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A corporação de ofícios britânica irá processar o Swatch Group

Iniciado por admin, 19 Setembro 2016 às 10:53:29

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flávio

Como temos discutido há algum tempo e, inclusive, foi ressaltado essa semana novamente, as empresas optaram, há alguns anos, por indiretamente obrigarem os consumidores a revisarem seus relógios em oficinas autorizadas que, sem concorrência, cobram os preços que querem, ainda que exigidos pelas próprias fábricas. Não vou voltar à questão... Fato é que a questão foi parar, há uns dois anos, na câmara arbitral da Comunidade Europeia para discussão. O acordo, porém, não saiu, e era interesse das diversas corporações de ofício europeias, entre as quais a britânica ainda é a que possui alguma influência, que a questão fosse resolvida amigavelmente. Não sei como funciona o sistema judicial britânico, mas em julho a guilda deles enviou, por obrigação legal, a chamada "carta antes do processo", intimando o Swatch Group, pela última vez, a fazer um acordo. Isso não ocorreu. O problema é a questão de fundos, a luta entre Davi e Golias num processo que custará caro. Anthony Cousins, que é dono da maior fornitura da Inglaterra, apoiado pela Guilda, finalmente irá processar o Swatch Group. Ressalte-se que o Swatch Group é tão "malandrão" que, ao receber a intimação, processou primeiro o inglês na Suíça, para deslocar a competência. Mas as ações na corte britânica parece que não vão parar. Aguardemos.

Para acompanhar a questão, o micro site que criaram:

http://www.bwcmg.org/tags/industry-action-fund


Flávio


FelipeP

Que fase hein, eu que pensei que distribuir ação pra puxar competência era coisa dos espertalhões brasileiros.

flávio

Citação de: FelipeP online 19 Setembro 2016 às 18:56:16
Que fase hein, eu que pensei que distribuir ação pra puxar competência era coisa dos espertalhões brasileiros.



Você não sabe da missa a metade, mas vou postar aqui toda história. Está na folha 1 e a partir da 10 deste boletim. Em 2009 os grupos suíços - todos - foram processados na Espanha, do Richemont ao LVMH, passando pelo Swatch a independentes como a Rolex. Foi alegado justamente monopólio e concorrência desleal, o que tenho REPETIDO À EXAUSTÃO aqui. Em 2011, algo assim, eles perderam, todos. Mas os relojoeiros espanhóis não tiveram acesso às peças porque... A Cartier, também se minha memória não falha, apelou. E perdeu! Mas mesmo assim não tiveram acesso à peças...

Existe uma regra na comunidade européia que se a questão é levada às autoridade da CE, o caso local deve ficar suspenso, porque qualquer decisão na corte européia tem efeitos em todo continente. Só que a decisão da corte européia foi no sentido de não se meter, porque cada caso deveria ser resolvido localmente. Fato é que as empresas tem um lobby poderoso e, por filigranas jurídicas, a decisão da corte espanhola acabou sendo "atropelada" pela da corte européia que, diga-se, se movimentou a pedido... Das empresas!

Portanto a decisão que agora pode ocorrer neste caso inglês tem tanta importância.

Eu vou além, tendo lembrado de um filme, no qual John Travolta faz um advogado de porta de cadeia mas, lá pelas tantas, encampa uma questão de direito coletivo mas, "atropelado" pela empresa poderosa, quebra sua firma. O filme termina com a empresa poderosa recebendo uma intimação do Ministério Público (uma "agência" ) americano, algo assim: "agora é conosco..."

Olha, uma ação coletiva só vai para frente se você consegue, claro, provar o DANO coletivo. E no Brasil, infelizmente, não existe uma associação de relojoeiros independentes, como a guilda inglesa, para demonstrar isso...

E sabem porque estou dizendo isso? Eu, com promotor e, portanto, tendo acesso a recursos e "bala na agulha", fico infeliz pelos relojoeiros no Brasil serem em tão pouco número e não unidos, porque a questão se torna "pequena" para nossa atuação. Digo isso porque se aqui houvesse uma associação indignada com esse estado de coisa, eu colocaria o MP na cola das empresas. Na Europa, infelizmente, existem as associações, mas os "ministérios públicos" não estão interessados... Aqui eu estou interessado, mas não há as associações...

