Por convenção

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Offline solano

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Por convenção
« Online: 31 Dezembro 2010 às 20:50:26 »
Por convenção

 Espero no último dia do ano que ele se desfaleça, este que me carregou nas folhas do calendário, me ensinou a contar o tempo, me tatuou em compromissos, datas, aniversários e separou o dia da noite, o ano. Nome: 2010, idade 365 dias, causa mortis falência múltipla de órgãos, tadinho. Ele foi bom comigo, nessa convenção humana de contar o tempo, me ajudou trazendo as emoções das estações, desde a amostra grátis do inferno no verão carioca ao calor interno de meu peito aquecido no inverno ameno. Bom camarada, ás vezes brincalhão e chato, perigoso, sempre me falando da minha idade, me confessando que a velhice dói, que o prazer sempre é volátil, figura direta, conversa franca, sério em agendas e piadista nos esquecimentos. Meu aniversário de casamento... Quase cai na pegadinha dele, ano safado! Escorregadio, passou rápido, enguia gosmenta na minha mão de pescador amador. Passou flecha, raio, janeiro pulando para março, abril se fazendo de junho, julho calmo, agosto nervoso e sinistro, sacanagem: Setembro nem senti... Outubro maroto e desemboca em dezembro, agora aqui caindo nos meus braços, esse velho traquina, fraco e triste, olha prá mim e suplica um último gole de álcool, pedido moribundo. Abro seus lábios ressecados e molho na fria champanhe, ele sorri e já ouço o seu sucessor já gritando de fome na sala ao lado. Morre o velho e nasce o novo, na brincadeira de contar o tempo e de viver a vida na convenção das folhas em múltiplos calendários, que chato sou que não acredito em convenções e prefiro brindar a vida todo o dias, ao sol nascente, sem champanhe, o velho e menino, só na água que rega a flor, só no calor da brisa e no cantarolar dos pássaros que fazem seu calendário em gravetos, seus ninhos.
 Desejo a ti um bom dia, uma boa hora, um adorável e saboroso minuto, do agora e sempre hoje! Adeus 2010, que venha o 2011, esse vinte seguido de 2 magricelas, que eu seja mais cuidadoso com ele e menos preocupado com o pai dele: O tempo.

 Roberto Solano
" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana

Re: Por convenção
« Resposta #1 Online: 01 Janeiro 2011 às 11:37:25 »
Excelente, Solano, excelente!

Poético,  hein?!
Amplexos do Mário

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Offline solano

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Re: Por convenção
« Resposta #2 Online: 01 Janeiro 2011 às 11:42:03 »
Excelente, Solano, excelente!

Poético,  hein?!



 Obrigado amigo ! ;)

 Abs,
" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana