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Para quem curte Rock progressivo

Iniciado por solano, 08 Junho 2014 às 21:07:26

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solano

Yes! Nós temos progressivo.

Um belo trabalho da jovem jornalista Amanda Barcellos que mostra que temos muita riqueza musical em campos pouco conhecidos. Vejam:

https://www.youtube.com/watch?v=t1b3tbrb-2A


Abraços,

Roberto Solano
" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana

Dicbetts

Vi o vídeo. Como coleta de depoimentos, nenhum reparo a fazer.

Mas é preciso desmistificar algumas coisas. Tais como:

1) apesar de ser proibida a importação de instrumentos musicais até, pelo menos, 1982, o contrabando floresceu. Lobão, quando foi baterista do quarteto carioca Vímana (que incluía Lulu Santos e Ritchie), tocava com uma bateria Tama, japonesa. A Fender do Lulu era uma Stratocaster, americana. Isso em 1974. Como eles, outras bandas de grande/médio porte tinham instrumentos e amplificação importados. A turma do baixo clero, evidentemente, não podia fugir dos tristes Gianninis e Pinguins.

2) boa parte desse contrabando pequeno vinha pelo canal Argentina/Paraguai. Já os maiores vinham com carimbo oficial, via corrupção de agentes alfandegários.

3) alguns dos principais estúdios do país não prescindiam de equipamentos importados. O da hoje quase extinta EMI Odeon, na rua Real Grandeza, em Botafogo, no Rio de Janeiro, foi um dos primeiros a ter uma mesa Studer de 24 canais. E um par de decks Otari de oito pistas. O Sonovídeo, na lateral da Igreja de Santana, na Praça XI, tinha um controle Telefunken plugado em gravadores Ampex.

4) é exagero ligar o som de Minas ao rock progressivo. Estava mais para o jazz que para o rock. Tanto que o primeiro disco do Milton Nascimento foi relançado pelo selo americano de jazz CTI, com o nome "Courage". E o sax tenor Stanley Turrentine lançou um disco formidável intitulado "Salt song", justamente uma música do Milton.

5) e Toninho Horta, é bom lembrar, se consolidou nos EUA com um grande guitarrista de... jazz.

6) Som Imaginário, Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Mutantes (e partir do "Tudo foi feito pelo sol"), O Peso não podem ser considerados progressivos, se formos seguir a escola britânica, alemã ou italiana. É uma linguagem totalmente diferente, com imensa influência do tropicalismo e até da Jovem Guarda. Mesmo o pessoal que fazia rock (como Casa Das Máquinas, Veludo Elétrico, Bixo da Seda ou Made in Brazil) tem um dialeto bem diferente de um Deep Purple ou um Foghat, por exemplo.

7) quem mais chegou perto do entendimento desse "progressivo brasileiro" foi o tecladista Patrick Moraz, ex-Yes. Em 1975, lançou um disco intitulado "I", no qual mixou trechos de pontos de umbanda e candomblé nas faixas. Aliás, Moraz viveu no Brasil alguns anos.

8) a Eldo Pop foi um oásis de música de primeira linha que durou pouco mais de um ano. Tocava de tudo, do progressivo de um Premiata Forneria Marconi ao pop de um 10 CC ou Roxy Music. Quem diz que era só progressivo jamais ouviu a Eldopop.

9) um erro histórico a ser corrigido: o DJ Big Boy não fundou a Eldopop. Ele foi da Mundial AM, então rádio do Sistema Globo de Rádio, que era voltada para o público jovem - a Rádio Tamoio era para o povão e a Eldorado para o público classe A. A Eldopop nasceu na necessidade de o Sistema Globo marcar presença na recém-nascida faixa de Frequência Modulada, aberta pela Agência Nacional de Radiodifusão. Por isso é que a Eldopop não tinha locutores e só podia ser ouvida entre o meio-dia e as duas da manhã do dia seguinte.

10) Mas é preciso reconhecer que foi pelas ondas da Eldopop que o brasileiro conheceu de bandas como Camel, Caravan, Gentle Giant, Atomic Rooster, Renaissance, Kansas, Le Orme, Banco del Muttuo Soccorso, Aphrodite's Child, Triunvirat, Ambrosia... e por aí vai.

11) o progressivo no Brasil, segundo a linguagem europeia, tem local e ano de nascimento: Rio de Janeiro, 1983 - quando foi lançado o disco "Depois do fim", do Bacamarte. Valem ser mencionados ainda os discos do falecido Marco Antônio Araújo, que iam na mesma direção, mais ou menos na mesma época.

12) Jane Duboc, ex-cantora do Bacamarte, consolidou carreira na... MPB.

13) considero que as atuais bandas do progressivo nacional sejam mais filhas rebeldes do prog metal (Dream Theater, Symphony X, Shadow Gallery etc.) que propriamente do progressivo setentista. Nem todas seguiram a trilha do Angra, é claro.

