (ou bem sucedida, sob o ângulo que se encara...) missão Apollo 13, pois o cronógrafo foi fundamental para marcar os 14 segundos de acionamento dos motores na mira da reentrada, como abordado até mesmo em filmes.
O que achei do relógio? Bem, o relógio não é algo que a Omega, uma empresa mais "séria", faria no passado recente, digamos, até o início dos anos 2000... Mas como a "porteira" foi aberta há algum tempo, até mesmo com uma edição limitada Snoopy, que seja... Relógios, já faz um tempo, são tudo, menos relógios, um objeto exclusivo para marcação de tempo, e uma versão "divertida" não faz mal a ninguém. Tudo bem, é uma diversão cara por quase 10 mil dólares, mas até mesmo com um preço "razoável" dentro do mercado atual de relógios.
O modelo tem a figurinha do Snoopy animada, vejam no vídeo a seguir como esse mostrador traseiro ficou bem legal.
O movimento é a evolução técnica do 861, o 3861, com escapamento coaxial, balanço freesprung e silício. Creiam, tecnicamente falando, é em tese MUITO melhor do que o 1861, que por sua vez já era melhor acabado do que o 861. Na realidade, eu acho que esse calibre novo sequer poderia fazer alguma referência ao antigo, pois acredito que sequer a plataforma de fabricação é a mesma. É como se alguém dissesse que um Fusca novo tem algo a ver com o Fusca antigo, é óbvio que não tem, salvo alguma referência estética. Como ressaltei alhures, os movimentos 861 fabricados pela Lemania eram feitos numa escala semi industrial, na qual montagem, escovado de alavancas, etc, eram artesanais, o resto feito em máquinas (máquinas velhas, diga-se de passagem, provavelmente usadas desde o início da fabricação do modelo até algum tempo depois da transformação dela em "Manufatura Breguet". O acabamento dos 861 era espartano, para dizer o mínimo, um folheado dourado, escovado nas alavancas em aço, zero chanfrado estético, etc.
Depois, com a moda dos "display back", veio o 1861, com acabamento em ródio prateado (preferia o dourado, diga-se...), listras de genebra e chanfrados aos meus olhos artesanais, basta ver o arredondamento das bordas e as linhas não tão uniformes (foto abaixo, coloquei em outro post tudo junto para comparação), o movimento foi "melhorado" esteticamente, muito embora tenha permanecido a mesma peça de museu dos anos 40 (e início de fabricação nos 50).
O novo é certamente algo feito totalmente de forma automatizada, certamente MUITO melhor tecnicamente do que os antigos e, COM CERTEZA ABSOLUTA, em uma plataforma industrial que certamente EM NADA se assemelha a antiga. Eu sou capaz de apostar, aliás, que os 861 são feitos em um local (reza a lenda que ainda na Lemania, atual Breguet) e esses novos em outro, tais as diferenças. Não só o escapamento é coisa "space age", coaxial em silício, totalmente anti magnético, como o acabamento de chanfros, sobretudo chanfros, é claramente feito em máquinas, tal a perfeição (notem que o ângulo de inclinação dos chanfrados é idêntico em toda extensão, "reto". Eu não sei explicar, mas para mim falta um certo "quê" orgânico nesses novos movimentos, que aparentemente são os mesmos 861 de sempre, mas como disse acima, Denorex.
Do ponto de vista de engenharia, UMA PUTA evolução. Do ponto de vista do saudosismo, do pensar que há algo artesanal aí, etc, foi-se uma era... Mas a indústria tem seguido esse caminho, que é natural, basta lembrar da discussão outro dia sobre a "fabricação de caixas" Rolex.
Em resumo, gostei muito do relógio, do seu lado divertido, não o achei absurdo dentro da média de preços que encaramos hoje (para o gringo, pois no Brasil um dólar já é absurdo, pois nosso dinheiro não vale nada), etc. Mecanicamente falando, é muito melhor do que qualquer Speedy Pro que vemos por aí. Mas... O Pró é um representante de uma era da relojoaria que tanto falamos, mas que na verdade, ao que parece, ficou para trás...
Ps. O mostrador do relógio, esqueci de dizer, é feito em prata.
Eis o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=5TK3_pDtxz8