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o relógio e o tempo.

Iniciado por ogum777, 16 Setembro 2012 às 16:21:30

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ogum777

pequenas divagações. espero que não achem superficiais.
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O tempo é algo que intriga os humanos desde a aurora da humanidade. Há milênios usamos marcações de tempo, observando a duração da luz nos dias, a posição das estrelas, as posições do sol, os ciclos lunares, os ciclos de fertilidade da terra, das mulheres, o ciclo da vida.

O tempo sempre intrigou o ser humano. Ainda não sabemos o que ele é de fato, senão um eterno continuum, algo que flui, sempre no mesmo ritmo, embora nossa percepção sobre ele mude tanto... Santo Agostinho, no livro XI das suas "Confissões", afirma: "Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei. Contudo, afirmo com certeza e sei que, se nada passasse, não haveria tempo passado; que se não houvesse os acontecimentos, não haveria tempo futuro; e que se nada existisse agora, não haveria tempo presente."

Só sabemos o que é o tempo pois o vemos passar. Vemos os ciclos da natureza, o grande passar do tempo, como todos os antigos, mas inventamos o ver o tempo passar nos períodos mais curtos, não mais de todo um dia, mas das suas divisões, as horas, os minutos, os segundos.

Vemos pois há o que nos permita ver: o relógio. Essa máquina que inventamos, nós, os humanos, para ver o tempo, para marcar o tempo que passa e nunca para, o tempo que sempre flui. Máquinas ora grandes para serem colocadas em torres e serem vistas a muita distância, ora pequenas para serem penduradas ao pulso, ou menores ainda incorporadas a outros instrumentos.

Essa máquina é o relógio, do latim horologium, o conhecimento das horas.As horas que passam sempre da mesma forma, embora um presidiário veja cada hora de espera na cela como um século, assim como um amante vê a mesma hora passada com a amada com um segundo, e em cada beijo a eternidade: "A eternidade estava em nossos lábios e olhos", disse Cleópatra sobre Marco Antonio, pela pena de Shakespeare (em "Antonio e Cleópatra).

Não sabemos o que é o tempo mas o vemos passar, solerte, diáfano, ora pesadamente, ora fluindo, escorrendo como água pelo meio dos dedos. Tempo que nos domina, e que sonhamos dominar ao inventar o relógio.

É isso o relógio: a máquina metafórica que exprime o desejo de dominar o tempo, dominar a vida, dominar a própria existência.

No andar do relógio vemos a vida passar. Aos pequenos saltos nos relógios digitais e nos relógios analógicos a quartzo, e fluindo progressivamente nos relógios mecânicos, alimentados pela própria vida, pela corda manual carregada pelos dedos, ou pela corda automática carregada pela vida em movimento no próprio corpo.


O relógio é isso. É a expressão do sonho humano em controlar o próprio destino, sonho que acaba por também expressar outras características tão humanas, como a perfeição, sempre tão uniforme na acurácia dos relógios a quartzo, e a imperfeição sempre tão variada e requerendo tanta tolerância como a imprecisão de muitos relógios mecânicos. Justamente por suas imperfeições tão variadas tantos atribuem "alma" aos relógios mecânicos, por neles enxergar as idiossincráticas imperfeições humanas.

Um relógio, afinal, não é apenas uma maquininha, mas a expressão dos nossos desejos, das nossas projeções, do que queremos parecer ser e do que queremos esconder ser, das nossas simulações e dissimulações, da nossa necessidade de imaginar controlar o que nos controla a todos: o tempo. Nada mais do que isso, mas nada menos do que isso.

Um relógio é um reflexo das nossas relações com o mundo, das nossas circunstâncias, das nossas condições de vida e da forma como nos relacionamos com elas. Reflexo da nossa alma, do nosso tempo, da nossa existência. E por isso sim, para os que prestam atenção, para os que tem olhos de ver, o relógio não é apenas uma maquininha, mas nosso espelho, nosso reflexo, não apenas do que queremos ser, mas do que somos, da soma do nosso tempo, dos dias vividos, do continuum que é o tempo, isto que pensamos conhecer mas não sabemos o que é, o senhor da nossa vida.

flávio

Outro dia assisti a um programa no canal "Philos" (acho que é isso...) que lidava justamente com o tema.


Flávio

Filipeandrade

Ogum,

gostei muito de ler!

Abs

Filipe

Doce é a vida do operário que se basta a si próprio;
  Vivendo assim, encontraras um tesouro!

ogum777

Citação de: flavio online 17 Setembro 2012 às 10:35:12
Outro dia assisti a um programa no canal "Philos" (acho que é isso...) que lidava justamente com o tema.


Flávio

onde esse canal? sou prof. de filosofia tb, é um tema recorrente na área.

watchgirl

Texto excelente Ogum, retrata bem o esforço de definirmos este fenômeno denominado TEMPO!
''All we are is dust in the wind.''

Abraços da Watchgirl!