Sobre o sistema Parachute de amortecimento de Breguet

[flávio]

Ontem fizeram um questionamento a respeito dos motivos para criação de um sistema anti choques nos relógios, e resolvi desenvolver um pouco o tema. Toda a rodagem do relógio apoia-se em rubis (ou mancais em bronze ou na própria platina), sendo que os eixos das engrenagens são finos como cabelo e feitos em aço. Ocorre que o pequeno peso de uma engrenagem raramente faz com que o impacto quebre seu eixo. O mesmo não acontece com o eixo do balanço, que apoia o próprio peso do balanço, espiral, etc. Ou seja, quando um relógio do passado caia ao chão ou sofria choque severo, era quase certo que quebrasse o eixo do balanço, e isso era mais verdadeiro em relógios de bolso, cujos balanços eram enormes e pesados.

Reza a lenda que Breguet, numa das suas demonstrações "publicitárias" para os barões da época, estava em uma festa, na qual estava presente Talleyrand, futuro primeiro ministro francês. Lá pelas tantas, ele tirou o seu relógio do bolso e jogou ao chão, algo que certamente quebraria o eixo do balanço e pararia o relógio. Para surpresa de Talleyrand, ele pegou o relógio e este funcionava perfeitamente. Pelo menos é a lenda...

Na verdade, Breguet projetou o sistema anti choque "Parachute" não imaginando quedas ao chão. O sistema foi projetado para ser usado nos seus relógios "perpetuelles" automáticos, que possuíam uma pesada massa oscilante em ouro que, com o caminhar, carregava o relógio. O problema é que essa massa oscilante funcionava como os relógios "bumper" das décadas de 40 e 50, e a cada ciclo dava uma "porrada" no movimento, que poderia afetar a precisão do relógio e até mesmo quebrar o eixo do balanço.

A primeira solução de Breguet (vejam foto retirada da obra The Art of Breguet, de Daniels), foi a substituição dos pivôs normais, que normalmente possuíam (e possuem até hoje) pontas côncavas para pontas em forma de agulha, que foram apoiadas em rubis côncavos. Acima deste rubi havia uma mola que, com choque, dispersava as forças envolvidas. A "pressão" da mola sobre o rubi podia ser alterada via parafuso (figuras 407 b, 407 a ).

A evolução final do sistema foi transferir todos os pontos de contato e resistência à choque para a própria mola, como na figura 408.

Nos relógios que possuíam escapamento por cilindro, a forma indicada nas figuras 409 era a usada, mas o funcionamento era basicamente o mesmo.

Aliás, nos atuais relógios "Tradition" da Breguet, para manter o visual, há a tal mola acima do anti choque que, na verdade, não é um Parachute tradicional: a mola tem apenas função estética e cobre um anti choque kif ou incabloc tradicional.



No início da relojoaria de pulso, anti choques não eram usados. Posteriormente, adotaram uma forma que, conquanto evoluída, funciona basicamente do mesmo modo dos Breguets de mais de cem anos antes, da seguinte forma, como no vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=FakIAZxcDII


Flávio

[ejr888]

Bom dia Confrade!

Obrigado pela explicação detalhada!
Minha irmã já quebrou o tal do eixo de balanço do Rolex dela simplesmente
deixando cair no chão em uma festa.

Muito interessante saber como que funciona.

Abs!

[CHICO]

Aliás, nos atuais relógios "Tradition" da Breguet, para manter o visual, há a tal mola acima do anti choque que, na verdade, não é um Parachute tradicional: a mola tem apenas função estética e cobre um anti choque kif ou incabloc tradicional.

Flávio

Não fazia idéia que "aquilo" não tinha função (no La Tradition)
Agora, toda vez que olho uma foto dele, me lembro desse detalhe, sei que muita coisa em relojoaria é puramente estética, mas não sei por que, na minha ignorância, aquilo tinha que ter alguma função pra estar lá.
Mas continuo achando o Tradition incrível.

Obrigado pelas informações Flávio.

Abraço

Chico

[Cigano]

Muito legal sua explicação caro Flávio, eu tenho alguns que não podem ver tombos ou pancadas!

[Seedorf]

Não fazia idéia que "aquilo" não tinha função (no La Tradition)
Agora, toda vez que olho uma foto dele, me lembro desse detalhe, sei que muita coisa em relojoaria é puramente estética, mas não sei por que, na minha ignorância, aquilo tinha que ter alguma função pra estar lá.
Mas continuo achando o Tradition incrível.

Obrigado pelas informações Flávio.

Concordo 100%
Muito bom o texto.

Obrigado Flavio!