Porém, simplesmente um Big Bang normal (o tradicional, em aço e cerâmica, ou aço e ouro) não vale nunca os 15 mil dólares que cobram por ele. Por esse preço, vou no "real deal", o AP Royal Oak tradicional. E quem me disser que não houve "inspiração" da Hublot nos AP está mentindo.
Engraçado você dizer isso Flavio, eu sempre me achei meio "fora d'água" por me sentir estranho quando experimentei um Big Bang na Natan, todos diziam "nossa, que maravilha, vale tudo o que custa" e eu nunca consegui achar que valia nem metade do que custa, mesmo o preço nos EUA. É um lindo relógio, de verdade muito bonito, mas meio careiro pro meu gosto.
Agora Rafael, sei que você espera um conselho de alguém mais experiente do que eu, mas se me permite um pitaco, invista esse dinheiro em uma peça mais original, com design próprio, tem muita coisa boa, diferente e barata por aí, por que ter uma homenagem de um Big Bang, nunca vai ser ter um Big Bang, então, se eu fosse você, ou guardaria o dinheiro ou investiria em um relógio de design original, etende?
Abraços,
Serafim
Serafim, na Suíça eu e Igor víamos as vitrines da marca, com todos os modelos, e toda hora nos perguntávamos: " como pode, como pode, como pode?". Se for para escolher uma marca mais inflacionada artificialmente no momento eu diria Hublot, sem pestanejar. Como disse, compraria um se alguém me oferecesse muito barato. Mas como estávamos na Suíça e, ao lado de Hublots, podiamos ver Mosers e Breguets pelo mesmo preço, simplesmente nos perguntávamos: "não pode, como pode, não pode, como pode?".
A Hublot tem uma estória interessante. O Carlo Crocco idealizou, no início dos anos 80, aquilo que julgava a epítome do relógio de luxo, mas, ao mesmo tempo, esportivo. No seu ideal, o relógio apresentava uma fusão de materiais como meta. Normalmente as caixas eram em ouro ou aço, mas com uma pulseira de borracha - algo que nunca havia sido utilizado num relógio de luxo até então - para "contrabalançar".
Na mesma época, um cara, Jean Claude Biver, teve uma sacada: bem, há uma fábrica aí que fechou há quase uma década mas tem uma história interessante e, com algum marketing, pode ser alavancada para produzir relógios para conhecedores (a marca era a Blancpain). Biver tinha uma visão. Sua visão era fazer relógios visualmente básicos (redondos, entenda-se), em produção limitadíssima, resgatando as artes esquecidas da relojoaria (turbilhão, movimentos extra planos, repetição, etc). Comprou a marca (o nome) por uma bagatela (10 mil dólares, sério!), contratou uns 5 relojoeiros fodões e passaram a produzir relógios.
O troço deu certo, a Blancpain ressurgiu, está aí bombando até hoje com seus relógios complicados.
Depois, Biver abandonou a Blancpain e se tornou CEO da Omega.
Há alguns anos, embarcou na Hublot, e, como na Blancpain, tinha uma visão bem definida do que queria. A marca não é conhecida pelos relógios "fusion"? Vamos dar um passo à frente e criar a epítome do relógio fusion.
Surgiu, então, o Big Bang, que na época se mostrou revolucionário no design que misturava fibra de carbono com ouro, cerâmica, etc. Ganhou até prêmio de design na época.
O problema é que o conceito de fusion - algo que vejo muito nos Richard Mille, por exemplo - não chegou aos movimentos, com execção de um rotos em cerâmica colocado no já tarimbado Valjoux 7750. Espere aí: não um Valjoux 7750 qualquer, mas um Valjoux 7750 fabricado pela Hublot! Sério, acho que ninguém sabe isso, mas como o 7750 (a patente) já caiu em domínio público, a Hublot passou a fabricá-los em casa, mudando o material (dizem eles...) das pontes e platinas para algo com "Hublonitanium", sabe-se lá o que é isso. Fato é que já tive em minhas mãos vários Hublots Big Bangs e, sinceramente, não vi diferenças para melhor em acabamento do que meu Tissot Janeiro com um 7750 certificado como cronômetro (é a melhor versão que a ETA oferece).
E como o Biver não é bobo, ele passou, claro, a utilizar de algumas técnicas. Por exemplo, uma loja pedia 5 Big Bangs, ele mandava 2, para sempre estar em falta e causar aumento de preço (falso) por lei de oferta; dizem as más linguas (e isso é feito por várias outras marcas) que Big Bangs foram dados a formadores de opiniões.
Lá pelas tantas, o relógio pegou, os playboys todos estavam usando, os ricaços idem, e o relógio se tornou cult, inclusive falsificado aos montes no mundo. Aliás, a produção da Hublot não passa, até hoje, de cerca de 25 mil relógios, mas é capaz de só em Brasília eu encontrar isso, se é que me entendem.
Em síntese, a marca, na minha opinião, na era Biver foi meio que criada artificialmente. Ok, a Blancpain também, mas essa veio ao mercado para trazer o que de mais tradicional existia na relojoaria, sobretudo no quesito movimento.
O Hublot seguiu o caminho contrário. Pior. Seguiu o caminho do Franck Muller, por exemplo, que de fodão, Mestre das Complicações, etc, passou a ser o mestre do marketing, vendendo relógios com Valjoux 7750 sem qualquer modificação técnica, por 20 mil dólares.
A Hublot, agora que comprou a...sei lá, esqueci o nome, uma fábrica de movimento - passará a ter movimentos singulares. Talvez, então, eu não a veja mais apenas como uma fábrica que usa movimentos que são encontrados em marcas de 1000 dólares, dentro de uma caixa cara. No momento, porém, vejo a Hublot como uma marca que efetivamente não oferece muito pelo que cobra e, pior, carrega um estigma dentro dos conhecedores de relógios de algo que é puro "hype", modismo.
Só o tempo dirá.
Flávio