Flávio

Ah! O texto que citei

http://www.bwcmg.org/sites/default/files/pdfs/timepiece/TimePieceMarch2016.pdf

Leontap

#4
Lamentavel

Matt5

Bem curioso pelo desfecho dessa historia.

Como o Flavio sempre levanta o mercado automobilístico como análogo, essa situação atual seria completamente insustentável. 

Vamos ver com os relogios.

Abraço!

raulfragoso

Sou novo aqui e não tenho acompanhado essa discussão, mas eu ia citar exatamente o mercado de autopeças como exemplo nacional do mesmo tipo de problema.
"It's easy to make something complicated, but much less easy to make it simple." - François-Paul Journe

FelipeP

Eu fico imaginando se eles não param, refletem, e pensam se isso é vantajoso realmente.

Não entendo muito de economia, mas acredito que buscar um lucro razoável ao invés de um lucro absurdo por produtos/peças acaba trazendo, no final, um resultado melhor.

Pegando o exemplo do mercado automobilístico, ontem eu levei meu carro pra fazer uma revisão em uma concessionária, o cara queria me cobrar R$ 1.100,00 pra trocar os amortecedores dianteiros....liguei pra um primo meu que tem loja automotiva, e tem alguns contatos com fornecedores, inclusive em concessionárias, resultado, vou pegar um kit original em uma outra concessionária e mandar instalar por fora, pagando metade do preço. Como nesse munda ninguém da nada de graça a ninguém, é óbvio que esta outra concessionária também esta lucrando.

Com certeza a concessionária que eu fui vai lucrar muito com quem mandar colocar o amortecedor lá, mas vai perder muito cliente também, gente que como eu vai deixar de levar em concessionária porque não quer ser explorado.

é a velha conta, melhor lucrar 20 em cada peça e vender 10 delas ou lucrar 80 em cada e só vender 2 ??? e eu acho que muitas empresas, erroneamente, escolhem a segunda opção, simplesmente porque é mais cômoda, fácil e da um ar de "sou malandrão".

é verdade que o mercado de relógios é bem diferente do de carros, mas esse tipo de atitude tem o mesmo efeitos em ambos, só afasta possíveis clientes, estimula o mercado paralelo e ainda desanima atuais clientes.

Espero que essa ação na Inglaterra possa estabelecer um marco nisso tudo


Dicbetts

Antes de entrar no assunto, esclareço: não sou advogado de defesa de ninguém, a não ser de mim mesmo.

Isto posto, reconheço que as fábricas de relógios forçam o estrangulamento do cliente na hora da manutenção. Deveriam, e nisso concordo, dar a chance de o mercado paralelo existir fornecendo peças, antes que as de má qualidade inundem e contribuam para derrubar a imagem das fábricas - quem admitirá que usou peças de segunda classe, mas semelhantes às originais?

Mas, como já foi enfatizado aqui dezenas de vezes, se o cara faz uma manutenção de cinco em cinco anos e paga, por exemplo, R$ 2 mil, vai desembolsar uma miséria. Cinco anos, 1.825 dias. R$ 2 mil : 1.825 = R$ 1,10. Não se paga nem passagem de ônibus com R$ 1,10.

E não vejo termo de comparação entre o setor relojoeiro e o automobilístico pelo fato de que, no segundo, fabricantes de peças vendem para montadoras e mercado paralelo. O filtro de óleo na concessionária é o mesmo na loja de troca de óleo.

Ou seja, existe opção. Você utiliza o serviço de quem mais lhe convém.

Mas tente colocar uma engrenagem qualquer da Rolex num Tudor com calibre ETA? Provavelmente não servirá.

Mas a Tudor não pertence à Fundação Rolex? A coudelaria é a mesma, mas um é andaluz e outro lusitano.

Dic

flávio

Saiu uma decisão em junho. Na corte britânica, os ingleses pediram que lhes fosse determinado o acesso imediato a peças pelo Swatch Group que, malandramente, entrou com um pedido na corte de Berna, para deslocar a competência para lá. O juiz de Berna declarou-se incompetente, disse que não tem nada com isso. Aguarda-se agora um recurso na Suíça e a decisão em Londres. Par a corporação de ofícios britânica foi uma pequena vitória, porque se o processo houvesse se deslocado para a Suíça, as chances seriam menores de vitória, pelo menos pensando de forma "parcial".



http://bwcmg.org/blog/swiss-court-rules-against-swatch-and-favour-cousins

Adriano

Eu li essa situação em um email que recebi de uma fornitura inglesa. O caboclo de Berna deu a entender que não acha o recurso do SG procedente, mas também não quer se "indispor" com a indústria, digamos assim.

Não é a primeira vez que o SG não recebe apoio "em casa" a acerca de práticas consideradas comercialmente abusivas.

Abraços!

Adriano

fbmj

E vai terminar na velha ordem do universo: manda quem tem dinheiro... obedece quem tem fome.

flávio


flávio

Ao pesquisar, encontrei um site que indica como estão os procedimentos. E eu achava que nosso sistema jurídico era enrolado... Segundo o Anthony Cousins, o Swatch Group tem usado de todos os artifícios para enrolar o processo, fazendo-o gastar dinheiro, na esperança que ele desista. Ele disse que não desistirá. O último update é de julho deste ano e o caso tinha voltado para a corte de Berna.

https://www.cousinsuk.com/page/news

igorschutz

Lá nos EUA tem determinados lugares e tipos de ação onde o sujeito tem que pagar custas judiciais prévias para poder se defender. Se não conseguir pagar, o processo segue à revelia...

Li no Gizmodo, semana passada, um artigo sobre uma financeira norte-americana que fazia uns rolos para que as pessoas não conseguissem pagar seus créditos, e aí depois eles ganhavam uma grana (por causa de multas, juros) no ajuizamento, pois lá não tem esse negócio de salário impenhorável, bem de família, etc. Se você deve, os caras podem te rapelar inteiro e você e sua família que passem fome.
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

flávio

Citação de: igorschutz online 24 Outubro 2018 às 16:53:44
Lá nos EUA tem determinados lugares e tipos de ação onde o sujeito tem que pagar custas judiciais prévias para poder se defender. Se não conseguir pagar, o processo segue à revelia...

Li no Gizmodo, semana passada, um artigo sobre uma financeira norte-americana que fazia uns rolos para que as pessoas não conseguissem pagar seus créditos, e aí depois eles ganhavam uma grana (por causa de multas, juros) no ajuizamento, pois lá não tem esse negócio de salário impenhorável, bem de família, etc. Se você deve, os caras podem te rapelar inteiro e você e sua família que passem fome.


Lembrei da cena final do filme Erin Brockovich, desculpem-me os spoilers quem não viu. Aliás, vejam! Mas... Lá pelas tantas, depois de uma cansativa batalha judicial de desgaste, porque a empresa tinha muita bala na agulha, essa é citada pelo MP de lá (na verdade uma Agência, eis que o MP americano tem funções apenas criminais). O Estado, pelo menos o americano, pode encampar isso e, então, "quebrar" a empresa, e não a empresa quebrar o pobre coitado com que litiga. Mas não acreditem que o mesmo ocorra no Brasil... Muitas ações do MP do qual faço parte já ficaram pelo meio do caminho porque não tínhamos recursos para fazer perícias que escritórios gigantescos acabavam nos obrigando a fazer, entulhando-nos em filigranas judiciais.



Flávio

ogum777

olás,

Já que a discussão derivou pra outras pautas, dou pitacos.

Numa coisa o Marx acertou: o inimigo do capital é o capitalista. 
Economia de mercado pressupõe concorrência, mas o empresário sonha com monopólio.

Como não estamos no século XIX, estados já aprenderam a fazer o papel de preservar as economias de mercado dos próprios capitalistas. Inclusive intervindo pesado, seja com base nas ideias da esquerda (Kalecki) ou da direita (Keynes). aí entram as legislações e claro, as a ações judiciais dos órgãos de controle, como o MP.

