Thiago, isso é verdade. Meu primeiro relógio mecânico foi um Omega Constellation C 1973, em estado mint, que pertencera ao meu avô. Tem uma história muito bonita, já contei aqui. Ele começou tudo. De presente de formatura ganhei um Speedmaster, mas não na formatura, uns meses antes (formei-me na faculdade com 22 anos). Acho que já usava um Speedmaster desde os 21 anos... No entanto, trabalhava na época ganhando 2 salários, como escrevente do TJMG (estagiário, porque tudo em Minas que se referia a trabalho de ôreia seca girava através de estagiários, o que acho até correto. Um escrevente em Brasília ganha uns 9 mil por mês! Mas isso é outra história...). Não quis nem saber, separei um pouco do salário por mês durante um ano e comprei um Longines Avigation. Tudo bem que, proporcionalmente, esses troços eram mais baratos naquela época, mas hoje estamos falando de relógio de 6 mil reais. Tudo bem também que esse relógio, conquanto tenha uma história (primeiro que comprei com minha grana), tem me dado dores de cabeça há décadas, mas isso também é outra história. Não satisfeito, depois de formado, passei a estudar para concurso e minha mãe me dava, na época, uma mesada de 500 reais por mês. Era o suficiente para eu sair para 4 baladas no mês e não pirar, sua intenção ao me dar o dinheiro era essa mesmo. Pois eu saia 3. Poucos meses depois, comprei um Revue Thommen Cricket.
Enfim, não querendo ensinar padre a rezar missa e, claro, não me imiscuindo em orçamentos alheios, mas um Patek é um sonho difícil de alcançar sem detonar meu orçamento, até mesmo o atual (e olha que AINDA ganho muito bem, apesar de a FDP da Dilma não me dar recomposição alguma de salário há seis anos). No entanto, um Speedmaster Professional pouco usado pode ser comprado por cerca de 5 a 6 mil reais. Um luxo? Claro! Só mesmo nós, loucos, compramos uma besteira dessas por 6 mil reais.
Mas nessas horas lembro do meu pai que, mesmo tendo sido rico durante um tempo, quebrou nos anos 90 e me falava, quando queria algo (que não comprometesse, claro, meu orçamento, mas que me pedisse um certo esforço): Flávio, sonhos não são eternos. O sonho é agora e mais vale aproveitá-lo.
Dito isso, as marcas intermediárias da relojoaria suíça, conquanto CARAS DEMAIS para qualquer realidade, são sonhos acessíveis. Basta querer. E sonho é sonho. Acho que só não passei e não vou passar nunca meu Longines para frente (apesar de ele já ter ido para a revisão umas 4 vezes, porque o movimento ETA 2894, na minha opinião, é uma tosqueira dos infernos que não funciona muito tempo bem) pela história narrada acima. Foi um sonho na época... E eu não podia, naqueles tempos, nem pensar em usar algo do tipo! Era uma comédia, eu frequentava aulas de cursinho para concurso usando caneta tinteiro aço e ouro e relógio mais caro do que qualquer coisa que os próprios professores!
Flávio