Acabei de ler a tese de doutorado agora. Eis um post que lancei no Instagram
No final do século XVIII, o mercado foi inundado por milhares de relógios que supostamente haviam sido fabricados na Inglaterra, mas ostentavam características holandesas. Na época, Londres era o mais prestigioso local para fabricação de relógios, lar de inúmeros e revolucionários horologistas, como George Graham, John Harrison, Thomas Tompion, Emery e outros. E ostentar Londres como local de origem era sinônimo de prestígio e qualidade… Os relógios britânicos, no entanto, fabricados em pequenas oficinas de maneira totalmente artesanal, só eram acessíveis a poucos. As tais “falsificações holandesas”, relógios que falsamente ostentavam Londres como cidade de origem, mas tinham sido construídos em outro local, certamente contribuíram para a gradual derrocada da indústria britânica de relógios, que nunca se recuperou…
Meu primeiro contato com Rebecca Struthers, para além dos relógios fabricados por ela em Birmingham, ocorreu ao assistir a uma palestra divulgada pela Horological Society of New York, na qual sua tese de doutorado foi exposta. Através de verificação criteriosa de 30 exemplares existentes no British Museum, Sruthers conseguiu determinar os locais de manufatura das “falsificações holandesas”. Segundo concluiu, a torrente de relógios de baixa qualidade que se alastraram pelo mercado da época foram produzidos nas regiões suíças que fazem fronteira com a França, muito embora sob encomenda de mercadores holandeses. Apesar de os relógios serem majoritariamente mal feitos e constarem dos rodapés de livros de História, Struthers propôs um novo olhar: tais falsificações representam a gênese da produção em massa de relógios e sua acessibilidade a uma camada infinitamente maior da população. Sim, a indústria suíça de relógios que hoje fabrica objetos de desejo para endinheirados surgiu nas falsificações…
A tese de doutorado, que acabei de ler agora, com belíssimas fotografias, pode ser gratuitamente acessada no site da Universidade de Birmingham.
http://www.open-access.bcu.ac.uk/9554/