Mas tem lá o demônio querendo matar a própria galinha dos ovos de ouro, né? Querendo o monopólio.  Aí as incompatibilidades das peças, o cerceamento a acesso a peças de manutenção, criação de redes autorizadas e etc. Muitas vezes disfarçados de avanço tecnológico, mas metade das novas tecnologias é só pra ter patente, pra ter exclusividade e etc.

Em determinadas áreas, antes dos concorrentes copiarem a tecnologia já tá obsoleta, então a empresa só busca inovação e nem precisa protegê-la. mas isso só acontece quando uma tecnologia está no início.

Relógios? Desculpem, pouco espaço pra inovar nos  mecânicos, inova-se no detalhe. Quantos anos levaram entre o surgimento d o escapamento de âncora e a inovação (já velha, já caindo em domínio público) do escapamento co-axial?

Sendo tão difícil a inovação de projeto, vai-se ao detalhe, espiral de adamantiun, ponteiro de vibranium, dial feito de pedra extraída do subsolo do planeta Tatooine,caixa de ouro diamantado com tom bordô claro e brilho azul esverdeado  e por aí vai.

Como segurar a concorrência? Como impedir que um chinoca faça uma cópia? Pq haja marketing pra fazer se pagarem os preços que são cobrados.

Essa disputa entre a corporação de ofícios britânica e o Swatch Group é só mais um capítulo dessa dança.

Agora, mudando de tecnologia e falando de outra que o Flavio presta atenção, bikes, a se lembrar que na década de 70 não se falava em "grupos" de peças. Freio era Weimann, câmbio era Campagnolo ou Dia Compe, alavanca poderia ser Sachs, cubo era Miche e por aí vai.

De uma forma ou outra as peças eram intercambiáveis. Espaço pra concorrência. Foi assim durante muito tempo. Na virada dos anos 80 pra 90, explosão do MTB pelo mundo, mais um zilhão de fabricantes de peças diversas. Pedivelas das mais diversas marcas... Câmbios traseiros? Paul Components fazia uns lindos.

Hoje virou um festival  de incompatibilidades (Shimano consegue incompatibilizar entre ela mesma, trocadores de marcha de Speed não são compatíveis com câmbios dianteiros de MTB e vice-versa, SIS e Dyna-SYS não são compatíveis e etc ), mas se prenuncia um novo momento de concorrência pra melhorar o mercado. A onda de fazer cassetes com 11 ou 12 pinhões criou a necessidade de correntes tão finas e espaços entre os pinhões tão próximos, que há mínimas diferenças entre s peças, tão mínimas que caem na margem de tolerância. Então já tão praticamente compatibilizado cassete e corrente de qq fabricante quando se fala de 11 marchas.

E como a modinha é abandonar câmbio dianteiro e usar coroa única na frente, já tem gente fazendo coroas avulsas - inclusive brasileiros - de excelente qualidade, eu ma empresa chinesa, Sun Race, avança no mercado pelas bordas.

Vamos observar essa luta dos que buscam monopólios e os que querem preservar a concorrência durante muito tempo, em todos os setores. Vamos ver onde dará.

Tó Flávio:



Lindo, raro, pois deixou de ser fabricado há muuuuito tempo. E totalmente desmontável e reparável.






fbmj

O livre mercado é muito instável e os políticos vivem das glórias da estabilidade econômica.

flávio

Perfeito, é bem por aí. Ps. Esses câmbios não funcionavam muito bem. Ps 2. Minha bike quebrou, honraram a garantia depois de doze anos de uso, aprendam fábricas de relógios, e peguei uma nova com uma coroa modinha e onze velocidades, grupo completo Sram x1. Depois de 27 anos usando Shimano, fiquei com saudade da... Shimano hahahahahah

Enviado de meu Lenovo A6020l36 usando o Tapatalk


FALCO

Citação de: flavio online 08 Novembro 2018 às 17:52:57e peguei uma nova com uma coroa modinha e onze velocidades, grupo completo Sram x1. Depois de 27 anos usando Shimano, fiquei com saudade da... Shimano hahahahahah

Ou é só você que ficou velho...   ;)
FRM: contra argumentos, não há fatos !!!