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American and Swiss Watchmaking in 1876, por Jacques David

Iniciado por igorschutz, 10 Agosto 2009 às 21:43:34

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igorschutz

Olá amigos,

Há poucos dias recebi um livro que só agora tive oportunidade de ler, trata-se do American and Swiss Watchmaking in 1876, escrito por Jacques David no original em francês e traduzido para o inglês pelo australiano Richard Watkins, que mantém um ótimo site com diversos livros e textos traduzidos por si gratuitos, neste endereço: http://www.watkinsr.id.au

É um livro curtinho, que li em dois dias, mas com MUITA informação de qualidade para quem se interessa por este período, último quarto do Século XIX, em que a relojoaria norte-americana representou uma verdadeira ameaça aos suíços, em escala mundial.

Trata-se de um relatório detalhado sobre a indústria relojoeira americana, escrito por Jacques David, que na época era um jovem relojoeiro, mas que futuramente se tornaria o diretor da Longines (fundada por seu primo Ernest Francillon) e um dos mais prestigiados "executivos" da indústria relojoeira suíça.

Em 1876, por ocasião do centenário da independência dos Estados Unidos, os americanos organizaram uma mostra em Filadélfia, nos moldes daquelas famosas exposições mundiais, com o objetivo de mostrar ao mundo seus avanços tecnológicos. Todos os países foram convidados a expor também, e lá foram os suíços com seus relógios.
Qual não foi a surpresa dos helvéticos ao ver a avançada indústria relojoeira dos EUA, com suas sofisticadas máquinas automatizadas, que permitiam fazer relógios de alta qualidade, com peças quase que inteiramente intercambiáveis e numa velocidade e custo bem menores que os seus?

Rapidamente, os suíços montaram uma pequena comissão, composta por Edouard Favre-Perret, Théodore Gribi e Jacques David para observar e extrair o máximo possível de informações dos americanos.

Os membros da comissão, quando obtiveram acesso ao parque industrial de fábricas como Waltham e Elgin, ficaram mais do que alarmados: entraram em verdadeiro desespero! Estas fábricas eram muito mais avançadas do que qualquer coisa que existia na Suíça.

Imediatamente puseram-se a escrever à Sociedade Intercantonal das Indústria do Jura, que era o órgão que defendia os interesses das empresas relojoeiras suíças, clamando por uma imediata mudança em seu sistema de trabalho e organização, abandonando de vez a fabricação manual de peças e relógios e adotando a forma industrial de produção, com o uso de máquinas e componentes padronizados e intercambiáveis.

Jacques David foi o representante da comissão mais enfático em postular por mudanças, o mais franco em reconhecer os defeitos de seus pares, e o que descreveu com mais detalhes a indústria estadunidense.
Tamanha foi a importância do seu relato que este documento jamais foi publicado, pelo medo que os suíços tinham de expor abertamente suas fraquezas, e manteve-se secreto por 115 anos, até ser redescoberto pela Longines em 1992, em seu acervo particular.

Richard Watkins, o tradutor da obra, afirma que o relato de David é "o documento mais importante da história da relojoaria moderna", pois foi a partir deste alerta que os suíços se reorganizaram e se reergueram, adotando o método industrial de fabricação dos americanos e tornando-se a potência que todos conhecemos.

O livro foi muito bem traduzido, e é muito fácil e gostoso de ler por quem tem interesse. Recomendo fortemente!

Dados técnicos:
American and Swiss Watchmaking em 1876
Jacques David, Suíça, 1877
traduzido para o inglês por Richard Watkins, Austrália, 2003
ISBN  n° 0-9581369-2-0

Pode ser adquirido na NAWCC Store por US$ 17,95 + US$ 10 de frete (foi o mais barato que eu localizei).

Quem quiser mais informações sobre o assunto, recomendo estes dois textos:


Um abraço,

Igor
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

flávio

Isto é bem comentado no livro On Time do Smithsonian. Bem...Nem tanto. Mas recebi hoje o restante da obra sobre relógios de pêndulo e estou com tanta coisa para ler que lerei este indicado Igor, mas daqui a um tempo! kkk

Fláviio

nilomis

Igor,

Sobre a tua afirmação "em que a relojoaria norte-americana representou uma verdadeira ameaça aos suíços, em escala mundial.".

Uma pergunta:

Até onde sei/sabia a relojoaria suíça foi iniciada depois da norte-americana (que evoluiu por conta dos relógios "ferroviários"), fazendo clones baratos e de qualidade inferior dos relógios americanos. Procede esta minha informação ou é balela de gringo?

Abs,

Nilo

flávio

Citação de: nilomis online 10 Agosto 2009 às 22:04:55
Igor,

Sobre a tua afirmação "em que a relojoaria norte-americana representou uma verdadeira ameaça aos suíços, em escala mundial.".

Uma pergunta:

Até onde sei/sabia a relojoaria suíça foi iniciada depois da norte-americana (que evoluiu por conta dos relógios "ferroviários"), fazendo clones baratos e de qualidade inferior dos relógios americanos. Procede esta minha informação ou é balela de gringo?

Abs,

Nilo




Não. Sem falar muito, o resumo da história é o seguinte. Os ingleses eram os fodões e tinham uma indústria baseada no sistema de corporações (abordado num texto meu), que não mudou muito até meados do século 19, acreditem se quiser. Os suíços começaram com a divisão de trabalho, mas ainda no sistema de subcontratação. E copiavam os ingleses, fazendo muitas porcarias (mas lá pelas tantas, sobretudo nas coisas do Jura, encontraram a perfeição).

Os americanos foram responsáveis pela criação de uma indústria nos moldes que conhecemos hoje, com máquinas específicas para produção em massa, tudo feito numa mesma fábrica.

Isso foi copiado pelos suíços (apesar de eles terem inventado...).


Flávio

igorschutz

Balela de gringo, claro, a relojoaria suíça é bem anterior a americana!

Se você quiser uma ordem simplificada da "dominação" relojoeira no mundo, aqui vai:

Itália -> Inglaterra/França -> Suíça -> EUA -> Suíça -> Japão -> Suíça

Os americanos nunca chegaram a efetivamente dominar o mundo em matéria de influência, pois o mercado local consumia tudo o que sua indústria produzia, não restando muitas peças para exportação, mas por um tempo eles foram os mais avançados do mundo na relação preço/qualidade.

Um abraço,

Igor
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

nilomis

Obrigado Igor/Flávio,

Assim sendo poderíamos prever:

Itália -> Inglaterra/França -> Suíça -> EUA -> Suíça -> Japão -> Suíça -> China?

Será que nossos netos estarão comprando ... Lolex? (Omega não, os chineses ... O Eduardo sabe he he.).

Abs,

Nilo

igorschutz

Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

flávio

Tenho lá minhas dúvidas se a indústria relojoeira existirá fabricando o que fabrica hoje. Acho que continuará existindo como arte, algo artesanal, mas sejam realistas: pensam realmente que alguém, daqui a uns 50 anos, estará usando dispositivos no pulso para marcar as horas? Duvido...Aliás, já é grande a parcela da população que voltou a usar relógios...DE BOLSO! Sim, telefones celulares. Não sei se existirá uma indústria relojoeira no futuro.


Flávio

nilomis

Citação de: flavio online 10 Agosto 2009 às 22:37:20
Tenho lá minhas dúvidas se a indústria relojoeira existirá fabricando o que fabrica hoje. Acho que continuará existindo como arte, algo artesanal, mas sejam realistas: pensam realmente que alguém, daqui a uns 50 anos, estará usando dispositivos no pulso para marcar as horas? Duvido...Aliás, já é grande a parcela da população que voltou a usar relógios...DE BOLSO! Sim, telefones celulares. Não sei se existirá uma indústria relojoeira no futuro.


Flávio
Flávio,

Como diria um jogador de futebol: "Disconcordo".

O ser humano, desde que desceu da árvore, tem uma apreciação especial por todo e qualquer tipo adereços e um celular ou smart phone não é bem um adereço, mesmo quando ele pode fornecer uma hora absolutamente exata (O meu Blackberry sincroniza o horário com um servidor de tempo a cada minuto!!!).

Durante os inglórios tempos da crise do quartzo (anos 70) muitos futuristas pregaram o fim das manufaturas de relógios mecânicos e erraram por completo.

Enquanto o ser humano ainda tiver vaidade ele irá buscar coisas que o diferencie dos demais e um relógio no pulso é uma dessas coisas. O relógio do futuro poderá não ser fabricado na Suíça mas ainda será um objeto, preferencialmente, raro e caro para manter a diferenciação.

Abs,

Nilo


Wilson

Citação de: igorschutz online 10 Agosto 2009 às 22:16:39
Balela de gringo, claro, a relojoaria suíça é bem anterior a americana!

Se você quiser uma ordem simplificada da "dominação" relojoeira no mundo, aqui vai:

Itália -> Inglaterra/França -> Suíça -> EUA -> Suíça -> Japão -> Suíça

Os americanos nunca chegaram a efetivamente dominar o mundo em matéria de influência, pois o mercado local consumia tudo o que sua indústria produzia, não restando muitas peças para exportação, mas por um tempo eles foram os mais avançados do mundo na relação preço/qualidade.

Um abraço,

Igor


Igor, vc se esqueceu de mencionar os Alemães,

e um outro detalhe... os primeiros Walthams (1850) são cópias dos relógios ingleses,

abraços,

wilson

igorschutz

Wilson,

Essa pequena lista que criei para o Nilo tem o objetivo de destacar aqueles países que em algum momento foram dominantes na relojoaria, o que não é o caso dos alemães.
Eles tiveram e têm seus relógios bacanas e bem construídos, mas efetivamente nunca ultrapassaram a influência dos suíços.

Um abraço,

Igor
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

LUW

Eu acho legal que vcs se interessam até pela história remota da horlogia mundial.
Eu gosto muito da mecânica da coisa, mas infelizmente meu interesse não vai tão fundo assim como o de vcs. Porém é bacana ler esses pedacinhos de informação aqui e ali e ir aprendendo.
[ ]s
Luciano

Citação de: flavio online 10 Agosto 2009 às 22:15:13
Citação de: nilomis online 10 Agosto 2009 às 22:04:55
Igor,

Sobre a tua afirmação "em que a relojoaria norte-americana representou uma verdadeira ameaça aos suíços, em escala mundial.".

Uma pergunta:

Até onde sei/sabia a relojoaria suíça foi iniciada depois da norte-americana (que evoluiu por conta dos relógios "ferroviários"), fazendo clones baratos e de qualidade inferior dos relógios americanos. Procede esta minha informação ou é balela de gringo?

Abs,

Nilo




Não. Sem falar muito, o resumo da história é o seguinte. Os ingleses eram os fodões e tinham uma indústria baseada no sistema de corporações (abordado num texto meu), que não mudou muito até meados do século 19, acreditem se quiser. Os suíços começaram com a divisão de trabalho, mas ainda no sistema de subcontratação. E copiavam os ingleses, fazendo muitas porcarias (mas lá pelas tantas, sobretudo nas coisas do Jura, encontraram a perfeição).

Os americanos foram responsáveis pela criação de uma indústria nos moldes que conhecemos hoje, com máquinas específicas para produção em massa, tudo feito numa mesma fábrica.

Isso foi copiado pelos suíços (apesar de eles terem inventado...).


Flávio


Nilo, direto ao ponto!

Aí cabe uma pergunta: quem, daqui do FRM, usa o relógio para ver as horas?

Quem responder sim pode ser um dos que trocaria o relógio pelo celular. Mas, os outros...

Semana passada, numa festa chique, encontrei um amigo que não é ligado em relógios com um IWC automático no pulso. Pedi para ver o relógio e ele estava com as datas (semana e mês) erradas e com a hora completamente desregulada.   Ele tinha posto o relógio no pulso só prá fazer pressão. Só prá mostrar um relógio de marca. Não tinha nem se dado ao trabalho de acertar o bichinho (eu acertei prá ele, claro!).

Creio que, como bem disse o Nilo, muita gente vai continuar a usar relógios, seja por gosto (como nós), pela aparência e, até para ostentação.

Mas, ele vai ter vida longa!


Grande abraço!
Marcos  Sá

"prefiro a crítica que me corrige ao elogio que me corrompe" -Maquiavel

flávio

Vai aqui um segredo e, sei lá, acho que fui o responsável por, dentro do fórum, difundir o gosto pelo estudo da relojoaria de precisão: meus relógios estão com as horas sempre desajustadas (minutos, claro. Não me preocupo se o relógio está cinco minutos atrasado ou adiantado), assim como datas (não as ajusto, a não ser quando viajo). Faço isso porque raramente uso o mesmo relógio mais do que 3 dias seguidos. Mas nas minhas últimas férias, que duraram 30 dias, ajustei meu Omegas PO "atomicamente", e a data também. E o usei 30 dias seguidos. Ah Flávio, e aí? E aí que esqueci de olhar qual foi a variação acumulada! kkkkkkk



Flávio

Alberto Ferreira

Salve!

Pois é...

Bem,...  Sem chegar a extremos  ;), eu acho que com o tempo eu também "desencanei" um pouco da questão da precisão.
Daquela "obrigatoriedade" do acompanhamento diário, etc.

Eu ajusto os relógios quando os ponho no pulso, até as datas. Isso eu faço!

Acompanho meio "de leve"...
Afinal, eu sou engenheiro mecânico e ainda tenho um certo "fascínio" pela capacidade destes fantásticos mecanismos produzirem uma razoável (muito aceitável, aliás) precisão, e blá-blá-blá...  ::)

A minha tendência atual, quando eu encontro no pulso um que está "nos trinques" da precisão, com variação mínima, etc.
É como que eu desse "um tapinha" nas "costas" do dito cujo e dissesse com um sorriso...

Você é "fod...."  Hein, cumpadi!
;) ;D

Variações menores, a menos de 1 minuto por dia, já não me fazem mais saltar da cadeira e correr para a revisão.  :D

Abraços!
Alberto

Atalo

Pessoal,
Também uso o relógio porque é ... um relógio.
Olhos as horas, mas na maioria das vezes, olho para o relógio, se alguém me perguntar as horas, assim, de repente, vou ter que olhar de novo  ;D ;D ;D
E como vou trocando todo dia, pelo menos um está certo, ou outros... só no dia que vierem para o pulso.
Átalo

jos

Eu mais ou menos sigo o método utilizado pelo Flávio. Não dou a mínima para precisão, desde que ela não se afaste dos padrões que considero normais para um relógio mecânico; data nem pensar. O relógio que mais utilizo, um Orient, só coincidi as datas muito raramente.

Nos dias que correm, relógio (mecânico) no pulso para mim vale mais pelo prazer do que pela função.

Aliás, por favor, ajudem a preservar o meio ambiente (ou o pouco que ainda resta dele). USEM RELÓGIO MECÂNICO.

abs, jos