14) o fato de algumas delas usarem flauta transversal entre seus instrumentos tem mais a ver com os discos do Jethro Tull da década de 1980 ("Beast and broadsword", "Under Wraps" ou "Crest of a knave") que os da década de 1970 ("Thick as a brick" ou "War child", por exemplo). É só comparar as linguagens.

15)  por fim, discordo que a imprensa tenha má vontade com o progressivo - gênero desde sempre considerado pretensioso, excessivamente gongório, sempre resvalando no xaroposo e no datado. Se pegarmos revistas que foram sucesso de público nos anos 1970, como a americana "Circus" ou a inglesa "NME", veremos que o progressivo jamais teve muito espaço.

Dic

automatic

Dic,
Belo texto !
Eu adoro o estilo que é muito particular e dificil para a maioria.

De brasileiro ja escutei de tudo, mas acho o som muito primitivo pois minha linha é mais para o NEO PROG. Entao de brasileiro gosto do Sagrado e Tempus Fugit.
E acabei caindo no gosto do Porcupine Tree, Pendragon e IQ....

Dicbetts

Citação de: automatic online 06 Julho 2014 às 08:25:56
Dic,
Belo texto !
Eu adoro o estilo que é muito particular e dificil para a maioria.

De brasileiro ja escutei de tudo, mas acho o som muito primitivo pois minha linha é mais para o NEO PROG. Entao de brasileiro gosto do Sagrado e Tempus Fugit.
E acabei caindo no gosto do Porcupine Tree, Pendragon e IQ....

Valeu, Automatic.

Não sou um grande fã dos progressivos. Mas tenho discos do EL&P, Kansas (vi um único show há muitos anos), Jethro Tull, Rush (esses sou macaca de auditório), Pink Floyd, entre os mais antigos.

Dos novos, ouvi durante muito tempo do Dream Theater (até me cansar). Tenho alguns CDs do Threshold e do Spock's Beard, mas nada que me encante.

Acho que tem seu valor. O problema é escutar demais.

Dic

GuilhermeLago

Sem querer contradizer o amigo Dic, cujo conhecimento na matéria e verve na escrita são imbatível, uma vez vi uma entrevista do Paul McCartney quando ele fez um show aqui, e foi mais ou menos assim:
- [repórter] E do rock brasileiro, do que você mais gosto?
- [Paul] Eu gosto do Milton Nascimento e do Clube da Esquina.
- [repórter] Mas isso não é rock...
- [Paul] ... um de nós dois não sabe o que é rock.

É progressivo, rock rural, mpb...?
Eu curti na mesma época o Clube da Esquina e o Jethro Tull. Os Secos e Molhados e o Focus, Yes  O Terço e ELP, Sá, Rodrix e Guarabyra e The Allman Brothers...
A Barca do Sol, Egberto Gismonti. E os psicodélicos nordestinos (Flaviola, Lula Cortês). Virge! É muita coisa!

Abraços

Dorotheo

E a Banda Nau??? Aquela que Vange Leonel era líder, pra mim rock progressivo anos 80, mas sou de 1983... ;)
Todo ser humano é culpado do bem que não fez. Voltaire

Dicbetts

Citação de: GuilhermeLago online 16 Julho 2014 às 10:12:45
Sem querer contradizer o amigo Dic, cujo conhecimento na matéria e verve na escrita são imbatível, uma vez vi uma entrevista do Paul McCartney quando ele fez um show aqui, e foi mais ou menos assim:
- [repórter] E do rock brasileiro, do que você mais gosto?
- [Paul] Eu gosto do Milton Nascimento e do Clube da Esquina.
- [repórter] Mas isso não é rock...
- [Paul] ... um de nós dois não sabe o que é rock.

É progressivo, rock rural, mpb...?
Eu curti na mesma época o Clube da Esquina e o Jethro Tull. Os Secos e Molhados e o Focus, Yes  O Terço e ELP, Sá, Rodrix e Guarabyra e The Allman Brothers...
A Barca do Sol, Egberto Gismonti. E os psicodélicos nordestinos (Flaviola, Lula Cortês). Virge! É muita coisa!

Abraços

Depois do Sgt. Pepper's, dou ao Macca o beneplácito da abrangência.

Mas, qual Clube da Esquina ele ouviu? O 1 ou o 2?

E concordemos: o "Native Dancer", que também faz parte da discografia do Wayne Shorter, está longe de ser rock. Latin jazz? Talvez.

"Minas", "Milton", "Milagre dos peixes"... Bem, não considero rock.

Já "Caçador de mim" encaixaria na categoria rock (com má vontade, mas encaixaria). E sobretudo pela versão (horrorosa, registre-se) de "Ghost riders in the sky".

Tal como Novos Baianos. É rock? Para mim, não. Até tem rocks, mas tem chorinhos, sambas, xotes...

E A Cor do Som? E o Boca Livre?

