O ar condicionado quebrou
Má notícia e péssimo presságio. Estou aqui no início de Dezembro, ano de 2010, na cidade “quase” maravilhosa, esperando chegar o verão, o Fluminense ser Campeão, os bandidos saírem do Morro do Alemão, Lula cair fora e tantas outras coisas que podem ser notícia nos jornais. Mas, nesse primeiro dia abafado e de calor acima dos 35 graus eu acordei na noite com um barulho de bateria de escola de samba misturado com carroça de boi, o calor aumentou: O ar-condicionado pifou! Desliguei a geringonça e tentei retornar ao sono, nada. Pensei, esse verão vai ser dos bravos, está nevando precocemente na Europa e aqui o bicho vai pegar!
Tenho medo do Verão, não gosto do calor, do suor, do grude, das assaduras, da desagradabilíssima sensação de ir para o trabalho e esbarrar com a vida alegre e feliz dos banhistas! Cacete, as praias deviam ter alambrado, igual à linha amarela, você passa de carro e não vê a face feia da cidade, as favelas e os pobres. Ora, porque não implantar nas orlas pecaminosas do Rio? Você indo prá labuta e vêem os incríveis surfistas, as belas coxas das meninas, as bundas talhadas nas academias, o sol e o mar de braços abertos prá você. É duro colega, e o trouxa aqui, com hora marcada, atrasado, fingindo com aquele sorriso de quem está “gozando com o Pau dos outros”, é como me sinto, um adolescente vendo um filme pornô... Come com os olhos! Alambrado já! E burca nas meninas! Estou com raiva do verão...
Todo o ano chega Dezembro e minha aflição começa, não estamos preparados para viver o verão, 40 graus na cidade cada vez mais atolada em problemas: transporte caótico, engarrafamentos e de doenças que habitam as barrigas dos mosquitos. A praia, quando você pode ir, é um programa de maluco, já foi bom morar no Rio... Hoje estou pessimista. O último ano que meu ar quebrou foi um terror, chuvas torrenciais, mortes, não quero nem pensar, estou com muito medo, me ajudem! Que devo fazer? Vamos nos organizar? Uma idéia: Que tal rodízio de praia? Não tem os dos carros em São Paulo? Dias pares está liberado para mulheres de peito grande e homens de pau pequeno. Nos ímpares invertemos, peitinhos e pau grande! Podem bolar outras regras que sejam universais. Altos e baixos, pretos e brancos (sou contra o racismo!), casais fiéis (dia dos padres, freiras e a turma da “melhor idade”, na praia vazia...), Cornos (aí fudeu geral! não vai ter espaço nas areias). O importante é limitar a freqüência da praia ! Os ricos já não vão ! Educados, eles só circulam nas calçadas, bem vestidos de bermudas e tênis impecávelmente brancos, as mulheres de chapéu e lenço, com o rostos mais brancos que as nuvem do céu, e tome óculos escuros ( tenho a impressão que rico não tira o óculos nem prá dormir ! ), eu nunca vi um rico pisando na areia da praia da cidade. Rico vai prá Angra, não é? Eles já estão colaborando minha gente, vamos fazer a nossa parte? Eu estou tentando o caminho mais difícil, ficar rico! Está difícil, mas não desistirei!
Voltemos aos fatos, quem gosta de Verão? Só os turistas (são babacas mesmo) e os ricos (viajam prá esquiar na Suíça), os que fazem a vida no verão: Prostitutas, sorveteiro, vendedor de biscoito globo e camelô. De resto, se gosta mente, e mente desbragadamente, só prá dizer que é carioca, queimadão de praia, vagabundo, vida boa, ou aposentado, é cultural. O carioca é feliz prá fora de casa e triste quando chega em casa, entendeu? Se você é paulista tem que ler com muita atenção, a casa do carioca não é seu lugar preferido, ele sofre... Não tem conforto, varandão, suítes e ar condicionado, aqui não é Sampa não. O esquema é acordar cedo e ir prá praia, sorrir, malhar, azarar as meninas e “gastar o dia” até o último chope! A casa é prá dormir (quando o mosquito deixa) e trepar (quando a patroa deixa!) e só.
Venha meu amigo, tentar ser carioca por um dia, ou você é o sorridente de calção e chinelo ou o sofredor de uniforme/paletó, gozar ou sofrer, e rezar, rezar muito para não chover... Aí meu Deus , o ar-condicionado quebrou, e isso é um péssimo sinal...
Roberto Solano