Post que fiz agora no @relogiosmecanicos
Em 1833, quando o Astrônomo Real John Pond instalou a bola vermelha no mastro do Observatório de Greenwich, imaginou que nunca mais seria incomodado pelos fabricantes de cronômetros questionando-lhe a “hora certa”. As manufaturas de relógios em Londres, porém, situavam-se no centro da cidade, e os relojoeiros não conseguiam visualizar Greenwich. Continuaram, portanto, a bater à porta do observatório para ajustar seus relógios. Pond, irritado com isso, teve uma ideia: e se fosse criado um sistema que levasse a “hora certa” aos relojoeiros? Então, em 1836, atribuiu ao seu assistente, John Henry Belville, a tarefa de comparecer às manufaturas de relógios e ajustá-los de acordo com a hora certa de Greenwich, mediante o pagamento de uma taxa anual. Para tanto, Pond entregou a Henry Belville um extraordinário cronômetro fabricado por John Arnold, com variação atestada de apenas 1 décimo de segundo ao dia. Belville, preocupado com assaltos, substituiu a caixa em ouro do relógio por uma de prata e, todas as manhãs, após ajustá-lo em Greenwich, visitava os clientes (quase 200) para informar-lhes a hora certa.
John Belville exerceu a função até 1856, quando faleceu. Sua esposa, Maria Belville, temendo perder os recursos necessários para sua sobrevivência, procurou o novo Astrônomo Real, Biddell Airy, questionando-lhe se poderia continuar o trabalho do seu marido, mesmo não sendo funcionária do Observatório. Um relutante Airy concordou e Maria passou a carregar o relógio fabricado por Arnold pelas ruas de Londres até falecer, em 1892. Nesta época o horário de Greenwich já era transmitido por telégrafo e o serviço de Maria totalmente obsoleto mas… Sua filha, Ruth Belville, continuou visitando Greenwich todas as manhãs – onde tomava chá com o porteiro e ajustava o relógio carinhosamente chamado por ela de “Arnold” –, e depois seguia para se encontrar com seus diversos clientes. Ruth só aposentou em 1940, com 86 anos. Vi “Arnold”, o relógio, na Corporação de Ofícios dos Relojoeiros de Londres, em 2009. Hoje ele se encontra no Science Museum.
Fotos por Wikipedia