Dic

lucius

Citação de: Dicbetts online 23 Julho 2014 às 15:32:55

E sobretudo pela versão (horrorosa, registre-se) de "Ghost riders in the sky".

O Johnny Cash soube dessa versão?  ;D

Engraçado que outro dia eu ouvia a Ghost na voz do Johnny e um caboclo que estava comigo, perguntou se esta era aquela música do Milton.  ;D


Lucius
Corruptissima re publica plurimae leges

Dicbetts

Citação de: lucius online 23 Julho 2014 às 15:40:10
Citação de: Dicbetts online 23 Julho 2014 às 15:32:55

E sobretudo pela versão (horrorosa, registre-se) de "Ghost riders in the sky".

O Johnny Cash soube dessa versão?  ;D

Engraçado que outro dia eu ouvia a Ghost na voz do Johnny e um caboclo que estava comigo, perguntou se esta era aquela música do Milton.  ;D


Lucius

Não sei. Mas, se soube, deve ter torcido o nariz.

Dic

GuilhermeLago

Acho que o Paul se referiu ao Clube da Esquina como clube - ou seja, o movimento musical que fez, na minha opinião, um dos melhores momentos da nossa música.

Não sei se o Milton tem um álbum "rock" - prá mim, o "Minas" seria o mais próximo. Quando relançaram em CD incluíram aquela versão de Norwegian Wood... não foi à toa que ficou fora disco! Bad trip a um passo da overdose!!

"Girassol da cor do seu cabelo", prá mim, é um progressivo dos bons. "Idolatrada", "Fé cega, faca amolada", são bem rock. "Promessas de sol" seria um "rock-indígena-brasileiro" kkkkk

Se rock, se jazz... Acho que os caras conseguiram criar algo mesmo original e, ao mesmo tempo, popular e sofisticado. Eu sei é que eu curti muito esse som, mesmo não sendo tão contemporâneo assim. Além de tudo, me fez conhecer músicos incríveis como: Novelli, Robertinho Silva, Ricardo Silvera, Naná Vasconcelos, Wagner Tiso, Airto Moreira, Hélio Delmiro...

Abraços!

Dicbetts

Citação de: GuilhermeLago online 23 Julho 2014 às 17:43:41
Acho que o Paul se referiu ao Clube da Esquina como clube - ou seja, o movimento musical que fez, na minha opinião, um dos melhores momentos da nossa música.

Não sei se o Milton tem um álbum "rock" - prá mim, o "Minas" seria o mais próximo. Quando relançaram em CD incluíram aquela versão de Norwegian Wood... não foi à toa que ficou fora disco! Bad trip a um passo da overdose!!

"Girassol da cor do seu cabelo", prá mim, é um progressivo dos bons. "Idolatrada", "Fé cega, faca amolada", são bem rock. "Promessas de sol" seria um "rock-indígena-brasileiro" kkkkk

Se rock, se jazz... Acho que os caras conseguiram criar algo mesmo original e, ao mesmo tempo, popular e sofisticado. Eu sei é que eu curti muito esse som, mesmo não sendo tão contemporâneo assim. Além de tudo, me fez conhecer músicos incríveis como: Novelli, Robertinho Silva, Ricardo Silvera, Naná Vasconcelos, Wagner Tiso, Airto Moreira, Hélio Delmiro...

Abraços!

O problema é que se abre demais a linguagem de rock, se o conceito do Macca for levado a sério.

Desses músicos que você citou, nenhum deles fez carreira no rock. Mas, no jazz e mesmo na MPB, mandam.

O Robertinho Silva tocou com, entre outros, João Donato e Paulo Moura. Rock? Não esteve nem perto dele ao longo da carreira.

O Naná tocou com, entre outros, Don Cherry, Pat Matheny e Colin Walcott. Rock? Não esteve nem perto dele ao longo da carreira.

Airto Moreira tocou com, entre outros, Miles Davis, Joe Farrell, Hermeto, Ron Carter, Kenny Barron, Flora Purim, Dizzy Gillespie, Freddie Hubbard. Rock? Não esteve nem perto dele ao longo da carreira.

Hélio Delmiro tem um disco formidável com o Cezar Camargo Mariano. Rock? Só se depois que virou "De Jesus".

Acho, sinceramente, que o Macca jamais ouviu atentamente Milton Nascimento ou os expoentes do Clube da Esquina (Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta etc.).

Me soa uma saída que os bons marqueteiros de si mesmos fazem diante de perguntas embaraçosas, devidamente baseados na cultura musical que amealham, ou num bom media training fornecido pela assessoria de imprensa.

"E qual músico japonês você prefere?"

"Ah, adoro o Stomu Yamashita!"

"Mas ele não é rock!"

"Um de nós não sabe o que é rock, já que ele gravou com o Steve Winwood e com o Michael Shrieve..."

Silêncio constrangedor. O repórter morreu.

Dic

solano

" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana

solano

" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana